Como um bilionário da aviação tem ficado ainda mais rico às custas do Pentágono

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Alex J. Berliner/AP

Novo bilionário Nicholas Howley.

Durante uma audiência no Congresso dos Estados Unidos em janeiro de 2022, os legisladores levantaram várias questões sobre o que chamaram de lucros excessivos em contratos militares, envolvendo a fornecedora de peças TransDigm Group. Nicholas Howley, cofundador da empresa, presidente do conselho e ex-CEO, frequentemente respondia apenas com a frase “eu não sei”, o que causou frustração entre os presentes.

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A postura de Howley desagradou a deputada Katie Porter. Ela confrontou Howley sobre sua remuneração de US$ 68 milhões em 2020, afirmando que alguém com tal compensação deveria estar ciente do que estava ocorrendo em sua empresa.

Desde a abertura de capital (IPO) em 2006, estima-se que Howley acumulou uma fortuna de US$ 1,1 bilhão, com base em suas vendas de ações públicas e sua remuneração como CEO antes de assumir o cargo de presidente do conselho em 2018.

A estratégia consiste em adquirir companhias únicas que fabricam peças específicas de aeronaves, aumentando os preços para clientes que não têm alternativas. Avaliações do inspetor-geral do Pentágono, Departamento de Defesa dos EUA, em 2019 e 2021 revelaram que, após adquirir uma empresa, a TransDigm aumentou os preços de quase todos os itens, atingindo margens de lucro exorbitantes. Embora legal, essa estratégia foi criticada como ganância corporativa e descrita como um “câncer” e até mesmo o “Satanás das peças de aeronaves” por ex-funcionários.

Para os investidores, no entanto, o modelo de negócios tem se mostrado lucrativo, com um retorno total de 29% ao ano desde seu IPO, muito acima de concorrentes do setor.

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Entretanto, para os contribuintes, a empresa tem sido um desperdício de recursos. Cobrando preços excessivos por peças de reposição, a TransDigm pode ter inflado os gastos com defesa em bilhões de dólares ao longo das últimas décadas. Auditorias do Pentágono também mostraram que os viajantes aéreos pagam tarifas mais altas devido a essas práticas de preços abusivos.

Em um comunicado, a empresa afirmou que suas práticas têm sido consistentes com as leis e regulamentos do Departamento de Defesa. Howley, por sua vez, não respondeu aos pedidos de comentários da Forbes.

Origem da TransDigm

Nicholas Howley cresceu em Havertown, um subúrbio de Filadélfia, filho do presidente da Lansdowne Steel & Iron, uma empresa que produzia munições para as forças armadas dos EUA. Essa companhia também era criticada por inflar os custos para aumentar os preços.

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Depois de obter um MBA em Harvard em 1979, Howley foi contratado pela IMO Industries, um conglomerado industrial. Ele recebeu a tarefa de reestruturar quatro unidades de peças aeroespaciais que estavam com desempenho abaixo do esperado para a venda. Em um podcast, Howley descreveu, às vezes com entusiasmo, como ele e seu chefe, Doug Peacock, trabalharam nos bastidores para comprar os negócios, negociando uma oferta conjunta com a empresa de private equity Kelso. Quando a gerência percebeu o que Peacock estava fazendo, ele foi demitido, mas devido ao papel central de Howley no processo de venda, eles não conseguiram se livrar facilmente dele, apesar das suspeitas de que ele também estivesse envolvido.

Foi assim que a TransDigm nasceu em 1993. Howley e Peacock rapidamente desenvolveram uma fórmula para impulsionar o crescimento de empresas industriais. “Você pode aumentar os preços, reduzir os custos e gerar novos negócios”, disse Howley no podcast.

TransDigm dribla legislação

Em 2022, a TransDigm divulgou que aproximadamente 90% de suas vendas eram provenientes de produtos patenteados. Muitos desses produtos podem não parecer particularmente especiais – itens como válvulas, fechaduras de portas e torneiras de banheiro. No entanto, a empresa aproveitou as complexidades do setor altamente regulamentado da aviação.

