Se a moeda faz parte do modo como nos organizamos enquanto sociedade, os meios de pagamento guiam a forma como consumimos. Contam os historiadores que, quando a humanidade se estabeleceu em sociedades não-nômades, começamos a desenvolver sistemas de trocas eficientes para essa nova organização.
O escambo ditou as relações comerciais por muito tempo, mas, como Yuval Harari descreve em “Sapiens, uma breve história da humanidade”, a modalidade perdeu espaço por não funcionar em grande escala. A criação das moedas foi responsável por facilitar as transações comerciais e criar uma economia complexa. E foi além: ao confiarmos no lastro dessa moeda universal e globalizarmos nossas relações comerciais, evoluímos para tornar o dinheiro praticamente invisível aos nossos olhos, um feito que só foi possível a partir de um terreno fértil de transformação dos meios de pagamentos.
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Desde que o dinheiro se tornou digital, temos muito menos papel moeda de real circulando do que o montante total do Banco Central. De acordo com dados da instituição, dos mais de 10 trilhões de reais existentes hoje, apenas R$ 338 bilhões coexistem em dinheiro físico. Invertendo a ótica, também significa que mais de 3,38% de todo o dinheiro brasileiro existe apenas virtualmente.
E assim acontece com as nossas transações do dia a dia. De acordo com a ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), as transações realizadas por meios digitais movimentaram R$ 3,3 trilhões em 2022, sem qualquer troca de dinheiro físico e, para 2023, a expectativa é que ultrapasse R$ 3,6 tri.
E se antes a mera ideia de dinheiro digital poderia parecer uma loucura, hoje a maioria das transações acontece sem nem mesmo qualquer tipo de contato. Somente no último ano, o uso dos meios eletrônicos de pagamento pela internet e outros canais remotos, como aplicativos e carteiras digitais, cresceu 22,8% em 2022, movimentando R$ 700 bilhões ao longo ano – mais que o dobro se compararmos com 2019.
Quando olhamos para a história, entendemos que a inovação trazida para a realidade do consumidor pelos meios de pagamento sempre caminhou ao lado das necessidades de cada época. Novas modalidades de pagamento permitem que o mundo experimente outras formas de consumir.
A verdade é que só é possível viver em uma sociedade digital e hiperconectada porque a inovação em meios de pagamento acompanhou a transformação social. E uma não poderia existir sem a outra.
O pagamento à distância é a ferramenta que viabilizou (e viabiliza) outras disrupções para uma sociedade que preza por comodidade e inovação. Afinal, como poderíamos ter os famosos serviços de streaming se não pudéssemos pagar a assinatura à distância? E como teríamos criado lojas virtuais se tivéssemos que ir até um ponto físico pagar pela compra?
Ainda que existisse vontade, de nada adiantaria se as ideias não fossem acompanhadas de um arcabouço tecnológico robusto o suficiente não apenas para fazer a transação acontecer, mas para garantir que cada uma delas seja segura, confiável e, ainda assim, simples.
Há 20 anos, quando comecei a trabalhar na indústria de meios de pagamentos, o uso de chips nos cartões era de fato uma grande inovação no setor. Hoje, tornou-se “commodity”. O meu dia a dia envolve tecnologias impensáveis há duas décadas, como cartões digitais, tokenização de dados, biometria facial e análise de dados de comportamento. Tudo isso para oferecer opções para o consumidor e garantir que é realmente ele quem está realizando uma compra online.
A curva de inovação que vivemos nos últimos anos é surpreendente. Os avanços dos meios de pagamentos, e seu papel como infraestrutura vital para uma sociedade conectada continuarão tornando possível a digitalização da economia e o acesso da população a serviços financeiros cada vez mais instintivos e protegidos. Sem dúvida, não pararemos nos modelos de pagamentos que conhecemos hoje.
Esse tipo de inovação dá apoio para sermos quem quisermos enquanto sociedade. A pergunta que quero deixar, então, é: qual será o nosso próximo grande passo? Independentemente do que for, posso garantir que será inovador, e eu quero pagar para ver.
* Marcelo Tangioni é presidente da Mastercard Brasil. Possui extensa experiência na indústria de meios de pagamentos e tecnologia no Brasil e na América Latina. É graduado e especializado em marketing, com MBA em finanças. É apaixonado por inovação, futebol e música.
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