A cidade de Veneza, destino italiano que tem fascinado turistas há séculos, pode ser adicionada neste mês à lista de Patrimônio Mundial da Unesco em perigo.
Um comitê de 21 membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura tomará essa decisão em uma reunião até o dia 25 em Riad, na Arábia Saudita. O encontro planeja revisar mais de 200 locais e determinar quais deles devem ser adicionados à lista de ameaçados.
O estado de 1.157 Patrimônios Mundiais – considerados de “valor universal excepcional” – é revisado regularmente. 55 deles estão atualmente classificados como “em perigo”, entre eles o centro histórico de Viena, três florestas tropicais na ilha de Sumatra, na Indonésia, e a Cidade Velha e as muralhas de Jerusalém.
Veja as principais ações dos países da Europa contra o “overtourism”
Mas por que Veneza está em risco? No início do verão europeu de 2023, especialistas da agência das Nações Unidas divulgaram um documento propondo a inclusão de Veneza e sua laguna na lista. O documento afirmava que a cidade não havia feito progressos suficientes para evitar danos causados pelo turismo em massa, mudanças climáticas e projetos de desenvolvimento.
Essa é a segunda vez, em poucos anos, que a cidade italiana é ameaçada pela lista. Em 2021, ela quase foi adicionada ao grupo de risco, mas a Unesco optou por não fazê-lo após o destino proibir a entrada de grandes navios de cruzeiro.
Leia também:
Chega de turistas: destinos da Europa impõem proibições, multas e impostos
12 destinos na Europa que te pagam (muito) para morar lá
Quais são as cidades mais lotadas de turistas da Europa – e como fugir delas
Mas a situação, com o retorno do turismo pós-pandemia, continua crítica. Segundo o “The Guardian”, existem mais leitos para turistas do que residentes em Veneza: são 49.693 camas (entre hotéis e casas alugadas), contra 49.304 habitantes locais – a primeira vez na história que o número de moradores da cidade cai abaixo de 50 mil.
Em média, 40 mil excursionistas chegam ao destino nos dias de pico. Veneza está tão sobrecarregada pelo número de visitantes que introduzirá uma taxa de entrada de € 5 no próximo ano, com a intenção de administrar o fluxo de turistas atraídos por seus canais históricos.
A taxa será aplicada em caráter experimental por 30 dias em 2024, concentrando-se principalmente nos feriados da primavera e nos finais de semana do verão europeu, quando o número de turistas atinge seu pico. Todos os visitantes com mais de 14 anos de idade terão que pagar.
O objetivo é encontrar “um novo equilíbrio entre os direitos daqueles que vivem, estudam ou trabalham em Veneza e aqueles que visitam a cidade”, disse a conselheira de Turismo, Simone Venturini. Segundo ela, não se trata de uma medida para ganhar dinheiro, mas de cobrir os custos de administração.
Overtourism na Itália
A Itália, que desde 2021 proíbe grandes cruzeiros nas águas de Veneza, também impôs medidas em Roma para restringir o acesso à Fontana di Trevi e à Escadaria Espanhola. Também começou a cobrar taxas de entrada para visitar o Panteão, na tentativa de controlar as multidões e proteger a famosa maravilha arquitetônica.
Desde junho, a cidade de Florença proibiu novos aluguéis de curta duração em imóveis privados no centro histórico, que é um Patrimônio Mundial da Unesco.
Em Portofino, uma das mais charmosas cidades litorâneas da Riviera Italiana, o governo local introduziu legislação para que turistas não demorem ao tirar selfies nos pontos mais fotogênicos. As multas chegam a € 275 (R$ 1400).
O prefeito de Portofino, Matteo Viacava, disse que “o ‘caos anárquico’ foi criado por turistas parando para tirar fotos e resultou em enormes engarrafamentos e ruas bloqueadas”.
Conforme publicado no “The Guardian”, essas medidas estão entre as últimas de uma série de decisões draconianas adotadas pelos governos do país para lidar com as multidões de turistas: multas de até € 2.500 (R$ 13 mil) por caminhar pelas trilhas acima das Cinque Terre de chinelos ou sandálias; proibições de comer lanches ao ar livre no centro de Veneza ou em quatro ruas centrais de Florença; ou uma multa de € 250 (R$ 1.300) apenas por sentar-se nas Escadarias Espanholas de Roma.
Uma praia em Eraclea, na região de Vêneto, proibiu a construção de castelos de areia — multa máxima de € 250 —, porque são considerados obstruções desnecessárias.
Veja na galeria abaixo as principais ações dos países da Europa contra o “overtourism”:
O post Veneza pode entrar para lista de Patrimônios Mundiais em perigo apareceu primeiro em Forbes Brasil.