“Vi minha carreira acelerar 10 anos nos últimos 4”, diz sócia e diretora da MAP

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“Não consigo deixar de ser mulher preta para ser executiva”, diz Deh Bastos, que na MAP cuida da carreira de grandes artistas, como Anitta

Deh Bastos é uma daquelas profissionais que está em todos os lugares. Fez uma carreira em publicidade, criou uma plataforma antirracista, entrou para o Conselhão da presidência e tem um grupo de networking de mulheres pretas em posições de liderança. Em agosto, deixou a agência Publicis para ir para a MAP, onde é sócia e diretora executiva de criação, e ajuda a cuidar da carreira de artistas como Anitta, Regina Casé e Silva. “Quando entendi que poderia fazer pontes entre o lugar de onde vim e o mercado ou pessoas que vivem outras realidades, foi um turning point na minha carreira.”

Esse “de onde vim” tem a ver com ser uma mulher preta e ter vivido realidades diferentes de boa parte das pessoas que ocupam cadeiras como a sua, mas, ao mesmo tempo, abre portas para dialogar com a diversidade que o mercado busca hoje. “Vi minha carreira acelerar 10 anos nos últimos 4 porque o mercado percebeu que a diversidade é importante.”

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Bastos ainda é fundadora da plataforma Criando Crianças Pretas, que difunde informação antirracista para cuidadores e sociedade, e desde março deste ano passou a fazer parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável do governo federal, o tal Conselhão, que reúne nomes importantes do mercado para opinar sobre políticas públicas. 

Aqui, ela conta um pouco mais sobre o que é importante em sua área de atuação e o que faz diferença na carreira hoje.

Forbes: Quais habilidades foram mais importantes para desenvolver no começo da sua carreira que tiveram papel fundamental para sua ascensão?

Deh Bastos: Sem dúvida nenhuma, saber aonde eu queria chegar. Não necessariamente qual o cargo que eu queria ter, mas o que eu queria fazer. Era muito importante saber em que núcleo profissional eu queria estar, que tipo de trabalho eu queria produzir para o mundo. Isso eu sempre soube. E construir uma estratégia periférica para isso.

Ou seja, se eu queria algo para dali 10 anos, o que que eu poderia fazer naquele momento que iria colaborar para essa essa chegada? Então eu fui fazendo pelas bordas, pela periferia, até chegar no núcleo. Eu sempre quis trabalhar com publicidade, com criação. Então eu fui fazendo produção audiovisual, de produção passei a fazer roteiro, de roteiro passei para redação e de redação passei a fazer conteúdo. Daí  cheguei à criação, que é onde eu queria estar. Foi uma estratégia que ajudou muito.

F: O que é importante na área de comunicação hoje?

DB: Acho que é não ter a certeza absoluta das coisas. A gente vive tempos muito polarizados, de informações muito rasas, muito superficiais. Ao mesmo tempo que a internet traz democratização da informação, trouxe acesso muito fácil à informação. E a gente perdeu aquela busca de algo mais profundo, ficou tudo muito raso. As pessoas acham que sabem tudo, mas é de uma forma muito superficial. Então, se você quer trabalhar na área da comunicação, não cultive certezas absolutas.

F: Qual é a importância da escuta nesse cenário?

DB: Enorme. É importante você ouvir tudo, ouvir todo mundo. E não ter muita certeza do que vai vir, nem achar que sabe o que o outro quer ouvir quando se trata de comunicação. Isso é o que chamo de fazer o básico. A escuta faz parte do básico bem feito. E isso é importante hoje porque as pessoas se perdem na complexidade do mundo e esquecem do basicão.

F: Falando em fazer o básico, o que você busca ao contratar um profissional?

DB: De novo, a gente vive um um tempo de excesso, né? É tanta coisa, tanta gente, tanta informação que as pessoas não sabem o que fazer, não sabem o que entregar. Então eu espero gente comprometida com o básico. Se o profissional está comprometido em fazer bem esse básico, é capaz de qualquer outro tipo de entrega. Aí pode partir para entregas mais criativas, entregas propositivas… O óbvio é o mais difícil. O básico é o mais difícil.

