Em uma manhã ensolarada de inverno, Barbara Soalheiro entra em um café na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo. A sobriedade das roupas escuras contrasta com o sorriso largo e o cabelo curtinho, que conferem uma aura vibrante à fundadora da Mesa Company, empresa focada na solução criativa de problemas. Um barista a reconhece imediatamente e diz, com brilho nos olhos: “Eu só queria dizer que acompanho seu trabalho de perto, e sou seu fã.”
Cenas deste tipo são corriqueiras na vida da jornalista, que deixou uma carreira de sucesso no mundo editorial em publicações como Capricho, Superinteressante e Colors, a revista da marca italiana Benetton, para criar seu próprio negócio. Não raro, Soalheiro é tietada em suas viagens pelo mundo por entusiastas e aspirantes a empreendedores que buscam conselhos ou apenas a oportunidade de interagir com uma das mentes mais dinâmicas do cenário de inovação global.
Dinamismo, aliás, define o momento de vida atual da empreendedora, que neste mês troca São Paulo por Nova York. O objetivo da mudança para a Big Apple com a família é ampliar a presença internacional da Mesa, que nasceu global e conta com marcas como Nike, Netflix, Google e o Banco Interamericano de Desenvolvimento em seu portfolio de clientes. Em seu país natal, a fundadora da Mesa fala com “metade do PIB brasileiro pelo WhatsApp” e tem Abílio Diniz, João Paulo Ferreira, CEO da Natura e Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, no rol de personalidades do mundo de negócios que já contrataram seus serviços.
Por R$600mil, a companhia resolve grandes problemas enfrentados por empresas – que variam desde a reinvenção do ensino fundamental e médio, até o lançamento da Stripes, marca da atriz Naomi Watts, que aborda o tema da menopausa com leveza e humor. Em seu método, a Mesa “fatia” os desafios, identifica profissionais com expertises correspondentes aos aspectos do problema e os une por uma semana para resolver o dilema e criar protótipos prontos para o mercado.
Em meio aos preparativos para um dos movimentos mais importantes de sua carreira, Soalheiro falou com Rumo Futuro sobre como vai levar a Mesa para o próximo nível. Veja, a seguir, alguns dos melhores momentos da conversa.
Rumo Futuro: Por que mudar para os Estados Unidos, e por que agora?
Barbara Soalheiro: Eu já passava uma semana por mês em Nova York, todos os meses, desde 2010. Há alguns meses, [concluí] que precisava ficar mais próxima [da operação norte-americana]. A gente tem uma vontade muito grande de crescer. Eu sei o que vendo, são experiências excelentes – e se elas estão sendo vendidas em dólar, é melhor para todo mundo. Então tem também uma coisa de ganhar mais mercado, em um mercado com mais dinheiro.
Além disso, [o mercado norte-americano] tem muito mais problemas. Mas também tem uma dinâmica de gente que está buscando e investindo em soluções muito melhores do que no Brasil, é um mercado rico de forma geral. Você tende a crescer muito a operação se isso acontece nos Estados Unidos. Lá, também existe uma cultura do fundador: e a minha sensação é que quando eu estou lá, faz diferença.
RF: O que muda na estrutura da Mesa com a sua transferência para Nova York?
BS: Temos um posicionamento radical de one company, somos uma só Mesa. Isso é uma radicalidade, porque, do ponto de vista operacional, talvez fizesse mais sentido separar as equipes. Por exemplo, o idioma oficial da Mesa, que usamos para fazer as reuniões de time tudo o mais, é o inglês, mas temos tradução em tempo real. Temos um compromisso muito forte com a inclusão e esse é o lugar que eu gostaria de continuar. A maioria das empresas que tem atuação internacional não usa a abordagem one company, e [separam] funcionários que falam idiomas diferentes nas reuniões, criam estruturas para isso. Mas eu não gosto desse modelo, então [a estrutura] não muda muito.
Em dois anos, nossa operação dos Estados Unidos deve crescer muito, e meu desejo é ter um time de 300 líderes de Mesa [hoje são 56], incluindo o core team e pessoas espalhadas pelo mundo. Estas pessoas têm contratos conosco, trabalham em Mesas por cinco meses ao ano, e depois fazem outras coisas da vida. Operacionalmente, acho esse modelo de rede muito inteligente da nossa parte.
RF: A operação nos Estados Unidos terá algum diferencial em termos de indústria ou posicionamento de mercado?
BS: Atualmente, 50% do nosso business são desafios de marketing. A outra metade vem de um cano de dinheiro que não existe, de um convencimento [dos tomadores de decisão] de que há um problema a resolver. Neste novo momento, queremos intensificar nossa atuação em projetos de produto e de negócio, e que as pessoas entendam rapidamente que somos muito bons em resolver estes problemas.
RF: Qual é a sua concorrência no mercado norte-americano?
BS: Existem três lugares que definem a nossa atuação: às vezes, estamos head-to-head com consultorias como a McKinsey, às vezes estamos em um lugar que seria de uma agência de comunicação, ou de uma aceleradora de tecnologia.
É interessante, porque acho que [este posicionamento] nos ajuda. Quando um cliente pensa em contratar uma grande consultoria, ou uma agência, em geral descobre que todos as outras alternativas no mercado são mais caras do que uma Mesa. Então, nos Estados Unidos, temos essa vantagem.
RF: O que você espera atingir no espaço de um ano após a sua mudança?
BS: Há uma dimensão muito pessoal [da mudança], e do ponto de vista da família, será um ano de adaptação: neste período, espero que meus filhos estejam bem ajustados à nova vida. Em relação à Mesa, queremos quebrar o paradigma de que é impossível resolver grandes problemas da forma que fazemos, e ter pelo menos três novos cases nos Estados Unidos que demonstrem o poder do método.
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