Como a falácia do custo irrecuperável atrapalha as decisões de investimento

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Nichapa Srimai/EyeEm/Getty Images

A teimosia com um determinado ativo transforma o investidor em torcedor, e é nessas horas que ocorrem os prejuízos

A falácia dos custos irrecuperáveis é um viés comportamental que, por suas características, influencia a qualidade das decisões de investimento, podendo levar a prejuízos elevados.

Como mencionei na minha coluna da semana passada, compreender os aspectos psicológicos que interferem em nossa análise sobre finanças é tão relevante quanto conhecer economia ou contabilidade. Sendo assim, após a leitura desta coluna, tenho certeza de que você estará mais atento quando seu emocional estiver lhe afastando do planejamento financeiro traçado, e poderá redirecionar suas escolhas para que elas trabalhem a seu favor e não o contrário.

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O que é a falácia dos custos irrecuperáveis?

A falácia dos custos irrecuperáveis ocorre quando você sente que já investiu muito para desistir. Você acaba seguindo um plano mesmo que este não atenda mais suas expectativas iniciais, e mesmo que o prejuízo decorrente supere em muito os eventuais benefícios.

Suponha que você entrou numa sessão de cinema. Após 35 minutos, você nota que o filme não é nada do que você esperava. Em vez de sair do cinema, você se obriga a assistir até o fim, mesmo sendo um filme ruim. Afinal, o raciocínio tende a focar no fato de que o ingresso já foi pago, e mais de meia hora do seu tempo foi investido, e ao sair no meio da sessão, terá perdido tempo e dinheiro.

Essa armadilha psicológica pode se manifestar em variados cenários. No curso que você segue até o fim mesmo não gostando, só porque já pagou algumas mensalidades. No relacionamento que não te faz feliz, mas no qual você permanece porque já investiu muito tempo. E, como não poderia deixar de ser, nos investimentos ruins em que você insiste em manter seu dinheiro.

Como o viés comportamental interfere nos investimentos

No mercado financeiro é comum que, diante de um prejuízo nos investimentos, em vez de considerar o cenário atual e as perspectivas futuras, o investidor siga com um comportamento ou prática baseada nas decisões anteriores, mesmo que fazê-lo seja imprudente.

O economista comportamental e prêmio Nobel de Economia de 2017, Richard Thaler, foi um dos primeiros a abordar a teoria dos custos irrecuperáveis. Thaler ponderou que, de forma irracional, levamos em consideração fatores passados, como tempo e dinheiro investidos, ao tomar uma decisão no presente, mesmo cientes de que os contextos muitas vezes são totalmente distintos.

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Muitos investidores insistem em manter uma determinada ação, esperando que ela volte ao valor que tinha quando foi adquirida, mesmo que todos os fundamentos da empresa tenham mudado substancialmente ou o ciclo econômico esteja sinalizando uma tendência diametralmente oposta.

A falácia dos custos irrecuperáveis leva o investidor a manter o ativo em carteira simplesmente por já ter investido tempo e dinheiro nele, sem qualquer outro motivo consistente que justifique a decisão. Costumo dizer que esse é o momento em que você deixa de ser investidor e se torna torcedor, e isso é um grande erro, pois dependendo do caso, o prejuízo só vai aumentar.

Por que ocorre a falácia dos custos irrecuperáveis?

Vários fatores comportamentais podem fazer com que você se deixe levar e tome decisões contrárias aos seus interesses. Normalmente, um viés comportamental não ocorre por uma só causa, mas decorre de uma combinação de vieses aos quais nossa mente pode estar vulnerável:

Aversão à perda: inúmeros estudos demonstram que as perdas são sentidas com muito mais intensidade do que os ganhos, portanto, quanto maiores os valores que você investiu em algo, mais dificuldades terá em lidar com eventuais perdas.
Viés de otimismo ou excesso de confiança: é o viés que leva o investidor a acreditar ter menor probabilidade de vivenciar eventos negativos superestimando o quanto entende de um assunto e subestimando o papel do acaso nos acontecimentos. Nas palavras de Daniel Kahneman: “o otimismo é uma fonte de pensamento de alto risco”.

Viés do status quo: via de regra, a maioria das pessoas não gosta de mudar de ideia ou reavaliar a situação e tomar uma decisão nova e mais racional, porque subconscientemente não desejam lidar com um suposto fracasso de primeira escolha. Dessa forma, muitos investidores permanecem irredutíveis em uma decisão para não ter que sentir a dor adicional de uma nova escolha que, eventualmente, pode não ter sucesso.

Os vieses que citei acima são apenas alguns exemplos de comportamentos que podem reforçar a falácia dos custos irrecuperáveis. Há vários outros, como o efeito dotação, ancoragem, viés de confirmação, ilusão de controle, etc. Se você quiser que eu volte a ele nos próximos artigos, por favor, me mande mensagem. Vou adorar aprofundar este assunto com você!

Como evitar a falácia do custo irrecuperável

Para ter controle sobre suas emoções e entender como os vieses o influenciam, o autoconhecimento é imprescindível. Além dele, há algumas medidas que podem ser tomadas em seu cotidiano para minimizar sua vulnerabilidade às emoções quando estiver decidindo sobre finanças:

Considere o custo de oportunidade: se você seguir com um investimento ruim, quanto estará sacrificando de ganhos, por não realocar o dinheiro para ativos melhores para sua estratégia?;

Busque sempre opiniões técnicas e sem envolvimento emocional com a situação: isso o irá ajudar a evitar que o seu interesse apaixonado por determinada tese, o cegue para decisões práticas;

Fique atento à forma como seu raciocínio se estrutura para tomar uma nova decisão: você foca nos custos e benefícios considerando novos dados e evidências, ou tende a ficar apegado à sua escolha anterior, mesmo que saiba que ela não é mais útil?

Esteja ciente de que você vai errar em algum momento. Ninguém consegue prever tudo o tempo todo. Como você sabe, o mercado é soberano e todas as suas escolhas têm 50% de chance de dar certo ou errado. Então, foque em corrigir tão rápido quanto possível, pois assim o erro sairá mais barato.

Em suma, suas decisões quanto a seguir ou não em um investimento não podem se basear nos recursos já empenhados, mas sim, na avaliação objetiva quanto às reais possibilidade de ganhar mais dinheiro se tomar a decisão de vender um ativo ou migrar de um fundo para outro.

Se a resposta for sim, aja depressa, sem se apegar aos recursos não recuperáveis investidos anteriormente. Em seu planejamento de investimentos, sempre defina seu stop loss, ou seja, o percentual máximo que você aceita de risco de perda.

Ao planejar e definir previamente seus limites, você estará menos suscetível às emoções no momento de tomar uma decisão e, dessa forma, irá mitigar perdas com maior eficiência e racionalidade.

Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.

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