No processo interno para assumir a posição que ocupa hoje, Joana Adissi, diretora-geral de vacinas da Sanofi, imaginou que sua falta de experiência no mercado público seria um impeditivo para a promoção. Mas se surpreendeu com a quantidade de pessoas que a indicaram para o responsável pela decisão. “Ele já tinha decidido que ia ser eu só pelas indicações, não pela minha experiência. Esse é o poder do networking”, diz ela, que com mais de 20 anos de carreira, percebeu a importância do assunto só mais recentemente.
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Mas não foi apenas a força da sua rede que levou Joana ao cargo. A executiva já tinha um amplo histórico de resultados, transitando por diferentes cargos em quase oito anos na farmacêutica. “Eu comprovo que entrego, que tenho agilidade de aprendizado e posso mover de unidade de negócio e me adaptar rápido.”
Em 2016, liderou o processo de aquisição do portfólio da alemã Boehringer Ingelheim no Brasil. “Fomos reconhecidos globalmente como um dos países que melhor fizeram essa virada, o que me deu muita visibilidade internamente”, diz ela, que em menos de dois anos assumiu como head da Medley, portfólio de genéricos da empresa, sem nem passar por processo seletivo. “Meu chefe me comunicou numa segunda e na quarta já estavam me anunciando.”
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Durante dois anos à frente da Medley, liderou um crescimento de 90% na unidade de negócios. “Fizemos revisão de portfólio, nova comunicação linkando a marca com saúde mental, trazendo a mulher para o centro e trouxemos resultados impactantes que foram me levando para essa posição.”
Perfil de transformação e inovação
Joana é a primeira mulher brasileira à frente da unidade de vacinas e alia resultados e inovação à transformação que tem buscado promover no mundo corporativo e na liderança. “Quero humanizar o corporativo através da liderança feminina, mas de uma liderança desperta”, ou seja, que reconhece as dificuldades de galgar posições sendo mulher.
À frente de um time de mais de 70 pessoas, lançou este ano a primeira vacina de alta dose quadrivalente contra gripe, imunizante recentemente aprovado pela FDA, agência federal dos EUA, e que ainda está em fase de análise pela Anvisa. “Queria muito trabalhar com prevenção em vez de doença. Depois da água, a vacina é o mais impactante para a saúde pública”, diz Joana, que se destacou por seu perfil de transformação e agilidade muito requisitados depois da pandemia.
Virada aos 40
Hoje com 45 anos, Joana chegou aos 40 se questionando sobre o legado que deixaria. Pensou em abandonar o mundo corporativo, onde construiu sua carreira, sempre em em multinacionais: Diageo, Unilever, Reckitt Benckiser e, nos últimos nove anos, Sanofi, e embarcar no 3º setor. “Até que uma pessoa me disse: ‘Você quer impactar a sociedade? Pois você não saia do corporativo e cresça cada vez mais.”
Desde então, tem sido fiel ao objetivo de humanizar esse espaço e a liderança. “Pisciana esotérica”, como se define, não hesita em chorar na frente do time ou mesmo do chefe, em dizer “não sei” do alto do seu cargo de direção e em ir embora de uma convenção de vendas se não está se sentindo bem para socializar. “Sempre investi muito em autoconhecimento, faço terapia há mais de 15 anos e, se sinto a energia baixa, vou para um retiro ou acendo meus incensos e amanhã já estou bem”, diz ela, reconhecendo que nem todo mundo consegue cair e levantar tão rápido.
Os dois lados da liderança
Mas a executiva nem sempre teve essa clareza. Depois de voltar da licença-maternidade do seu segundo filho, hoje com 10 anos, percebeu que estava amamentando enquanto pensava na lista de tarefas que precisava concluir. “Eu não estava vivendo de verdade, estava num ‘modo task’ [modo tarefas]”.
Mais do que isso, sem nem se dar conta, havia criado uma personagem mais dura para se encaixar em um ambiente onde as decisões não eram tomadas por pessoas como ela. “Mas fazer isso é alimentar o sistema que a gente fala tanto em desconstruir”, afirma Joana, que hoje é sponsor de gênero na Sanofi, mentora de executivas e envolvida em grupos de mulheres. Nos últimos três anos, as mulheres representaram 54% das contratações na Sanofi, 53% para posições de liderança. “Quero que elas não demorem tanto tempo para descobrir que esse endurecimento prejudica a gente e nos distancia da nossa essência.”
Uma liderança empática e orientada a resultados, segundo ela, andam juntas. “É necessário que você tenha as duas coisas: o perfil vulnerável e que trabalha bem em equipe e o lado mais pragmático, racional, de entrega de resultado.”
A jornada de Joana Adissi, diretora-geral de vacinas da Sanofi
Primeiro cargo de liderança
Gerente de marketing na Reckitt Benckiser
Turning point da carreira
“Acho que quando eu assumi um papel de ‘grouper’, quando você tem um time maior, com gerentes embaixo. E acho que o outro ponto que hoje eu enxergo como a melhor coisa que eu poderia ter feito foi ter passado pelo trade marketing, depois pelo marketing, inovação e no final eu tenho essa combinação de oito anos nessas três áreas, o que ampliou muito o meu repertório. Acho que isso me ajudou muito na minha carreira.”
Quem me ajudou
“Um monte de gente. Tive chefes maravilhosos, recebi feedbacks que fizeram eu me mover muito. Meu marido me ajuda demais porque eu também não conseguiria fazer tudo o que eu faço se não tivesse ele me apoiando e assumindo um monte de coisas da casa e das crianças. Meus pais, que sempre me apoiaram, meu terapeuta, que eu amo. Acho que minha vida não é nada sozinha, eu dependo de um monte de gente e tenho muita gente me ajudando.”
O que ainda quero fazer
“Ainda quero fazer muita coisa. Quero mobilizar, quero ver esse caminhar de 50% de mulher na liderança, trazer a mulher para a liderança desperta. Porque uma mulher na liderança que não enxerga as barreiras para ter chegado ali não vai mobilizar a transformação que a gente precisa. Ela precisa estar desperta. Então o meu papel maior é: como eu trago a mulher para a liderança, mas como eu trago ela desperta? Como eu ajudo ela a não chegar ali cega, achando que foi fácil. E eu penso muito no impacto maior, não só dentro do lugar que eu estou, mas em como levar para fora.”
Causas que abraço
“Humanizar o mundo corporativo através da liderança feminina, mas dessa liderança desperta. Então como eu trago mais mulheres para cá facilitando a vida delas, cortando caminhos para que elas não demorarem tanto tempo como eu para chegar a algumas conclusões. E quero falar em nome delas se estiver numa decisão e ser sponsor de alguém assim como vários foram para mim.”
Formação
Administração – ESPM
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