Quase quatro décadas atrás, Jim Koch ajudou a desencadear uma revolução no mundo da cerveja artesanal quando lançou a Sam Adams. Essa marca se tornou a peça central da Boston Beer, uma empresa de capital aberto com US$ 2,1 bilhões em receita anual (R$ 10,2 bilhões na cotação atual)– e fez de Koch um bilionário, com um patrimônio estimado em US$ 1,5 bilhão (R$ 7,3 bilhões), segundo a Forbes. Agora, com o crescimento do número de cervejarias artesanais e como os desafios dessas cervejarias à lucratividade aumentaram, Koch quer proteger a revolução da cerveja artesanal a todo custo – mesmo financiando aqueles que podem acabar sendo seus próprios concorrentes.
As microcervejarias que estão começando hoje enfrentam altos custos iniciais e uma escassez de bancos dispostos a emprestar pequenas quantias. Lembrando de sua própria dificuldade em obter financiamento inicial para a Sam Adams, Koch criou um programa chamado Brewing the American Dream, para conceder empréstimos e orientação a pequenos empresários de alimentos e bebidas. O programa fez parceria com o Accion Opportunity Fund de microcrédito sem fins lucrativos, para emprestar US$ 99 milhões (R$ 480 milhões) desde sua fundação em 2008, e Koch diz que a taxa de reembolso foi de 96%. Este ano, o programa ultrapassará a marca de US$ 100 milhões.
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Koch reconhece que as cervejarias que seu programa apóia são as mesmas que a marca Sam Adams enfrenta nas lojas e tavernas. “No mercado, é possível se esbarrar um no outro e, no final do dia, sentar e tomar uma cerveja juntos”, disse ele. Koch afirmou que o sucesso de qualquer microcervejaria eleva a indústria artesanal como um todo: “Estamos todos tentando competir contra os grandes”. Embora a Boston Beer seja um negócio de US$ 3,9 bilhões (R$ 19 bilhões) – de capitalização de mercado –, administrado por um bilionário, é uma ninharia em comparação com empresas como a Anheuser-Busch Inbev, com um valor de mercado 30 vezes maior, e a Heineken, que é 15 vezes maior. A Boston Beer, apesar de todo o seu sucesso, tem 3% de participação de mercado nos EUA.
A história da origem de Sam Adams tornou-se lendária – Koch e sua parceira Rhonda Kallman vendendo cervejas artesanais em Boston, em meados da década de 1980, usando telefones públicos para minimizar os custos indiretos e ganhando o prêmio de “melhor cerveja da América” por sua principal cerveja, em seu primeiro ano, 1985. A cerveja americana tinha uma péssima reputação na época. As cervejas consideradas de alta qualidade eram todas de origem estrangeira, da Heineken à Becks.
“No começo, nossa competição era com a ignorância e a apatia”, disse Koch. “Pessoas que não conheciam uma boa cerveja e não se importavam se bebiam cerveja amarela e com gás adicionado. Como indústria, todos nós ajudamos a educar [o público]. E todos nós crescemos.”
Agora, os EUA são indiscutivelmente a capital mundial da cerveja artesanal, com o número dessas cervejarias no país atingindo um recorde histórico de 9.552 no ano passado, de acordo com a Brewers Association. Mas nem tudo são flores: a produção geral de cerveja artesanal americana estagnou no ano passado. Alguns analistas especulam que o mercado está próximo da saturação.
“É definitivamente um excesso e se vê um certo declínio”, disse David Steinman, editor executivo da plataforma Beer Marketer’s Insights. “Existem muitas empresas que estão em uma situação desafiadora.”
Pequenos produtores estão lutando por uma fatia da indústria cervejeira em geral, dominada por empresas como Anheuser-Busch Inbev e Molson Coors, que juntas controlam 81% do mercado norte-americano, de acordo com um relatório da IBISWorld de janeiro. Em um relatório divulgado no ano passado, o departamento do tesouro dos EUA encontrou “vários problemas competitivos” no setor, que podem levar ao aumento dos preços para os consumidores.
