Empresas atraentes criam soluções aos desafios globais, diz CIO da Impax

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Impax/Divulgação

Bruce Jenkyn-Jones, da Impax Asset Management, diz que serviços da natureza são fontes de bons investimentos

O calor opressivo de Pequim a Phoenix está colocando as mudanças climáticas no foco, em todo o mundo. Na semana passada, reuniões de alto nível entre o enviado presidencial especial dos EUA para o clima, John Kerry, e líderes políticos em Pequim destacaram ainda mais a necessidade de crescimento e o potencial de investimento em energia renovável e sustentabilidade, disse à Forbes o diretor de investimentos de uma das maiores empresas de gestão de fundos do mundo focada em energia renovável.

“No geral, as economias de escala continuarão reduzindo os custos e melhorando a economia das energias renováveis”, disse Bruce Jenkyn-Jones, CIO (Chief Information Officer) para investimentos listados na Impax Asset Management, com sede em Londres, em entrevista à Forbes na sexta-feira (21). Fundada em 1998, a Impax abriu um escritório em Nova York em 2022 e tem atualmente mais de US$ 50 bilhões (R$ 240 bilhões na cotação atual) em ativos sob gestão.

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Áreas relacionadas à sustentabilidade, como água, merecem atenção porque geram negócios para fabricantes de bombas eficientes, gerenciamento de águas pluviais e sistemas de tratamento de água, disse ele. “A água tem sido e, esperamos, continuará a ser uma área de investimento muito atraente”, disse Jenkyn-Jones por Zoom de Londres na sexta-feira.

Antes de ingressar na Impax em 1999, Jenkyn-Jones trabalhou como analista de serviços públicos na Bankers Trust e como consultor ambiental para Gestão de Recursos Ambientais. Graduado em Oxford, ele possui bacharelado em química, mestrado em tecnologia de engenharia ambiental e MBA pela IESE Business School em Barcelona. Confira a entrevista.

F: De um modo geral, quais são as principais tendências em energia renovável?

Jenkyn-Jones: Há uma enorme variedade de tendências que afetarão as perspectivas de energia renovável nos próximos três a cinco anos. Uma que está indiscutivelmente no topo da lista, com a visita de John Kerry à China, é a descarbonização da rede elétrica. E com o foco global historicamente nos combustíveis fósseis, o caminho real para a descarbonização é através da energia solar e eólica, que podem ter um perfil de emissão zero. Esta continua a ser uma prioridade para os governos. Eles reconhecem os desafios globais em torno da descarbonização. Isso continuará a ser uma das forças motrizes. (nota redação: no Brasil, essa descarbonização também passa pela bioeletricidade gerada pela usinas de cana-de-açúcar)

A segunda é a economia dessas tecnologias. Desde que estou trabalhando neste setor, o custo da energia eólica e solar caiu em níveis extraordinários: solar – algo como 95% nos últimos 20 anos ou mais, e eólica – não exatamente esse nível, mas certamente quedas dramáticas.

Olhando para o futuro, podemos esperar mais disso. Certamente, haverá volatilidade nos preços das commodities que terá algum impacto, mas, no geral, as economias de escala continuarão reduzindo os custos e melhorando a economia das energias renováveis.

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Além disso, o apoio do governo é outro componente. Você está vendo mais e mais políticas sendo implementadas. Elas estão menos relacionadas a subsídios, mas criam uma estrutura clara para incentivar mais investimentos em energias renováveis. Como, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação nos EUA (IRA na sigla em inglês), e o plano de 45 anos na China, que também vai no mesmo caminho. Os governos tendem a delegar a responsabilidade dos investimentos em renováveis ​​às regiões e às províncias, mas continua a apoiar absolutamente.

Ligado a isso está o surgimento de tarifas, proteção e reshoring. O IRA tem esse componente nas tarifas – incentivando o investimento na produção nos EUA, e isso realmente mudou bastante a dinâmica e teve implicações para a Europa também.

E então, se você vai investir em nova capacidade eólica e solar, há grandes desafios e implicações significativas para as redes. A China teve esse problema alguns anos atrás. A redução foi um grande desafio onde a eletricidade estava sendo gerada, mas a rede não aguentou.

Isso ficou muito melhor – a China realmente conseguiu superar esse desafio. O que se vê é que alguns desses problemas estão surgindo agora nos EUA, portanto, adequar sua rede ao propósito em um mundo de energia renovável é outro desafio importante. Isso está ligado ao investimento em armazenamento, tornando a energia renovável mais uma capacidade de carga básica, em vez de apenas quando o vento sopra e a luz do sol.

Então, o ponto final em torno do vento em particular é a capacidade offshore, à medida que a economia se torna mais atraente. Você pediu uma lista de tendências importantes, e há realmente muita coisa acontecendo neste espaço. O quadro é positivo e sinaliza que haverá muitos investimentos em energias renováveis ​​nos próximos três a cinco anos globalmente.

F: Pensando em empresas específicas às quais os investidores deveriam prestar mais atenção, o que vem à mente?

JJ: Existe um componente relacionado à energia, um componente de serviços públicos e também muitas empresas que fornecem equipamentos. Existem ações de crescimento e ações de infraestrutura. Além disso, muitos investidores precisam gerenciar o risco climático em seu portfólio. Então, é preciso estar ciente das oportunidades.

Só de pensar nas maiores empresas em nível mundial nesta área, certamente na Europa a Vestas é a maior empresa cotada e que fabrica turbinas eólicas. Há, também, a dinamarquesa Orsted, que se concentra nos próprios parques eólicos. É um modelo de negócio diferente. Nos EUA, você tem grandes players como a Enphase, que fabricam inversores para energia solar.

