Vá plantar batatas: porque na Chapada Diamantina elas valem ouro

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Fabiano Borré, terceira geração de produtores na Chapada Diamantina

A fazenda Progresso, localizada no município de Mucugê, na região montanhosa no centro da Bahia, produz batata (hoje o carro-chefe do negócio) desde os anos 1990, em uma rotina na qual a saúde do solo e da água estão no cerne do manejo das lavouras.

Na Chapada Diamantina, única região do país em que é possível produzir o ano todo, há pelo menos oito grandes produtores do tubérculo. A família Borré é um deles. São 3 mil hectares com irrigação de precisão e produção média anual entre 135 mil e 150 mil toneladas (no ano passado, o Brasil produziu 3,9 milhões de toneladas de batata em 121 mil hectares de lavouras).

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“Meu pai chegou na região em 1985 e, nos primeiros três meses, enquanto construía uma casa, morou num curral de bois”, conta Fabiano Borré, 44 anos, CEO do grupo que hoje é proprietário de 26 mil hectares de terras na região. Sem declarar a receita exata do negócio, o executivo diz que a média dos últimos anos tem ficado na faixa de R$ 300 milhões.

Além da batata em sete fazendas, ele ainda tem café arábica para exportação direta a 10 países, cultivados em 530 hectares; uvas para vinificação em 52 hectares; e uma criação de gado de corte. São 6 mil animais, com 1.500 abates, pelos quais recebe bonificação no preço da arroba de até 28%. O gado é criado em sistema integrado com as batatas, com a pecuária deixando, além da carne, uma palhada preciosa de capim incorporada ao solo.

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Batatas em preparação para serem enviadas aos mercados consumidores

Tudo vai se encaixando e se interligando em um tripé formado por solo, água e pessoas. A área total se espalha por 11 propriedades, sendo a maior parte de terras planas a 1.100 metros de altitude, das quais duas propriedades estão intocadas. Do total de hectares, 45% são de matas nativas, 25% acima do que determina o Código Florestal para a área.

Borré afirma que não tem planos de desmatar, porque seu foco está na outra ponta: a intensificação da produção, da genética e da qualificação. As fazendas empregam mil funcionários, do campo aos laboratórios, e mais cerca de 350 temporários para a safra do café. “Mas, aqui, o solo dá traço de matéria orgânica, e é preciso melhorar sua biota para produzir bem. Falar em regeneração é falar de como você cuida do solo, como torna as áreas passíveis de produção o mais longevas possível, porque é isso que impulsiona o resto.”

Mucugê é um dos mais antigos municípios da Chapada Diamantina – completou 176 anos no dia 17 de maio – onde foram encontrados os primeiros diamantes de valor. A Bahia, ainda hoje, é a maior produtora de diamantes do Brasil, mas, como todo garimpo no país, historicamente a atividade teve impactos desestruturantes do ponto de vista socioambiental.

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Cultivo de batatas na fazenda Progresso

O agro fez o caminho inverso. Na Progresso, por exemplo, além da estrutura considerada “normal” nas fazendas, com moradias e refeitórios, há escola e centro médico, que conta até com terapeutas ocupacionais e psicólogos. No caso dos insumos biológicos para as lavouras, a ajuda começou a chegar há três anos, dois deles dedicados a testes e acertos de aplicação. Para isso, foi construída uma
biofábrica com três reatores em comodato.

“Os biológicos têm contribuído de forma efetiva para controlar as doenças do solo, principalmente os nematoides.” Nematoides são vermes abundantes no solo e na água e podem parasitar animais e plantas. Sugam as substâncias nutritivas das plantas e causam prejuízos enormes nas lavouras. Hoje, das três bactérias reproduzidas nos reatores dos bioinsumos da Progresso, uma já é aplicada na totalidade das lavouras cultivadas.

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Fabiano faz parte da terceira geração da família gaúcha Borré. Assumiu a presidência há quase dois anos, com a morte do pai, Ivo. O negócio ainda tem como sócios fundadores o avô e dois tios. Entre os investimentos, o mais recente foi a construção de uma vinícola e, na fila, estão um hotel para enoturismo, o cultivo protegido de hortícolas e a verticalização da pecuária com a criação de uma marca própria. Com exceção da carne, os projetos de viabilidade, segundo ele, já estão prontos. “Estamos só esperando o momento certo, tudo dentro do que acreditamos como negócio que gera renda e melhora o mundo para as pessoas.”

* Reportagem publicada na Revista Forbes (que pode ser acessada no aplicativo ou no impresso) que integra o Especial ESG na edição 108.

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