Investir em ESG, ou como lucrar com eventos climáticos que levam a perdas de R$ 650 bi

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manusapon kasosod/Getty Images

As questões climáticas estão alterando os fatores de competitividade no mercado.

Segunda maior ilha do Havaí, Maui vem sendo devastada por um incêndio florestal há uma semana. Até a noite da quarta-feira (16) o cálculo das vítimas somava 106 mortos e milhares de pessoas desabrigadas. Maui é a mais recente de uma longa série de desastres provocados por problemas climáticos. São inundações provocadas por chuvas muito acima da média, secas, ondas de calor e de frio. Além da tragédia humana e ambiental, o problema também é econômico. Eventos climáticos extremos podem causar grandes prejuízos em setores como agricultura, pesca, mineração, silvicultura e produção de energia. E, apesar das tragédias humanas e econômicas, isso cria oportunidades para os investidores.

É possível colocar um preço nessa crise. Segundo um estudo de 2020 do banco de investimentos americano Morgan Stanley, os eventos climáticos provocaram perdas de R$ 650 bilhões (R$ 3,1 trilhões) para a economia global entre 2017 e 2019. Só no Brasil, esses eventos causam perdas de US$ 2,6 bilhões (R$ 13 bilhões) por ano em média, de acordo com o relatório sobre Clima e Desenvolvimento do País do Grupo Banco Mundial.

Isso pode ser uma oportunidade para aqueles que investem no longo prazo. Empresas que adotam políticas ambientais, sociais e de governança (ESG) ajudam a mitigar riscos e aproveitam oportunidades de crescimento sustentável. Essas práticas elevam seus lucros, e podem recompensar os investidores.

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No sentido oposto, não prestar atenção à sustentabilidade pode custar caro. Setores atualmente lucrativos podem enfrentar obsolescência se não se prepararem para mudanças no mercado. Um bom exemplo são as empresas petrolíferas. De acordo com Andrea Minardi, da Insper, o setor vai enfrentar desafios no longo e, eventualmente, mesmo no médio prazo, pois a previsão é que a importância da commodity diminua.

Para ilustrar, segundo o relatório deste ano da Agência Internacional de Energia (AIE), o crescimento global do consumo de combustíveis deve desacelerar. Em 2023, a previsão é que a demanda, que atingiu 2,5 milhões de barris por dia de petróleo equivalente (boe) em 2022, reduza para 2,3 milhões boe. A Agência prevê que até 2028 esse crescimento seja ainda mais moderado, aproximadamente 400 mil boe.

“No longo prazo, o investidor deve analisar a projeção de seus investimentos. Se a empresa de petróleo na qual ele investe não está se adaptando à transição, ele pode acabar perdendo dinheiro”, diz Minardi.

Outro exemplo é o caso das mineradoras que não levam em conta questões ambientais. Elas podem enfrentar multas de órgãos reguladores, comprometendo o fluxo de caixa.

Além de perder posição, companhias que não adotam políticas sustentáveis também enfrentam desafios ao buscar expandir seus negócios por meio de crédito. Isso acontece porque as instituições financeiras estão se tornando mais rigorosas ao financiar projetos que utilizam tecnologias prejudiciais ao meio ambiente.

“Os investidores não querem correr o risco de perder o que investiram. Além disso, no setor bancário e na concessão de crédito, existem normas e leis obrigam as instituições financeiras a considerar essas questões na hora de emprestar”, diz Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP).

Essas companhias também perdem a oportunidade de atrair investimentos estrangeiros, uma vez que esses investidores estão mais atentos à questão ambiental. Para contextualizar, globalmente, mais de US$ 35 trilhões em ativos sob gestão (AuM, sigla em inglês para “Assets Under Management”) são administrados por fundos que adotaram estratégias sustentáveis. Apenas nos Estados Unidos, esse valor é de US$ 17 trilhões, o que equivale a cerca de 50% do total de AuM no país.

“As questões climáticas estão alterando os fatores de competitividade no mercado. Portanto, para investidores de longo prazo, é essencial adotar essa perspectiva. Sem dúvida, esses fatores terão impacto na estrutura e no custo de capital das empresas”, diz Annelise Vendramini, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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A carteira recomendada ESG do BTG Pactual inclui empresas comprometidas com práticas mais sustentáveis e que também são rentáveis para os investidores. Alguns exemplos dessas empresas são:

Aliansce Sonae (ALSO3):

A estratégia da administradora de shoppings Aliansce Sonae é baseada em uso adequado dos recursos naturais e na preservação ambiental. As metas para 2030 incluem 100% de uso de energia renovável, menos uso de água e economia circular. Ela também está empenhada em alcançar neutralidade na emissão de gás carbono até 2040.

De acordo com os especialistas, espera-se que a empresa se beneficie de melhores perspectivas de taxas e um mercado de fundos de investimento imobiliário mais ativo, o que significa que a companhia poderia reciclar ativos e gerar valor para os acionistas enquanto reduz sua alavancagem de 2,5x Ebitda.

Equatorial (EQTL3):

Os pilares da sustentabilidade da empresa de energia Equatorial são baseados em: operações de descarbonização; gestão eficiente dos recursos naturais e restauração de ecossistemas.

“Vemos a Equatorial negociando a uma taxa interna de retorno (TIR) real de 9,4%, além de oferecer proteção e diversificação, pois atua principalmente no setor de distribuição, mas também está presente nos segmentos de renováveis e saneamento”, informou o relatório do BTG.

Lojas Renner (LREN3):

Os compromissos públicos da varejista assumidos em 2021 incluem que 80% dos produtos tenham o Selo Re (produtos cujas matérias-primas têm menor impacto ambiental) e garantir que 100% dos produtos de algodão sejam feitos a partir de algodão certificado. “Vemos a empresa negociando com desconto, enquanto também se beneficia de possíveis cortes nas taxas de juros nos próximos trimestres, sustentando nossa visão positiva”, escreveram os especialistas.

Como fica o bolso?

Existem evidências de que, no longo prazo, esse tipo de investimento seja favorável, pois reduz riscos, contribui para uma geração de recursos mais perene e estável.

O último levantamento do Deutsche Bank revelou que a indústria de fundos nos Estados Unidos, com foco na temática da sustentabilidade, apresentou um desempenho financeiro notável. No período de três anos até abril de 2021, esses fundos registraram um retorno médio anualizado de 18,2%. Isso superou significativamente a média de retorno de 15,5% dos fundos que não estavam ligados a temas ESG no mesmo período.

No Brasil, um estudo realizado pela XP, que tem como base de dados o período de janeiro de 2006 a março de 2020, mostrou que o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) que apresentou melhores resultados em comparação com o Ibovespa (+242%), com uma rentabilidade acumulada de 248%.

Nos últimos seis meses, o ISE superou o IBOV, com uma valorização de 15,48%, contra 8,31%. No entanto, comprovando que esse é um investimento de longo prazo, considerando um período de um ano, o indicador fica atrás, com uma valorização de 1,02% em comparação com 7,39%.

“Estudos acadêmicos e análises de mercado mostraram a relação positiva entre práticas ESG e desempenho financeiro. No entanto, é importante notar que os resultados podem variar entre empresas, setores e ao longo do tempo, e outros fatores econômicos podem influenciar o desempenho financeiro”, diz Carlos Alberto Silva, da Mazars.

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