O que te move: convicção ou conveniência?

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Só viverá a plena liberdade quem já aposentou o medo de rejeição e se concedeu a humildade de poder mudar de ideia

Vou te provocar: com qual facilidade você discorda dos grupos nos quais está inserido?

Discordar dos grupos sociais dentro dos quais não nos sentimos acolhidos é um impulso natural. Mas quem tem coragem de questionar a própria tribo, ou discordar de pessoas que admira? Apenas a minoria consegue. É mais fácil seguir o efeito manada do que sair dele.  

Já percebeu como as multidões sempre elegem um arquétipo – seja humano ou mitológico – para ditar quais são as condutas corretas e quais são as condenáveis? É muito mais simples seguir um manual de instruções e se sentir nobre ao “obedecer” às regras sugeridas por um grupo do que ter o trabalho de se observar com honestidade para descobrir as próprias verdades. E essa é uma das razões pelas quais o mundo segue cada vez mais polarizado e as pessoas cada vez mais enquadradas.

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Mesmo os que se propõem a ir contra os padrões sociais acabam, sem nem perceber, criando novos padrões e esbarrando na tentação de se reenquadrar à nova ideologia. Ou seja: desenquadram-se daqui, para enquadrarem-se lá. E continuam se sentindo secretamente constrangidos quando alguma convicção do grupo não corresponde aos seus juízos pessoais. Muitas vezes, eles se atropelam para fazer eco à voz dos que o cercam.

O medo de discordar das próprias tribos vem do temor de deixarem de ser incluídos, mas também da falta de proximidade consigo mesmos. Aqueles que se acostumaram a pensar com a cabeça do coletivo ainda não pararam para respirar e olhar para as situações a partir das próprias convicções.

Nunca foi tão evidente a necessidade de colarmos rótulos nas pessoas. Precisamos ter nome para tudo. Como você vive a espiritualidade precisa ser resumido em uma palavra. Como você se alimenta precisa ser definido por um protocolo. Como você enxerga o mundo precisa ser determinado em uma polaridade. E até a forma como você se veste precisa caber num rótulo.

É bem mais fácil rotular do que enxergar a singularidade em cada pessoa, com o coração aberto. E, dessa forma preguiçosa de perceber o outro, nascem os pré-conceitos.

Mas será que ideologias concedem licença poética para o julgamento? Ninguém gosta de ser julgado, mas, na prática, muitos dos que clamam pelo não julgamento o praticam com facilidade, quando os dedos estão apontados para outros, que não os seus.

Natural, já que o julgamento é o escape daqueles que, ao invés de se desenvolverem, gastam sua energia apontando as fragilidades alheias. E pior: embalam o julgamento com argumentos de moralidade para justificarem a própria crueldade.

Livre é somente aquele que conseguiu construir uma bússola interna e consegue ver o mundo com os próprios olhos. Se há a necessidade de que um grupo pense por você, te diga de que gostar, como agir ou o que fazer, você continua sendo um produto do meio. Mudam-se as bandeiras, e se mantém a prisão.

Nossa liberdade termina quando somos tão seduzidos pela necessidade de fazermos sentido para os outros que deixamos de fazer sentido para nós mesmo. E não existe maior prisão do que entregar para outras pessoas o nosso direito de pensar. Ninguém é livre quando cede seu cérebro a um grupo.

A liberdade não é uma bandeira, e não pertence a tribo alguma. Ela é a coragem interna que te permite discordar do meio quando o que está sendo sugerido não te soa justo, verdadeiro ou equilibrado. É a coragem de questionar, inclusive, suas próprias premissas, para que saiam do piloto automático e possam ser constantemente revisadas e atualizadas.

Só será, portanto, livre, quem já aposentou o medo de rejeição e se concedeu a humildade de poder mudar de ideia.

Vale lembrar que nem Jesus, símbolo absoluto do amor, conseguiu agradar a todas as tribos. Felizmente, ele não se prendeu a nenhuma, e é por isso que se fez grande: suas atitudes era praticadas por convicção, e não por conveniência.

Reflita: você vive para agradar a si mesmo ou para fazer eco ao discurso dos que te cercam?

*Carol Rache é empresária, fundadora do grupo Namah Wellness de inteligência emocional e bem-estar. Há 10 anos ela se dedica ao estudo do comportamento humano usando neurociência, metafísica, meditação, yoga e coaching.

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