Na China há empresas como Goldwind e a China Longyuan e, em seguida, um grande número – provavelmente mais de 250 empresas listadas de energia solar em toda a cadeia de valor – todas expostas nesse setor do mercado. Existe um universo bastante rico de empresas renováveis ​​para investimento.

Vale dizer que nem todos os seus modelos de negócios são tão atraentes. Para muitos deles, os produtos são bastante comoditizados. As margens são muito voláteis, então os investidores realmente precisam agir com muito cuidado ao investir no setor de energia renovável, mesmo que o crescimento dos mercados subjacentes seja muito forte.

F: O espaço de investimento se torna ainda mais amplo quando se trata de áreas relacionadas à sustentabilidade, como água e alimentos. Como os investidores devem olhar para esses dois elementos?

JJ: O que une todas essas pontas é que o mundo está enfrentando uma série de desafios de sustentabilidade ambiental. Já falamos sobre mudanças climáticas. Da mesma forma, há a biodiversidade e a escassez de água, mas também se alinham com temas como vida saudável e melhor nutrição. Recomendo olhar para empresas que forneçam soluções aos desafios globais, e em muitos casos elas atuam em mercados em crescimento muito atraentes.

Para ilustrar alguns desses exemplos, por exemplo a água, há claramente uma demanda cada vez maior por estoques, mas há um suprimento finito e as mudanças climáticas estão corroborando ainda mais para esse cenário finito ou ainda mais desafiador para encontrar suprimentos confiáveis ​​de água. E, ao mesmo tempo, os desafios da poluição da água significam maior investimento em tecnologias de tratamento de água, etc.

Realmente existe uma dinâmica interessante na água. Do ponto de vista do investidor, as barreiras à entrada nesse mercado tendem a ser muito maiores porque é uma mercadoria crítica. As pessoas, normalmente, não estão preparadas para assumir grandes riscos com a tecnologia que usam. Mas, as empresas que fornecem bombas mais eficientes, melhor infraestrutura, gerenciamento de águas pluviais e sistemas de tratamento de água estão em constante crescimento e são áreas muito atraentes do mercado. É possível encontrar oportunidades nessas cadeias de valor. A água tem sido e, esperamos, continuará a ser uma área de investimento muito atraente.

F: Quais são algumas das oportunidades de investimento interessantes nessa área de água?

JJ: Mais uma vez, a área de investimento em água é bastante atraente em toda a cadeia de valor. Exemplo é uma das maiores empresas que cobre as bases dessa cadeia, a norte-americana Xylem, que tem bombas, sistemas de tratamento e muita tecnologia inovadora. Na Europa, uma empresa interessante que tem uma franquia bastante ampla na área de água é a Veolia Environment. Na China e nos mercados emergentes é mais difícil encontrar grandes empresas significativas que realmente tenham exposição especializada em água, mas o universo de investimentos em água é bastante rico globalmente.

F: E em comida sustentável, o que se pode falar?

JJ: A alimentação sustentável é uma área realmente interessante. Até cerca de 15 anos atrás, o foco era produzir o máximo de alimentos possível, o mais barato possível. A dinâmica realmente mudou agora, com prioridades crescentes em torno da nutrição saudável. O bem-estar animal está se tornando mais importante. Mudanças climáticas, biodiversidade e resiliência também se tornaram prioridades nessa indústria, o que realmente levou a um maior foco na sustentabilidade em torno do abastecimento de alimentos. Agora, em toda a cadeia de valor, você vê ingredientes mais saudáveis ​​e agricultura de precisão para produzir alimentos de maneira mais sustentável, com impacto muito menor no bem-estar animal. Realmente se tornou uma oportunidade de crescimento.

F: Quais são algumas das empresas mais interessantes nesse espaço?

JJ: Certamente, na agricultura de precisão, um dos principais players é a Trimble, uma empresa de software que está envolvida em vários outros mercados no mundo de nutrição saudável e ingredientes naturais. Ou empresas como a Givaudan na Europa, e também empresas como a Kerry, na Irlanda.

Há outras iniciativas importantes, como no setor de embalagens, e aí podemos citar a Westrock, que também tem produtos interessantes e mais sustentáveis ​​no setor de alimentos.

F: Se pensarmos nos mercados ambientais de forma mais ampla, existe uma abordagem possível entre renováveis ​​e sustentabilidade?

JJ: Essa é uma pergunta realmente interessante. Se a tese central é que as empresas fornecedoras de soluções para problemas ambientais são mercados interessantes em crescimento, então, se juntar água, alimentos sustentáveis, energia renovável, você também pode incluir elementos como transporte, economia circular e setor de reciclagem de resíduos. E o que realmente se obtém é um conjunto incrivelmente diversificado de oportunidades de investimento que permite reunir portfólios de ações globais que de fato são mais amplos. Talvez eles não tenham tanta energia, tantas finanças e provavelmente saúde abaixo do estimado, mas as características de desempenho e risco estão bem alinhadas.

As maiores tendências para encontrar onde investir estão em indústrias, tecnologia e algumas em serviços, mas acredito que a característica principal a ser observada é o crescimento. E a maneira como realmente olhamos para isso é encontrar modelos de negócios realmente de alta qualidade, com altos retornos sobre o capital investido nesses mercados interessantes e, obviamente, focar consideravelmente nas avaliações desses negócios. (Tradução: ForbesAgro)

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