F: O que você faz para continuar relevante?

DB: É difícil falar isso sem parecer prepotente, né? Eu não sei se eu sou relevante. Eu sei que eu estou muito atenta para diálogos. Eu acho que tudo é fluido. Não tenho nenhum problema em falar das minhas vulnerabilidades, de dizer que estou com medo, de dizer que eu não tenho certeza, que estou aprendendo e de provocar as pessoas para pensar fora do senso comum. 

Outra coisa é que tento sempre olhar para uma maneira simples de fazer. Eu tento tirar a complexidade das coisas e das relações para produzir de uma forma mais simples e objetiva. Faço um constante esforço para manter a simplicidade e acho que isso contribui para ser relevante hoje.

F: Qual foi o impacto de ser uma mulher preta na sua trajetória profissional?

DB: Muito grande. Essas interseccionalidades interferem diretamente na minha carreira. Primeiro, pela dificuldade de acesso. Tudo foi muito mais difícil: a educação, as oportunidades. Então tudo demorou muito mais. A visibilidade veio com muito mais esforço, chegou muito depois do que para para muita gente que estava acima de mim nessa pirâmide social. Ao mesmo tempo, nos últimos cinco anos virou uma necessidade do mercado. Aí eu pude acelerar e aproveitar esse tempo. Em três, quatro anos, vivi dez.

Foi difícil de administrar essa correria, mas, ao mesmo tempo, me ensinou muita coisa. E eu não consigo deixar de ser uma mulher preta para ser uma executiva. Então essas coisas atravessam o meu trabalho, atravessam o que eu crio, atravessam o que a minha caneta assina, né? 

E, ao mesmo tempo, eu preciso fazer isso ponderando sobre o lugar onde estou, onde atuo, o mercado, os resultados, as pessoas com quem eu me relaciono. É um grande  equilíbrio de pratinhos para que essas vozes sejam ouvidas. Essas vozes das mulheres, das pessoas pretas. Há conversas importantes acontecendo e, ao mesmo tempo, tem muita coisa para eu aprender também.

F: Qual o principal turning point da sua carreira?

DB: Parece clichê, mas é muito real. O turning point foi quando eu descobri que podia ser ponte em vez de ser um muro. Quando eu descobri que, do lugar de onde venho para o lugar aonde quero ir, existe um abismo muito grande. E foi aí que comecei a circular nos espaços onde eu queria estar. E, olhando para trás, descobri que tem muita gente como eu que também queria estar nesse espaço. Percebi que podia pisar nesse chão e possibilitar que essas pessoas, que estavam do outro lado dessa ponte, conversassem comigo, pudessem ver possibilidades de lidar com as outras pessoas como eu, que vieram de onde eu vim.  Quando eu descobri que eu podia ser a intermediária nessas conversas, traduzir assuntos complexos de uma forma simples, quando eu podia usar de verdade a comunicação para transformar as relações. Foi aí. Tenho uma grande amiga que diz que, entre salvar o mundo e ganhar dinheiro, a gente tem que ficar com as duas coisas. Sendo ponte, a gente pode salvar o mundo, a gente pode ganhar dinheiro, a gente pode fazer as coisas que a gente acredita.

Por quais empresas passou

MAP Brasil, Publicis, Theia, Grupo MKT+, Agência Mostra, Globo, Elevenmind, Supera Marketing Estratégico, Cinerama Brasilis, CDLRio – Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro, Liq.

Formação

Fiz metade da faculdade de turismo e depois me formei em comunicação social – publicidade e propaganda pela UNESA no Rio de Janeiro

Primeiro emprego

Extra oficial? Vendia pão na garupa da bicicleta de uma amiga quando eu tinha sete anos.
Oficial? Fui estagiária CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) como assistente de vendas do metrô de SP.

Primeiro cargo de liderança

Fui promovida supervisora do time que eu fazia parte na Contax em 2005.

Tempo de carreira

20 anos

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