Koch tem criticado muito a consolidação do setor, apontando a decisão do Departamento de Justiça dos EUA de permitir as fusões da Molson Coors e SABMiller e da Anheuser Busch e InBev, em um artigo de opinião do New York Times de 2017. (Em 2019, a Boston Beer Company adquiriu a Dogfish Head por US$ 336 milhões [R$ 1,6 bilhão], um movimento que Koch descreve como “não uma aquisição de planilha”, mas de “uma união de forças”.)
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Financiar startups é uma das maneiras de Koch reagir. Em seus 15 anos de operação, a Brewing the American Dream treinou 14.000 empreendedores e criou ou manteve 9.000 empregos. Pouco mais de três quartos dos participantes do programa e beneficiários de empréstimos são negros, indígenas ou pessoas de cor, e 63% são mulheres. No ano passado, a média dos empréstimos foi de US$ 33 mil (R$ 160 mil). O programa não divulga quanto do financiamento vem da Boston Beer Company e do Accion Opportunity Fund. Koch diz que sua empresa direciona todos os lucros dos empréstimos de volta para o programa.
“Somos todos pequenas cervejarias”, disse Koch a um público de cerca de 125 pessoas, em um evento celebrando os finalistas do programa Brewing the American Dream’s Experienceship, realizado na cidade de Nova York na sexta-feira passada (23).
Se a Boston Beer Company ainda conta como uma cervejaria artesanal é discutível. Tecnicamente, a Associação dos Cervejeiros limita a designação àqueles que produzem até 6 milhões de barris (cerca de 955 milhões de litros) de cerveja por ano. A Boston Beer produziu 8,13 milhões de barris (R$1,3 bilhão de litros) no ano passado.
Ainda assim, sua reputação de pequenino permanece, em parte porque Koch continua experimentando novas cervejas e técnicas. “Eles ainda são cervejeiros artesanais em nosso livro”, disse Steinman, da Beer Marketer’s Insights. O argumento é de que não há uma maneira perfeita de definir o termo, mas que “a maneira como eles interagem no mercado está de acordo com o conceito de cerveja artesanal”.
As seis microcervejarias competindo pela orientação de Koch, no evento de sexta-feira, eram pequenas operações dirigidas por apenas duas pessoas. Muitos de seus fundadores ainda têm empregos em tempo integral, durante o dia. “Fazemos nossas torneiras à mão”, disse Bhavik Modi, da Azadi Brewing Company, com sede em Chicago. “E minha esposa faz nossa arte em lata.”
Marc Geller, da Three 3s Brewing, de Nova Jersey, disse que estava “no chão limpando um tanque com vazamento esta manhã”. Os cervejeiros enfatizaram que o treinamento de Koch sobre como navegar pelos altos e baixos da indústria seria inestimável em seus estágios iniciais de operação.
Quando perguntado se ele poderia ver a Boston Beer Company adquirindo uma dessas microcervejarias um dia, Koch disse que provavelmente não – “elas estão perfeitamente bem do jeito que estão” – mas acrescentou: “Quem sabe? Uma coisa que aprendi é nunca diga nunca.”
Apesar dos múltiplos desafios para as startups de cervejas artesanais, há oportunidades. Bart Watson, economista-chefe da Brewers Association, observou que o potencial de longo prazo para o crescimento da indústria ainda permanecerá vivo se as pequenas cervejarias desenvolverem novas estratégias para ampliar seu apelo de consumo. “A [cerveja] artesanal será maior do que é agora em 10 anos? Eu gostaria de acreditar que sim. Será maior do que é agora em dois ou três anos? Talvez não.”
Koch aponta que a infraestrutura em torno das startups é mais robusta do que quando ele começou em 1984. “Ser um empreendedor agora não é considerado a margem lunática do capitalismo, mas sim algo celebrado e admirado”, disse ele. “Quarenta anos atrás, não havia muito capital de risco. As pessoas questionavam sua sanidade. Isso não é mais verdade. Agora, os empreendedores são os heróis do capitalismo, o que é muito legal.”
O post Por que o bilionário dono da Sam Adams incentiva startups cervejeiras apareceu primeiro em Forbes Brasil.