Obsessão chinesa por patentes é cultural e determina corrida pela liderança

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Na sede da BYD, em Shenzhen, modelo de carro elétrico que está entre a categoria com o número expressivo dentre as patentes registradas pela empresa

Associar a China à competitividade tornou-se um lugar comum, principalmente quando o tema é manufatura. No entanto, existem outros elementos que vão além dos salários baixos e da quantidade de mão-de-obra disponível que determinam o motivo, hoje, do país liderar uma série de iniciativas tecnológicas globais. E um deles está ligado direta e indiretamente a aspectos culturais: os chineses valorizam o reconhecimento e chegam a ser obcecados em relação a medi-lo.

Isso explica um elemento fundamental na corrida pela liderança em inovação no mundo: quantidade de patentes. A Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), em seu último relatório, apontou a China como dona do maior número de registros vigentes em propriedades de desenho industrial: 2,5 milhões liderando um ranking cujo segundo lugar é da Coreia do Sul, 388,5 mil, Estados Unidos, 381 mil, União Europeia, 268 mil e Japão com 263 mil.

Confira as 10 empresas que mais receberam aprovação de patentes em 2022:










Esse número pode variar de acordo com segmentos, mas em geral, tem as empresas chinesas sempre entre as primeiras. Desde 2009, o país se esforça para melhorar a qualidade das patentes e ditar um ritmo na competição global por propriedade intelectual. Naquele ano, o governo estabeleceu uma diferença para a aprovação determinando que as patentes sejam, de fato, “novidades” e não “relativamente novidades”, como eram classificadas anteriormente.

Resultados e métricas

A BYD, greentech de Shenzhen, que negocia a fábrica que era da Ford, em Camaçari, na Bahia, e anunciou investimento recente de R$ 3 bilhões no país, mantém 40 mil registros ativos e uma média de 10 solicitações por dia. “Além de garantir os direitos sobre a criação, a patente é uma forma tangível de mensurar a evolução da empresa. E os chineses são obcecados em relação a isso. Existe outro aspecto: o reconhecimento oficial tem um peso enorme na China. É um país que valoriza em outra proporção prêmios e títulos”, diz In Hsieh, cofundador da Chinnovation.

Na sede da BYD, em Shenzhen, está o muro das patentes com os registros das principais já conquistadas pela empresa

In Hsieh reforça que na esfera pública, acadêmica e privada essa busca por reconhecimento gera a necessidade de medir os esforços. Ele destaca, no entanto, que existe o desafio do equilíbrio entre qualidade e quantidade. “A BYD possui, atualmente, cerca de 70% do percentual global de patentes chinesas, um dos elementos que fizeram a empresa, inclusive, entrar para o TOP 50 das maiores marcas globais chinesas”, destacou Eric Lic, General Manager de Brand PR da BYD, em apresentação na sede da empresa, em Shenzhen, nesta terça-feira, 15.

“Essa é uma discussão importante. Se as patentes trazem diferenciais, de fato, ou são apenas domínios para manter a exclusividade de algo. A BYD está no nível de uma Huawei em termos de patentes, a marca de smartphones lidera em várias regiões, inclusive em 5G. Ainda no caso da BYD, não sei avaliar a distância o nível das patentes, mas é visível que, no caso deles, existe uma estratégia importante de liderança global”, conclui In Hsieh.

Líderes em patente

Das empresas com maior número de patentes no mundo em 2022, a Huawei aparece com destaque em quarto lugar chegando a 2,8 mil registros somente naquele ano. O ranking é liderado pela sul-coreana Samsung com 6,2 mil, IBM, 4,3 mil e Semicondutores de Taiwan com 3 mil. Rival direta da Samsung, a Apple conquistou 2,2 mil patentes, queda de 10% em relação a 2021. Mapeamento recente feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), mostrou que a China lidera também em patentes voltadas a cidades inteligentes. “A BYD está pronta para desenvolver patentes a partir da nossa presença na América Latina, em especial no Brasil, por aqui vamos investir fortemente em pesquisa e desenvolvimento”, destacou Stella Li, vice-presidente global da BYD, em visita recente ao Brasil.

*De Shenzhen, na China

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