Um estudo pioneiro sobre o cultivo do açaizeiro em terra firme na Amazônia mostra que a presença de grandes áreas de vegetação nativa no entorno ou próxima aos plantios de açaí em terra firme pode aumentar em quatro vezes a produtividade do açaizal, quando comparada à lavoura com ausência de floresta. O trabalho, publicado na quarta-feira (12), no Journal of Applied Ecology, teve como abordagem a polinização integrada de cultivos. Ele comprova que a conservação da floresta é mais eficiente para aumentar a produtividade das áreas, o lucro do produtor e garantir a manutenção da biodiversidade, do que o manejo de abelhas nativas dentro dos cultivos.
O trabalho avaliou a introdução de colônias de abelhas da espécie Scaptotrigona postica, nativas da Amazônia e conhecidas popularmente como abelha canudo, em áreas com plantios de açaizeiro (Euterpe oleracea) em terra firme com diferentes gradientes de floresta no entorno ou próximas aos plantios. Os resultados mostram que as novas moradoras das áreas com floresta conservada contribuem para aumentar em 30% o número total de visitas de abelhas ao açaí. Por outro lado, elas reduzem em 60%, em média, a abundância de abelhas silvestres que vêm das áreas de florestas para visitar as flores do açaí e em 50% a riqueza, ou diversidade, dessas espécies.
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O artigo “Forest conservation maximizes açaí palm pollination services and yield in the Brazilian Amazon” é assinado por um grupo de cientistas da Embrapa Amazônia Oriental; Embrapa Meio Ambiente; IFMT (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso); UnB (Universidade de Brasília); UFBA (Universidade Federal da Bahia) e UFG (Universidade Federal de Goiás).
A polinização é um fator crucial para a produção de frutos do açaizeiro, uma vez que é uma palmeira de polinização cruzada (autoincompatível) e apresenta flores masculinas e femininas em tempos diferentes nas inflorescências. Ou seja, precisa de um agente que transporte o pólen das flores masculinas para as flores femininas de touceiras diferentes e, assim, possibilite a fecundação e a formação de frutos.
“Estudos anteriores já mostravam que o açaizeiro tem uma mega diversidade de visitantes florais, como abelhas, moscas, vespas, besouros e formigas. Mas são as abelhas nativas da Amazônia os polinizadores mais eficientes dessa palmeira“, lembra a bióloga Márcia Maués, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.
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Para compreender o impacto da introdução de caixas de abelhas em meliponários móveis nos plantios e a relação com a floresta próxima a essas áreas, os pesquisadores fizeram um amplo trabalho de campo. O grupo avaliou 18 áreas de plantio de açaizeiro em terra firme, distribuídas em sete municípios do estado do Pará. A escolha dessas áreas foi condicionada à presença de mais ou menos floresta nas proximidades dos cultivos. “No estudo, usamos um gradiente de cobertura florestal que vai de 10% a 40% no entorno ou próximo aos plantios e a abundância e riqueza de polinizadores silvestres presentes no ambiente”, afirma a pesquisadora.
A abordagem da polinização integrada de cultivos envolve tanto o manejo de polinizadores quanto o manejo da paisagem e foi a primeira vez que essa metodologia foi utilizada para os plantios de açaizeiro. “Existem duas estratégias principais para promover os serviços de polinização: manejo de polinizadores (introdução de caixas de abelha dentro dos plantios) ou melhorar as condições ambientais para aumentar a abundância e diversidade de polinizadores nativos no ambiente”, explica o biólogo Alistair Campbell, pesquisador colaborador da Embrapa Amazônia Oriental.
O foco do trabalho, continua Campbell, foi integrar as duas estratégias para mostrar ao produtor qual a melhor opção em diferentes cenários. “Ao longo do gradiente florestal, quando e onde compensa o produtor trabalhar com abelhas manejadas? Sempre vale ou nunca vale?”, questiona o pesquisador.
O principal resultado apontado pelo trabalho, como explica o biólogo Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, é que, no caso do açaí, o manejo da abelha canudo contribuiu parcialmente para o aumento da produtividade, mas os custos envolvidos não justificaram a ação. “Isso porque o aumento da produtividade com o manejo dessa espécie não foi tão grande quando comparado ao aumento proporcionado pela polinização prestada pela biodiversidade natural presente nas matas próximas”, afirma. Ele detalha ainda que, para poucos casos de polinização, o manejo de uma única espécie atende plenamente, mas para a grande maioria das plantas a diversidade de polinizadores é insubstituível.
O artigo finaliza um trabalho que iniciou em 2016 e envolve projetos que estudam as abelhas e polinização, financiados pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em parceria com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Abelha (Associação Brasileira de Estudos das Abelhas). (Com Embrapa)
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