Entenda o impacto da IA na greve de roteiristas e atores de Hollywood

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O primeiro episódio da sexta temporada de Black Mirror utilizou inteligência artificial de atores

A greve dos atores de Hollywood, iniciada nesta quinta-feira, 13, teve as negociações dificultadas em função da inteligência artificial. Um acordo entre profissionais e estúdios foi prejudicado por falta de entendimento sobre o uso da tecnologia. Segundo o site Deadline, ainda nesta quinta-feira, 13, não havia nenhuma negociação sobre o tema, o que é preocupante para o cinema. Os roteiristas, que estão em greve desde maio, também reivindicam regras claras e justas em relação à IA.

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Recentemente, o uso de IA em produções vem se tornando cada vez mais frequente. Somente nas últimas semanas séries como Black Mirror e Invasão Secreta, e filmes como Indiana Jones e Missão Impossível trouxeram aplicações relevantes da tecnologia. Dentre as principais discussões estão: direito de uso de imagem, substituição por IA e precarização nas relações de trabalho. O próprio criador de Black Mirror, Charlie Brooker, disse que tratar do tema na série reflete sua preocupação. “Estou muito preocupado com a IA e o uso do ChatGPT e coisas assim”. Charlie, inclusive, apoiou a greve de roteiristas.

Veja 4 personalidades que se opõem ao uso de suas imagens manipuladas por IA em vida (ou após a morte):




 

As discussões envolvendo IA e produções audiovisuais têm levantados muitas dúvidas. Para alguns, o tema é preocupante já que traz escala e velocidade na aplicação da tecnologia. Para outros, há anos a indústria já aplica vários tipos de tecnologias. Thiago Romariz, cofundador da plataforma Chippu e especialista em entretenimento e cultura pop, observa que, diferentemente da computação gráfica (CGI), muito conhecida da indústria e vigente em Hollywood há décadas, a inteligência artificial da forma que é aplicada (e evoluirá) hoje vai muito além de ter imagens incríveis ou personagens extraterrestres.

O ator Samuel L. Jackson, que estreou recentemente na série Invasão Secreta, da Marvel, não assina contratos que usam sua imagem em perpetuidade por estúdios.

“É muito mais uma questão da replicação autêntica de voz, rosto, gestos e movimentos de um ator ou profissional, sem precisar que ele esteja filmando. Por exemplo, em um dia de filmagem, a estúdio pode capturar as imagens e vozes de todos os atores da cena para que no dia seguinte, sem eles, um software de IA consiga replicar a cena inteira como o roteiro pede. É um exemplo hipotético, mas já é algo possível de vislumbrar e fazer na prática em pequenos vídeos – com a evolução da tecnologia vai ser questão de tempo pode extrapolar isso pra um longa-metragem”, explica.

De acordo com Romariz, no caso de IA, “o que está em jogo não é a proibição do uso, mas sim a regulação de uma tecnologia que vai usar identidade humana como matéria-prima. E a maior questão é: para um ator como Tom Cruise ou Jennifer Lawrence é mais simples negociar, pois as imagens deles valem milhões de dólares. Mas como ficam os outros milhares de atores e artistas que recebem dia a dia, por diária e que podem ver um trabalho de meses se transformar em um dia de captura de movimentos e vozes, e depois nunca mais eles poderiam trabalhar?”

Direitos e testamentos

Internada após uma infecção bacteriana, a cantora Madonna incluiu em seu testamento uma cláusula que impede o uso de hologramas e recriação de sua imagem por meio de inteligência artificial após sua morte. Morto em 2014, o ator Robin Williams deixou um documento que restringia o uso de sua imagem até 25 anos após sua morte. O documento especifica, inclusive, a proibição de uso para formatos como holografia, por exemplo.

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Os novos contratos do ator Keanu Reeves, assinados em fevereiros deste ano, proíbem os estúdios de editarem suas imagens por meio de IA e deepfake. O ator Samuel L. Jackson, que estreou recentemente na série Invasão Secreta, da Marvel, não assina contratos que usam sua imagem em perpetuidade por estúdios. De acordo com ele, isso se dá pela preocupação no uso de IA.

“A questão é: até o ano passado, inteligência artificial e afins não estavam disponíveis e acessíveis ao grande público. Isso mudou em 2023”, afirma Gustavo Miller, head de marketing da Defined.ai. Rodrigo Volponi, cyberpsicólogo especializado pela Nottingham Trent University, na Inglaterra, pondera que é um assunto complexo pois envolve, além dos fatores culturais, também elementos biológicos e cognitivos.

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