Cada componente de uma aeronave comercial e seus métodos de fabricação devem passar por certificações de segurança e confiabilidade pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA). Esse processo é demorado e dispendioso, o que significa que, mesmo com aumentos significativos nos preços, os clientes não buscam alternativas mais baratas.

Um exemplo é um acoplamento de desconexão rápida, uma pequena peça que possibilita a conexão e desconexão ágeis de linhas de fluido sem a necessidade de ferramentas. A TransDigm vendeu essa peça para o Pentágono em 2017 a um preço que representava um aumento anual de 219% desde 1991. Em uma compra subsequente pelo mesmo preço em 2018, o inspetor-geral determinou que a empresa havia aplicado uma margem de lucro excessiva de 1.698%.

Uma das razões principais pelas quais o Pentágono não conseguiu obter melhores acordos é que a TransDigm evitou fornecer informações de custo para avaliar a equidade de seus preços. Conforme a lei, em transações abaixo de US$ 2 milhões, os contratantes militares não são obrigados a disponibilizar dados de custo. O Congresso elevou esse limite em 2018, para US$ 750 mil, com a intenção de reduzir a burocracia.

Ex-funcionários da TransDigm informaram ao Comitê de Supervisão da Câmara que a empresa estruturava contratos de modo a evitar alcançar os limites que ativariam os requisitos de relatórios de custo. Entre 2017 e junho de 2019, 95% dos contratos da TransDigm ficaram abaixo desse limiar.

Após um intenso questionamento durante a audiência de 2019 sobre as conclusões do inspetor-geral do Pentágono, a empresa aceitou reembolsar US$ 16,1 milhões por excessos cobrados. No entanto, até o momento, a TransDigm se opôs ao pedido do Departamento de Defesa de devolver US$ 20,8 milhões em lucros excessivos identificados em uma análise realizada em 2021. A empresa argumenta que o limite de lucro de 15%, estabelecido pelo relatório do inspetor-geral, é arbitrário, e questiona a metodologia utilizada na análise, alegando que ela exclui custos legítimos.

Impacto nas empresas do setor aéreo

Há uma área na qual a TransDigm pode ter violado regulamentos. O inspetor-geral do Pentágono afirmou em 2019 que a empresa não havia divulgado, no sistema federal de aquisições, a propriedade de 12 subsidiárias que estavam competindo por contratos com o Pentágono. Isso dificultaria para as autoridades militares o rastreamento dos padrões de aumentos de preços praticados pela empresa.

Apesar de grande parte da atenção estar focada em sua relação com o Pentágono, as vendas diretas para o setor militar representam menos de 10% de sua receita, conforme testemunho de Howley no Congresso. De forma mais silenciosa, os aumentos de preços agressivos da empresa também têm causado desconforto entre as companhias aéreas.

“Elas têm um ódio ardente pela TransDigm, mas não têm escolha”, afirmou um ex-funcionário da subsidiária AvtechTyee. “Você não gosta deles, mas se não tiver suas peças, o avião não decola.”

Os fabricantes de aeronaves podem ficar em uma posição delicada. “Os clientes das companhias aéreas reclamam com a Boeing sobre os altos preços da TransDigm, o que dificulta o controle de custos”, declarou Abdol Moabery, CEO da GA Telesis, uma empresa de reparo de aeronaves. “No entanto, a fabricante não contratou diretamente a TransDigm para fabricar essas peças, mas sim, sua subsidiária.”

A argumentação da TransDigm é que o custo e o esforço empregados para entregar peças confiáveis rapidamente, a fim de evitar que aeronaves fiquem paradas em solo, justificam os preços mais elevados. “Os clientes não devem se preocupar com nossos produtos e se eles serão entregues quando necessário”, afirmou Henderson, ex-executivo aposentado da TransDigm. “Isso tem um preço.”

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