Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, confirmou na última segunda-feira (31) que a empresa terá quatro plataformas eletrificadas produzidas no Brasil: três híbridas conectadas a um motor flex ou a etanol – batizadas de Bio-Hybrid – e uma exclusivamente elétrica. O plano do conglomerado (constituído em janeiro de 2021 a partir da fusão da Fiat Chrysler Automobiles com a PSA Peugeot Citroën) foi antecipado por Forbes Motors há dois meses.
Veja os modelos da Stellantis que devem ter tecnologia híbrida nacional:
Enquanto sociedades ao redor do mundo discutem como executar a transição da matriz energética do petróleo para a eletricidade, uma corrida pelo híbrido flex nacional corre paralela no Brasil. Além da Stellantis, Volkswagen e Renault já confirmaram que também terão carros produzidos localmente carregando a tecnologia que combina as propulsões elétrica e térmica.
O primeiro híbrido flex nacional da Stellantis será lançado já no próximo ano. “Está tudo testado e industrializado. A aplicação será feita primeiramente nas marcas de maior volume do grupo”, avisou Filosa, que confirmou que o estreante será um modelo de volume – a fabricante cita “estratégias de mercado a serem definidas” para cravar qual marca e carro serão os estreantes da tecnologia.
Por seu histórico de inovações – foi a primeira marca a produzir em série um carro a álcool (o modelo 147, em 1978) e a primeira a lançar uma picape compacta (147 Pickup, no mesmo ano), entre outras ousadias – e por ser a líder de vendas da Stellantis, a Fiat desponta como a principal candidata a ter o primeiro híbrido flex/etanol do grupo no Brasil. E se entre os modelos baseados em plataformas compatíveis com a tecnologia híbrida, o de maior volume é o Pulse, logo…Na esteira viria o Fastback, ancorado na mesma base.
Desenvolvidas pelo Tech Center Stellantis na América do Sul, as plataformas híbridas são compostas por três soluções:
Bio-Hybrid – uma bateria de íons de lítio de 1 kWh e um motor elétrico com cerca de 3 kW atuam para gerar torque adicional, transformar a energia elétrica armazenada em mecânica, aprimorar a função start/stop e permitir que o veículo continue em movimento com o câmbio desacoplado e até mesmo com o motor desligado.
Bio-Hybrid e-DCT – além das funções executadas pela Bio-Hybrid, baterias com tensões de 12V e 48V e um segundo motor acoplado ao câmbio fornecem energia para impulsionar o veículo em modo totalmente elétrico ou em conjunto com o térmico (flex ou etanol).
Bio-Hybrid Plug-in – conta com bateria de 380V, recarregada através de sistema de regeneração nas desacelerações, pelo motor térmico ou por fonte de alimentação externa elétrica (plug-in). Motor de 44 kW conectado diretamente ao eixo traseiro.
De acordo com Marcio Tonani, vice-presidente do Tech Center da Stellantis na América do Sul, as três soluções poderão ser conectadas às plataformas mais modernas da Stellantis no Brasil: MLA, base dos modelos Fiat Pulse e Fiat Fastback; CMP, sobre a qual são montados os modelos Citroën C3 e Peugeot 208; e Small Wide, berço de Fiat Toro, Jeep Renegade, Jeep Compass e Jeep Commander. Ou seja, poderão ser manufaturadas em Betim (MG), Porto Real (RJ) e Goiana (PE).
“Carro a álcool, você ainda vai ter um”
Slogan emblemático do Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, poderá ser reativado, se depender da Stellantis.
Um estudo recente da empresa revelou que um veículo abastecido com etanol no Brasil emite 25,79 kg de CO2 após percorrer 240,49 quilômetros, enquanto um 100% elétrico baseado na Europa despeja 30,41 kg – isso considerando o conceito ‘do poço à roda’, em que são contabilizadas as emissões também no processo de fabricação do veículo, e não apenas o que sai do escapamento.
“Da frota circulante de aproximadamente 42 milhões de veículos, cerca de 10 milhões rodam com etanol. Logo, se o etanol tem quase o mesmo nível de emissões do carro a bateria, significa dizer que temos o equivalente a 10 milhões de carros elétricos rodando no Brasil atualmente. Qual o país no mundo que tem essa frota de elétricos? A China tem 6 milhões”, argumenta João Irineu, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis para América do Sul.
Tal é aposta da Stellantis no etanol que até mesmo um motor compatível apenas com o biocombustível será ofertado. Trata-se do 1.3 turbo que já equipa alguns modelos de Fiat e Jeep (que em sua atual versão flex rende 185 cavalos de potência e 27 kgfm de torque) e que pode ou não ser acoplado aos sistemas híbridos.
“Todo nosso portfólio pode ser só a etanol. O etanol é uma joia, que nós como brasileiros exploramos muito pouco. Não podemos globalizar as soluções. O que é bom para a Europa não quer dizer que é bom para o Brasil neste momento”, avalia Tonani. “O etanol é um projeto de país”, acrescenta Irineu.
De acordo com a AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), a matriz energética brasileira conta com 80% de energias renováveis, enquanto no restante do mundo essa taxa é de 27%. O carro a etanol só perde para um 100% elétrico alimentado por energia brasileira.
Desde que os carros flex foram lançados, em 2003, o uso de etanol evitou a emissão de mais 620 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera, segundo cálculos da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia).
Filosa acrescentou que até 2030 a Stellantis vai produzir localmente seu primeiro automóvel 100% elétrico e que 20% do seu mix de vendas em 2030 será de veículos totalmente elétricos.
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