Os advogados do piloto Felipe Massa iniciaram uma ação legal contra os chefes da Fórmula 1 e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), buscando reparação de danos substanciais resultantes de uma suposta “conspiração” que tirou o título mundial do então piloto da Ferrari na temporada de 2008.
Uma carta formal de oito páginas, vista pela Reuters, foi endereçada ao presidente-executivo da Fórmula 1, Stefano Domenicali, e ao presidente da FIA, que tem sede em Paris, Mohammed Ben Sulayem.
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Uma carta antes da ação é um aviso legal formal obrigatório antes que o processo judicial possa ser iniciado.
O escritório Enyo Law, com sede em Londres, afirma que Massa, agora com 42 anos, foi “vítima de uma conspiração cometida por indivíduos do mais alto nível da F1, juntamente com a FIA e a Administração da Fórmula 1”.
O documento diz que Massa perdeu dezenas de milhões de euros em ganhos e bônus como resultado do acidente deliberado de outro piloto no Grande Prêmio de Cingapura de 2008, que foi supostamente encoberto antes de se tornar um escândalo em 2009.
O acidente custou a Massa pontos vitais em uma temporada em que ele acabou perdendo o título por um único ponto para Lewis Hamilton, então na McLaren, o primeiro dos sete títulos do britânico.
“Simplificando, o senhor Massa é o legítimo campeão de pilotos de 2008, e a F1 e a FIA deliberadamente ignoraram a má conduta que tirou dele aquele título”, disse a carta, vista pela Reuters, enviada dos escritórios de Londres da Enyo Law em 15 de agosto.
“O senhor Massa é incapaz de quantificar totalmente suas perdas neste estágio, mas estima que elas provavelmente ultrapassarão dezenas de milhões de euros. Este valor não cobre as graves perdas morais e de reputação sofridas pelo senhor Massa”, diz trecho da carta.
Massa procurou aconselhamento jurídico depois que o ex-chefe da F1 Bernie Ecclestone disse em março que ele e o ex-presidente da FIA, Max Mosley, sabiam em 2008 que o acidente do então piloto da Renault Nelson Piquet Jr. foi deliberado, mas não agiram.
Um porta-voz da FIA disse que o órgão regulador acusou o recebimento da “correspondência” dos representantes de Massa e acrescentou: “O assunto está sob revisão e não faremos comentários neste estágio”.
Não houve resposta imediata da Fórmula 1, que está atualmente no recesso de agosto. Domenicali foi chefe de equipe de Massa na Ferrari.
Ecclestone, de 92 anos, disse à Reuters por telefone desde a Suíça que não conseguia se lembrar de ter dito as principais declarações atribuídas a ele.
“Não me lembro de nada disso, para ser honesto”, disse o britânico, que foi substituído como chefe da F1 em 2017 depois que a Liberty Media, com sede nos Estados Unidos, assumiu o controle dos direitos comerciais.
“Não me lembro de ter dado a entrevista com certeza”, disse o ex-chefão da categoria.
Ele disse que nem Massa nem os advogados do brasileiro o abordaram para perguntar o que ele poderia ter dito.
Batida de Piquet Jr.
Massa liderava o Grande Prêmio de Cingapura de 2008 quando Piquet Jr. bateu sua Renault no muro na volta 14 da corrida de 61 voltas.
A batida acionou o safety car e beneficiou o então companheiro de Piquet Jr., o espanhol Fernando Alonso, que venceu a corrida. Massa não conseguiu pontuar após um pitstop problemático.
Piquet Jr. revelou em 2009 que havia sido instruído a bater pelos chefes da equipe Renault, que foram posteriormente banidos. O escândalo, apelidado de “crashgate”, tornou-se um dos maiores da história do automobilismo.
Na entrevista deste ano para www.f1-insider.com, Ecclestone disse que ainda sentia pena de Massa: “Ele perdeu o título que merecia, enquanto Hamilton teve toda a sorte do mundo e venceu seu primeiro campeonato”, disse na ocasião.
Massa disse à Reuters em maio que queria justiça.
“Se as pessoas mais importantes da Fórmula 1 e da FIA sabiam em 2008 e não fizeram nada, você acha que isso foi justo? Não foi justo”, argumentou o piloto.
A carta dos advogados adverte que, sem uma resposta satisfatória, Massa pretende “entrar com uma ação judicial a fim de buscar uma reparação pelos danos sofridos”.
Ele também quer “o reconhecimento de que, não fosse por esses atos ilegais, ele teria recebido o título do Campeonato de 2008”.
Os advogados afirmam que, na ausência de uma resposta substantiva dentro de 14 dias, eles esperam ser instruídos “para iniciar os procedimentos legais nos tribunais ingleses sem aviso prévio”.
Massa não teve sucesso novamente após 2008, com o brasileiro sofrendo uma lesão quase fatal na cabeça no Grande Prêmio da Hungria de 2009. Ele deixou a F1 em 2017.
Mosley, que trabalhou próximo a Ecclestone, morreu em 2021, enquanto o diretor de corrida da FIA Charlie Whiting, outra figura importante, morreu em 2019.
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