“Alimento x Tecnologia e Ciência” foi o centro, neste ano, de um dos principais eventos que ocorrem no Japão desde 2017. O SKS Japan, versão japonesa da cúpula global de tecnologia alimentar “SKS”, fundada nos Estados Unidos, aconteceu no final de julho e trouxe para a mesa visões futuras dos alimentos em todas as indústrias. O evento tornou-se um ponto de encontro para inovadores alimentares de todo o mundo, não apenas nos Estados Unidos, mas também da Europa, Ásia, Médio Oriente e América do Sul.
No setor de foodtechs, o Japão oferece lições valiosas sobre alimentos “azuis” (aquáticos), uma indústria alimentícia que celebra uma cultura centenária ao mesmo tempo em que impulsiona P&D e manufatura de ponta.
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Juntamente com os agentes de mudança em todo o mundo, as empresas, os inovadores e os investidores japoneses também estão embarcando nas imensas possibilidades que a tecnologia alimentar oferece – não apenas para novos produtos do ponto de vista do sabor e aroma, mas também para uma melhor nutrição e redução do impacto ambiental.
Confira algumas das conclusões da conferência:
Tendências de tecnologia alimentar
A inovação da tecnologia alimentar no Japão ecoa em outras partes do mundo. Tal como noutros lugares, as proteínas alternativas foram um tema importante – tanto o imperativo social e ambiental de produzir proteínas mais abundantes e de menor impacto, como as tendências comerciais de investimentos significativos dos investidores e o crescente interesse dos consumidores no sector.
A carne cultivada, em particular, continua a atrair muita atenção, especialmente dada a recente aprovação pelo governo dos EUA da carne cultivada para os consumidores (perdendo apenas para Singapura).
Novos produtos à base de plantas também estão prosperando no Japão e em toda a Ásia, como macarrão ramen à base de ervilha, embora uma mordida no sashimi de “atum” à base de plantas ainda tenha limitações nessa imitação. Mas os produtos fermentados, uma das superpotências do Japão, têm enormes possibilidades de expansão e replicação noutros mercados.
Outra tendência em foco é a nutrição personalizada. Por exemplo, como uma impressora 3D cria uma goma multicolorida em camadas, adaptada a um perfil nutricional específico. O Japão hospeda pesquisadores líderes sobre o microbioma intestinal dos humanos e produtos desenvolvidos para atender às necessidades nutricionais individuais.
O mundo vive uma revolução biológica sobre nutrição. Embora seja necessário cautela em relação aos exageros, aos efeitos não estudados e às desigualdades de acesso dos alimentos produzidos pela bioengenharia, há uma visão baseada na ciência que pode nos ajudar a abordar a segurança nutricional coletiva.
Tradição e valores alimentares
Nem toda inovação alimentar é de alta tecnologia. Isso porque boas ideias antigas podem ser redescobertas. É fato que as tendências que circulam em algumas partes do mundo são notícias antigas no Japão.
Reutilização? O Japão faz do vinagre um subproduto do saquê há gerações. Reduzir a perda e o desperdício de alimentos? Vários fabricantes integram todos os componentes das matérias-primas nos seus produtos… incluindo, como descreveu um painelista, “penas e ossos”. E proteínas vegetais? Ela pode ser resumida em uma palavra: tofu.
No Japão há um entusiasmo coletivo em evitar o desperdício de alimentos (inclusive em pequenas porções), no frescor (os onipresentes 7-Elevens têm sushi estranhamente bom) e na segurança alimentar. E embora existam alguns truques divertidos – como “servidor” de café da manhã ser um robô com cara de gato deslizando pela lanchonete – há reverência pelo hábil toque humano na elaboração e serviço da comida.
Empreendedorismo e construção de ecossistemas no setor de tecnologia alimentar do Japão
Um contraste interessante entre o Japão e outros hotspots de tecnologia alimentar é o ecossistema para o empreendedorismo. Durante o evento, profissionais experientes e novos empreendedores descreveram fatores que parecem restringir o empreendedorismo ao estilo de Silicon Valley, tais como os valores do Japão em torno da humildade e da excelência; a sua aversão ao “fracasso”; e suas estruturas corporativas hierárquicas relativamente tradicionais.
Um painelista chegou a lembrar da baixa posição do país no Global Entrepreneurship Monitor. A conferência abordou habilmente esta conversa sobre a construção de ecossistemas, extraindo conhecimentos da UE, da região MENA (Médio Oriente e Norte da África), de Singapura e dos EUA.
O fato é que eles precisam ser habilmente projetados e apoiados. Muitos participantes da conferência – e a própria SKS Japan – estão construindo um vibrante ecossistema de tecnologia alimentar no Japão. E, claro, existem muitos caminhos valiosos para a inovação, além do estilo americano que por vezes pode ser carregado de bravatas. No Japão, a receita parece ser aquela de tomar emprestado conhecimentos selecionados de outras regiões, reunindo capital e parceiros ponderados para nutrir o empreendedorismo local, mas mantendo ao mesmo tempo os valores locais e o melhor da cultura alimentar do Japão.
*Lorin Fries é colaboradora da Forbes EUA. Escreve sobre sistemas alimentares globais. Já colaborou com o Fórum Econômico Mundial, na Iniciativa de Responsabilidade Social Corporativa da Universidade de Harvard, na Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e na Save the Children em Uganda.
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