Com a sua empresa Better.com, o CEO Vishal Garg buscou oferecer uma solução fácil a uma geração de millennials que procurava comprar uma casa: empréstimos pré-aprovados em minutos. Lançado em meio à crescente demanda por hipotecas durante a pandemia de Covid-19, o argumento de venda rapidamente tornou a startup uma empresa lucrativa. Investidores como o SoftBank e o Goldman Sachs, que apostaram US$ 1,5 bilhão Better.com, pensaram que se tratava de um unicórnio do setor imobiliário, que galopava para uma abertura de capital com uma avaliação impressionante de US$ 7,7 bilhões.
Agora, com a demanda por hipotecas no nível mais baixo em mais de duas décadas, os tempos de glória da Better.com passaram. A empresa enfrenta uma diminuição das receitas e uma sangria de caixa, após uma investigação pela Securities and Exchange Commission (SEC), a CVM americana, e após a demissão de 7 mil funcionários nos últimos dois anos. Em um prospecto enviado à SEC em julho, a Better.com informou que sua empresa de auditoria tinha expressado dúvidas sobre a “capacidade da empresa de continuar em atividade”.
Esses desafios não impediram a Better.com de abrir o capital esta semana por meio de uma fusão com a Aurora Acquisition Corp., uma Special Purpose Acquisition Company, ou empresa de propósito especial para aquisição. As ações da Aurora, que valiam US$ 17,44 na quarta-feira (23), despencaram 94%, para US$ 1,15 na quinta-feira (24).
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Não foi exatamente algo inesperado. Alguns investidores responsabilizam Garg pela trajetória descendente da empresa. Ele tem sido causa de uma série de notícias negativas. Certa vez, ele ridicularizou os funcionários chamando-os de “golfinhos burros” em um e-mail para a equipe. Em dezembro de 2021, três semanas antes do Natal, ele demitiu 900 funcionários em uma ligação da Zoom, posteriormente criticando-os como “preguiçosos”. Pouco depois, o Daily Beast relatou que Garg descreveu um investidor como “esgoto” e presenteou um executivo que demitiu funcionários. O presente foi entregue publicamente no escritório – uma machadinha.
Uma análise do comportamento de Garg descobriu que ele “falhou em estabelecer um tom que apoiasse uma forte cultura de controles internos”, de acordo com um documento da SEC, observando que a empresa era agora “menos eficaz do que outras no setor na captura de clientes potenciais” devido ao desgaste na alta administração. “Todos parecem muito inteligentes quando os tempos estão bons, mas um CEO só é testado em momentos desafiadores”, diz um investidor da Better.com que pediu anonimato. “Não acho que Garg tenha navegado tão bem devido à arrogância dele.”
Outros investidores concordam. Um deles disse que ficou “consternado” com a conduta de Garg desde o ano passado. “Não temos apoiado ativamente a empresa desde [ele demitiu funcionários no Zoom]”, disse o investidor. “Não é um investimento que estou entusiasmado em fazer.”
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Jessica Shaefer, consultora externa de relações públicas da Better.com, afirmou em um comunicado que “tornar-se uma empresa pública posiciona a Better para o crescimento a longo prazo”. Shaefer não respondeu a perguntas sobre a liderança de Garg ou se a administração acreditava que a Better.com tinha futuro como empresa lucrativa.
A empresa indicou um dos investidores, Kamran Ansari, para conversar com a Forbes. Ele disse acreditar que Garg era a melhor pessoa para liderar a empresa. “Vishal não tolera tolos”, diz ele, “nem a cultura de mimar a geração Y, permitindo semanas de trabalho de três dias e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.” Ansari, um ex-executivo do Pinterest afirmou que investiu “seis dígitos” na empresa em 2019. “Se a empresa fechasse amanhã e [Garg] lançasse a Better 2.0, eu apostaria nele em um segundo.”
O SoftBank não quis comentar. O Goldman Sachs não respondeu a um pedido de comentário.
Garg sempre afirmou que lançou a Better com o dinheiro poupado para uma hipoteca, depois de não conseguir um empréstimo para comprar a casa da família em 2014. Mas uma apuração da Forbes de 2020 descobriu que Garg estava envolvido em vários processos judiciais. Um deles iniciado por investidores de um fundo imobiliário lançado pelo CEO, que alegaram ter havido desvio de fundos para iniciar o Better.
No prospecto enviado à SEC em julho, a Better reconheceu que os recursos do fundo “poderiam” ter sido usados para financiar a rodada inicial da Better e acrescentou que essas ações judiciais poderiam afetar a capacidade da Better de obter licenças, “que são necessárias para conduzir nossos negócios”.
Após o incidente do Zoom, Garg foi forçado a tirar uma licença de um mês. Quando ele voltou ao cargo de CEO, o conselho disse aos funcionários por e-mail que ele havia recebido coaching executivo para “reconectar-se com os valores que tornam a Better excelente”. Seu retorno provocou um êxodo entre executivos e gerentes, informou a empresa em seu documento de julho à SEC, acrescentando que o Barclay’s encerrou uma linha de crédito de US$ 500 milhões que a Better vinha usando para garantir suas hipotecas.
A análise da empresa, citada no processo de julho da SEC, concluiu que não só o estilo de liderança de Garg era problemático, mas também que ele supervisionava empresas onde a falta de controles financeiros era “generalizada”. Apesar de garantir os dados de 2021 e 2022, a empresa informou que ainda existem deficiências materiais nos controles financeiros. O Citigroup e o Barclay’s, que assessoravam a Better, abandonaram a empresa depois que ela se recusou a fornecer auditorias de seus livros.
A empresa também enfrenta uma ação de um ex-executivo. Ele alega que a Better.com alterou os dados financeiros apresentados aos investidores antes da fusão. As alegações levaram a SEC a abrir uma investigação sobre a Better. A agência disse em um comunicado de 3 de agosto que não iniciaria uma ação coerciva contra a empresa após a conclusão de sua investigação, mas disse que a decisão da agência “não deve de forma alguma ser interpretada como uma indicação de que a parte foi exonerada ou que nenhuma ação poderá, em última análise, resultado da investigação da equipe.”
Um alívio fornecido pelo SPAC de quinta-feira foi uma infusão de dinheiro muito necessária de US$ 500 milhões fornecida pelo SoftBank. A Better.com perdeu mais de US$ 1 bilhão nos últimos dois anos, de acordo com seu prospecto. As perdas que continuaram no primeiro trimestre de 2023, quando a empresa perdeu US$ 89 milhões e faturou só US$ 21 milhões.
Garg, que é o maior acionista da empresa e mantém 37% do controle de voto, parece ter garantido seu próprio futuro. Além de seu salário anual de US$ 750 mil, a empresa revelou que lhe havia emprestado US$ 41 milhões, uma quantia que considera “perdoar parcialmente” quando a fusão da SPAC for finalizada.
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