João Donato, ícone da MPB, morre aos 88 anos

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Kevin Winter/Getty Images

João Donato em 2010, ao receber o prêmio de Melhor Álbum de Jazz Latino

O cantor, compositor, multi-instrumentista e arranjador João Donato morreu, aos 88 anos de idade, na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro. O artista tinha sido internado na semana passada por causa de infecção pulmonar. O perfil de João Donato do Instagram informou sobre a sua morte em uma mensagem. “Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias. Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo”.

O perfil informa ainda que o velório será realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em horário a ser divulgado brevemente. O corpo de Donato será cremado no Memorial do Carmo.

No Instagram, o compositor e cantor Marcos Valle publicou uma mensagem. “Meu amigo. Boa viagem! Que você seja recebido com muita música e muitas cores. Vá em paz meu amigo, meu parceiro, meu ídolo”.

Carreira de João Donato

Donato nasceu no dia 17 de agosto de 1934, em Rio Branco, no Acre, e 11 anos depois se mudou com a família para o Rio de Janeiro. Talvez por influência do pai, que tocava bandolim, e da mãe, que cantava, a música surgiu cedo na vida dele e aos 5 anos de idade o menino já tocava acordeon.

Já no Rio de Janeiro, depois de participar de festas musicais em colégios da Tijuca, na zona norte da cidade, aos 15 anos começou a frequentar as jam sessions realizadas na casa do cantor Dick Farney e no Sinatra Farney Fã Club.

A primeira gravação em disco foi como músico da banda do flautista Altamiro Carrilho. Foi nessa época também que começaram os contatos com outros artistas importantes como Lúcio Alves e passou a ser conhecido além do Brasil inclusive por Chet Baker.

Nos anos 50, participou do programa de música nordestina Manhãs da roça, comandado pelo cantor e compositor paraibano Zé do Norte, na Rádio Guanabara. Donato chegou a dizer que a carreira dele no rádio tinha começado com Zé do Norte.

Na mesma década, se mudou para os Estados Unidos e lá conseguiu desenvolver a área musical que mais o interessava, uma fusão do jazz com a música latina.

Autor de composições de sucesso como AmazonasA RãLugar ComumSimples Carinho e Nasci para Bailar, foi arranjador em discos de Gilberto Gil e Gal Costa.

Prêmios

Em 2000, foi contemplado com o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra e participou do Free Jazz Festival (RJ), obtendo sucesso de público e crítica. Em 2003, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). No ano seguinte, venceu o Prêmio Tim pelo disco Emílio Santiago encontra João Donato.

Em 2010, ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Jazz Latino pelo álbum Sambolero. Em 2016, o seu álbum Donato Elétrico foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Instrumental. O trabalho também foi eleito como 11º melhor álbum brasileiro do ano pela revista Rolling Stone Brasil.

Repercussão da morte

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva postou no seu perfil do Twitter que o país perdeu hoje um dos maiores e mais criativos compositores brasileiros. “João Donato, pianista, acordeonista, cantor e compositor, foi um dos gênios da música brasileira. Perdemos hoje um de nossos maiores e mais criativos compositores. Nascido no Acre, foi no Rio de Janeiro que construiu sua trajetória e marcou a história da música em nosso país, com composições que correram o mundo. João Donato via música em tudo. Inovou, passou pelo samba, bossa nova, jazz, forró e na mistura de ritmos construiu algo único. Manteve-se criando e inovando até o fim. Que encontre a paz que tanto cantou. Sua música permanecerá conosco. Meus sentimentos aos familiares, amigos, músicos que nele se inspiraram e fãs no mundo todo”.

Também no Twitter, a ex-presidente Dilma Rousseff escreveu que a música popular brasileira está de luto. “A morte de João Donato deixa o Brasil e o mundo tristes. Ele era um gênio e um músico profundamente identificado com o país. Meus sentimentos a Ivone Belém e família. As melodias de João estarão para sempre na alma do povo brasileiro”.

O rapper Marcelo D2 lamentou no Twitter: “João Donato foi um dos seres humanos mais incríveis que conheci nessa passagem, um Brasileiro sensacional… me chamava de Marcelinho e isso enchia meu coração. Vou sentir muito sua falta meu amigo, descanse em paz”. Mari Gadú escreveu: “Gratidão por tudo! Beijo imenso na família que tanto gosto”.

No Instagram, Marisa Monte postou: “Muito triste com a partida do meu amigo e parceiro João Donato. Um homem sensível e único, criador de um estilo próprio com um piano diferente de tudo que já vi. Doce, preciso e profundo. Além da saudade, fica a obra eterna e presença luminosa em nossas vidas.”

O cantor Ritchie também prestou suas homenagens nas redes sociais. “Tive o privilégio de receber João na minha casa 2 ou 3 vezes por semana durante todo o ano de 1989. Ele vinha gravar suas “demos” no meu estúdio. Aprendi muito de música Brasileira com ele. Vá em paz, me amigo! Grato pela honra de te conhecer pessoalmente”, postou no Twitter.

A Ministra da Cultura, Margareth Menezes, escreveu: “Partiu João Donato, que triste. Tive a honra ter dividido o palco com esse grande mestre da nossa Música Popular Brasileira. O seu legado e as suas contribuições marcam uma revolução na bossa nova, no samba, no jazz e no ijexá. João Donato forjou um estilo jazz/afro cadenciado, dinâmico, harmônico e diferenciando, com uma marca própria, e que influenciou gerações inteiras dentro e fora do Brasil. Obrigada, maestro, por todas as inspirações musicais, por ser referência para nós e pela sua generosidade no palco e fora dele. Meus sentimentos à família, aos amigos e aos fãs tão queridos.”

Carlinhos Brown, no Twitter, disse: “Hoje um grande estruturador da moderna música brasileira nos deixa, aos 88 anos. João Donato é um gênio e fez com Gil uma paz invasora que inspira vários corações. Além de ser um dos maiores de todos os tempos, sempre oportunizou os novos e buscou uma forma de estar caminhando e dando rumo a tudo que o Brasil produz em música.”.

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