Uma boa ideia é a peça fundamental para alavancar qualquer negócio e, para que se alcance o sucesso, a execução do projeto precisa ser ainda mais eficiente que a proposta. Ou seja, uma empresa bem-sucedida passa, necessariamente, pelo trabalho de profissionais habilitados e especializados. E quando se fala em tecnologia, o futuro é pulsante e cheio de oportunidades. Por outro lado, diante de um mercado de trabalho em pleno crescimento, onde existem ferramentas e recursos, faltam pessoas.
Segundo o “Panorama de talentos em tecnologia 2023” – relatório global realizado pelo Google for Startups -, 92% das startups nacionais acreditam que faltam profissionais de tecnologia no Brasil. Nesse sentido, o estudo aponta um atraso no crescimento de seus negócios e uma perda competitiva na comparação com negócios provenientes de outros países.
Entre outras consequências, a escassez de talentos gera uma alta taxa de rotatividade entre os especialistas desse segmento. O turnover gerado pela competição dos melhores técnicos não prejudica apenas as startups iniciantes, mas também aquelas que já têm seu trabalho em andamento. Isso gera uma desaceleração de mercado, prejudicando o ecossistema de forma geral, no país.
Outro desafio é a grande demanda de outros países com uma cultura mais alinhada à inovação e ao empreendedorismo: o colaborador que se sobressai acaba sendo absorvido por companhias estrangeiras. O levantamento mostra que 73% dos profissionais entrevistados percebem condições mais atrativas em empresas internacionais, e outros 60% dizem que a remuneração no mercado brasileiro não é competitiva comparada ao exterior.
A pesquisa também apontou a falta de diversidade entre os profissionais certificados: 43% dos talentos estão em São Paulo, por exemplo. E mais do que a questão regional, há outros desafios para mulheres e pessoas negras. Uma constatação que me afeta diretamente, já que me encaixo nos dois perfis e meu maior anseio é reverberar o meu alcance para muitos mais talentos femininos como eu. É que grande parte destas pessoas se deparam com situações desestimulantes, que acabam por afastá-las de uma jornada de sucesso no setor tech.
Entre os desafios, estão questões culturais e históricas, falta de referências, de redes de apoio e de capacitação. Pensando nisso, fundei a WomanTech Ela Vence, cujo objetivo é potencializar as carreiras de mulheres empreendedoras e investidoras em uma lógica de comunidade. Com conteúdo e ações voltadas ao desenvolvimento de lideranças femininas, buscamos criar um ciclo de alto impacto para, juntas, ganharmos força e mudarmos a imagem sempre igual de quem trabalha com inovação e tecnologia. Mais de 650 mil participantes já trocaram experiências, conhecimento e fizeram negócios através desta conexão.
No ano passado, uma apuração inédita realizada pela Liga Ventures, em parceria com o Ela Vence e a PWN São Paulo, mapeou o perfil e os desafios das donas de empresas no Brasil. A sondagem “Mulheres e o Ecossistema Empreendedor” mostrou que estas barreiras são geradas a partir de uma complexa equação que leva em conta variantes como origem socioeconômica, questões étnico-raciais, orientação sexual, deficiência, maternidade, local de atuação, nível de escolaridade, idade, entre outros fatores.
Trata-se de um fator estratégico de competitividade e desenvolvimento humano na economia brasileira ao qual se tem dado pouca atenção. Cientes do cenário que se apresenta, precisamos destravar essas dificuldades. E eu vejo que a principal chave para isso é apostar na diversidade. Enxergar as particularidades das pessoas não como empecilhos, mas sim como meios de impulsionar resultados. Mentes diferentes, com vivências distintas, são muito mais capazes de inovar. A tecnologia anda de mãos dadas com a inovação e a educação não pode ficar de fora desta transformação.
Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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