Com mais de 120 milhões de usuários mensais no Brasil, de acordo com a Comscore, o YouTube ampliou sua estratégia de participação no entretenimento nacional. Isso envolve investimento em novos segmentos, parcerias de longo prazo com criadores e iniciativas que também consideram inteligência artificial. Patricia Muratori, diretora-geral da plataforma para a América Latina, revelou à Forbes Brasil alguns detalhes desses planos.
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No final de agosto, durante o YouTube Brandcast Brasil, principal evento da plataforma no país, Patricia já havia destacado o impacto da empresa por aqui, com R$ 4,5 bilhões de contribuição ao PIB (Produto Interno Bruto). Neste momento, além das discussões sobre negócios e estratégias locais, globalmente o YouTube lida com a concorrência de outras plataformas, como o TikTok e Instagram, que nos últimos anos popularizaram os vídeos curtos. Reportagem do “Financial Times”, publicada no último fim de semana, destacou inclusive que o Shorts, alternativa de vídeos curtos do YouTube, poderia prejudicar o “core” da plataforma, que sempre foram os vídeos longos – ou ao menos não tão curtos assim.
Sobre esse tema, Patricia é taxativa ao reforçar que, independentemente do formato, o objetivo é ser relevante no dia a dia dos usuários. “Nossa briga é pela atenção qualificada das pessoas. Não importa se é um vídeo de 15 segundos ou uma live de 15 horas, o que importa é a comunicação assertiva com o público. Inclusive, é importante que o mundo digital seja provocado por novidades”, afirma. Ela também fala sobre os esforços com privacidade e segurança dos usuários, além de perspectivas sobre o futuro da produção de conteúdo na seguinte entrevista:
Forbes Brasil — Em termos de negócios, qual é o momento do YouTube no Brasil?
Patricia Muratori — Com os dados apresentados recentemente, podemos dizer que estamos em um bom momento. No Brasil, temos o relatório de impacto, feito em parceria com a Oxford Economics, que materializa o impacto do YouTube. Estamos no mercado há mais de 18 anos em uma evolução constante, de uma plataforma de vídeos para se transformar em uma rede de economia criativa. E falando mais sobre os dados, temos a constatação de que o YouTube foi responsável por gerar o equivalente a 140 mil empregos e contribuiu para o PIB com mais de R$ 4,5 bilhões em 2022. Além disso, quatro em cada dez criadores dizem que o YouTube é a sua principal fonte de receita. Nós trazemos 10 tipos de monetização porque entendemos que qualquer negócio, para ser sustentável, precisa de uma diversificação de receita.
FB — Qual o contexto em relação aos vídeos curtos, em especial o Shorts?
Patricia — Quando a gente olha para trás, desde o início do cinema, depois a descentralização das produções e agora com o público querendo escolher o que assiste e a hora que assiste, nós vemos como o comportamento do consumidor muda e como as empresas precisam se adequar. Então, o YouTube está sempre observando as tendências para construir a plataforma do futuro. E nós realmente acreditamos que o formato e a duração não são o ponto primordial. As histórias, as narrativas, o criador é o essencial, esse é o nosso maior ativo. O YouTube é o lugar onde as pessoas se conectam e se aprofundam. Nossa briga é pela atenção qualificada das pessoas. Não importa se é um vídeo de 15 segundos ou uma live de 15 horas, o que importa é se comunicar de maneira assertiva com o público. Mas é importante que o mundo digital seja provocado por novidades.
FB — Qual é o posicionamento da empresa em relação à Lei Geral de Proteção de Dados?
Patricia — O Google, como companhia, está absolutamente alinhado com a LGPD. Inclusive, quando a gente fala de dados no YouTube, temos que pensar por esse ângulo. Nós sabemos que existem muitas conversas importantes acontecendo sobre o assunto e nós entendemos que nossa participação é essencial. Precisamos debater e entender o que é necessário para construir uma regulamentação positiva para todos.
FB — São 500 horas de vídeos adicionadas por minuto. O YouTube aumentou o investimento em tecnologia para ajudar na administração dessa demanda?
Patricia — Nós investimos em inteligência de máquina há muitos anos. Precisamos dessa tecnologia para auxiliar com as recomendações, com a segurança do usuário, no combate à desinformação, nas políticas e diretrizes da comunidade. Pensamos sempre na combinação de revisores humanos para atuar no treinamento dessas inteligências, que por sua vez atuarão em larga escala. E também temos uma questão criativa. Estamos desenvolvendo uma ferramenta de dublagem por inteligência artificial para que criadores brasileiros, por exemplo, possam distribuir o conteúdo para diversos outros países e públicos.
FB — Como é a relação com os produtores de conteúdo?
Patricia — A gente sente um baita orgulho do desenvolvimento do nosso ecossistema de criadores. Nós damos todas as ferramentas para que eles se insiram em diversos formatos e meios. A nossa missão, além de dar a voz a todos e de mostrar o mundo a todos, é ajudar os produtores de conteúdo a transformarem os seus canais em negócio. Nós temos creators que vêm de todos os lugares, até das mídias tradicionais, como o Galvão Bueno que estreou neste ano. E nós também damos oportunidades para muitas pessoas que perderam seus empregos, estão buscando novas fontes de renda ou se reinventar. A Rafaela Xavier é um grande exemplo. Ela é uma trancista que começou ensinando as mulheres a trabalhar com tranças. Hoje, ela transformou isso em um trabalho. Eu falo que ela não tem 50 mil inscritos: ela tem 50 mil trancistas. O que o criador produz é também pode ser um negócio.
FB — Existe um perfil de usuário ou criador?
Patricia — Todas as intersecções que nós temos são muito importantes, porque elas conectam diferentes públicos e diferentes interesses. O conteúdo não tem idade, nem gênero, nem vivências, nem carreira. O que realmente interessa é a história e a relevância. Um dos grandes nomes que nós temos para exemplificar isso é o Dr. Drauzio Varella, que é um grande criador dentro da plataforma e que inspira várias gerações.
FB — Como será o futuro da criação de conteúdo?
Patricia — Quando olhamos para esse momento do multiformato, ele já é uma novidade. Eu não apostaria em uma coisa ou outra porque no YouTube tudo é possível, até mesmo uma Copa do Mundo de Balão. Mas existem tantas áreas crescendo, como os podcasts e os esportes. E se pensar, tudo isso é fruto de uma construção em conjunto com os criadores.
O post “A briga é pela atenção, não importa o formato”, diz head do YouTube no Brasil apareceu primeiro em Forbes Brasil.