Setembro recém começou e quem mora no hemisfério sul já começa a se preparar para o fim do inverno e a chegada da primavera. É certo que a estação mais gelada do ano não registrou muito frio em 2023 – notícias dão conta de que foi o inverno mais quente em mais de 60 anos. Mas, mesmo assim, a perspectiva de mudança para um período mais colorido e caloroso já anima muita gente. E o mesmo vale para as startups.
No caso destas empresas, que se destacam pelo potencial de escalamento dos negócios, o inverno foi bem mais longo do que três meses e até bastante rigoroso. Enquanto 2021 foi um ano de crescimento exponencial, onde surgiam dois unicórnios por dia – graças aos aportes de Venture Capital -, 2022 foi marcado por uma desaceleração, até alcançar, em julho de 2023, o menor número de empresas que atingiram US$ 1 bilhão em valor de mercado: caiu para duas por mês, de acordo com o Crunchbase Unicorn Board.
Outro sintoma do inverno das startups foi o crescimento dos layoffs – as demissões em massa – nas empresas de tecnologia. No ano passado, 1060 companhias foram afetadas e quase 165 mil pessoas desligadas dos empregos. Em 2023, essa tendência seguiu forte e, faltando quatro meses para terminar o ano, já temos um número maior de trabalhadores demitidos, segundo a plataforma layoffs.fyi: 233.442, em 985 organizações.
O início da primavera
Mas assim como a inclinação da Terra permite que tenhamos alternância de estações durante o ano, nos negócios, o inverno também vai passar. E, finalmente, o mês de agosto trouxe boas perspectivas para o setor. Uma das grandes transações realizadas foi a rodada de financiamento da plataforma de benefícios corporativos para saúde e bem-estar Gympass, no valor de US$85 milhões (quase R$420 milhões).
No último mês, diferentes negociações foram realizadas, trazendo mais esperança para a chegada da primavera. Começando por uma investida minha! A plataforma de recrutamento GeekHunter foi comprada pela americana Howdy.com – o objetivo da holding é expandir as operações e reforçar a presença na América Latina. A venda me permitiu realizar o 6º exit total – de nove, considerando os parciais – e comemorar uma nova fase de sucesso, em que a startup prevê alcançar receita de R$175 milhões em 2024.
E também houve rodada de captação de recursos para fintechs; startups de geração de crédito de carbono que receberam aportes de mais de US$35 milhões para fundos de reflorestamento; plataforma de saúde que conseguiu investimento para expandir a carteira de clientes; AgTech que conquistou financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); e aporte milionário para uma plataforma de inteligência artificial. Veja, todos os negócios que mencionei nesse parágrafo, aconteceram em apenas um dia!
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E falando em Inteligência Artificial, é justamente ela que surge como protagonista de um momento mais otimista no ecossistema de inovação global. No primeiro trimestre deste ano, startups que apostaram em IA generativa receberam US$10,7 bilhões em aportes. Valor 13 vezes maior do que o investido no mesmo período do ano passado, de acordo com o PitchBook.
Não penso que, tão cedo, voltaremos a ter um verão de praia, sol e mar, como foi o início desta década, já que o baque causado pelos últimos meses mudou, também, o perfil das empresas que os investidores de risco buscam: mais estáveis, com fundadores experientes e domínio da contabilidade.
Ainda é cedo para determinar o fim do inverno das startups. Diferente do inverno nos hemisférios, ele não é marcado por uma data no calendário. Mas, sem dúvidas, podemos sentir os bons ventos da primavera soprando para as startups.
Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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