Do Chief AI Officer ao ChatGPT como CEO, entenda como a IA está mudando o trabalho

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Profissionais temem que a inteligência artificial roube seus empregos, mas especialistas apontam que o segredo está na capacidade de adaptação

A inteligência artificial está mudando a cara do trabalho no mundo. Enquanto um terço dos profissionais teme que a automação coloque seus empregos em risco, segundo pesquisa global da consultoria PwC, novos cargos surgem, até mesmo no corpo executivo das companhias. 

Um deles é o Chief Artificial Intelligence Officer, um especialista no assunto, criado para ajudar a decifrar os rumos dessa tecnologia e implementá-la de forma estratégica. “A estrutura profunda das organizações mudará de maneira sem precedentes”, diz Marcelo Rinesi, Chief AI Officer da health tech Axenya. “Compreender, alavancar e liderar essa transformação é responsabilidade (e oportunidade) de todo Chief AI Officer.”

As organizações com visão de futuro já dedicam recursos e criam novos cargos para aproveitar o poder da IA generativa, que alavanca a produtividade das empresas e tem o potencial de impulsionar a economia global. As companhias brasileiras são as que mais adotam a inteligência artificial na América Latina, mostrou uma pesquisa feita pela IDC, empresa de inteligência de mercado, a pedido da plataforma de educação SAS. Além disso, 7 em cada 10 vão investir em inteligência artificial neste ano, segundo estudo da consultoria Deloitte. “A tecnologia está sempre evoluindo. Portanto, o que diferencia um profissional é a capacidade de se adaptar às novas ferramentas”, diz Guilherme Silveira, CIO da Alura, ecossistema de ensino em tecnologia.

A inteligência artificial já faz parte das vidas e rotinas profissionais há algum tempo. Está presente na recomendação de filmes e séries da Netflix ou no caminho fornecido pelo Waze. O diferencial agora é a IA generativa. “A IA funcionava mais como ferramenta de predição ou probabilidade, mas não nos dava a resposta. Agora, é completamente diferente”, afirma Júnior Bornelli, fundador da plataforma de inovação e tecnologia StartSe.

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Veja como a IA está transformando o mundo do trabalho:

1. ChatGPT como CEO

O português João Ferrão dos Santos provou que a IA pode ajudar na construção de negócios. Seguindo exclusivamente as instruções dadas pelo ChatGPT, o empresário conseguiu mais de 100.000 euros em investimento e vendas superiores a 12.000 euros desde que criou a empresa AIsthetic Apparel no final de março. A ideia de criar uma empresa lucrativa com um capital inicial muito baixo veio de um tweet do empresário Jackson Fall. “Vi aquela ideia e fiquei com uma curiosidade quase infantil”, disse Santos em entrevista à Forbes Portugal. Com apenas US$ 1.000 (R$ 4.855) iniciais, ele deu as primeiras instruções ao chatbot, que sugeriu um negócio online de impressão de t-shirts sob demanda, com loja no ecommerce Shopify, e criou o nome e logotipo da empresa.

João Ferrão dos Santos co-fundou uma empresa com o ChatGPT

O assunto viralizou quando o empresário compartilhou a história no LinkedIn. “Pedi ao GPT4 para se tornar um CEO e criar a empresa mais lucrativa que você pode construir com 1.000 USD e 1 hora humana por dia”, afirma na sua página. A loja foi lançada em 4 dias e vendeu 10 mil euros em camisetas nos primeiros cinco dias de operação.

2. Chief AI Officer 

As funções que mais crescem hoje são impulsionadas pela tecnologia, mostra o relatório Futuro do Trabalho 2023, produzido pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) em parceria com a Fundação Dom Cabral com dados de 45 países. Entre os novos postos de trabalho gerados, o principal é especialista em IA e aprendizagem de máquina. Os empregadores estimam que 44% das habilidades dos profissionais serão transformadas nos próximos cinco anos, segundo um novo estudo do FEM.

Marcelo Rinesi, especialista em inteligência artificial, diz que passou metade da sua vida tentando convencer as pessoas a usar essa tecnologia, mas agora percebe uma mudança cultural em relação ao tema. “As pessoas estão pensando em usar IA de uma forma que nunca haviam feito antes”, diz ele, que assumiu em agosto de 2022 o cargo de Chief AI Officer da health tech Axenya. “Há uma corrida para ter algum tipo de função formal relacionada à IA na maioria das empresas de tecnologia, às vezes reformulando o escopo de uma já existente”, completa.

A tecnologia é um imperativo para os negócios e, portanto, ter alguém pensando nessa constante evolução, mas ainda sem funções definidas como a de CFOs, por exemplo, é importante para as empresas. “Dizer: ‘Chief AI Officers são para empresas de tecnologia’ é como dizer que ‘CFOs são para empresas financeiras’”, pontua Rinesi. Segundo ele, toda organização lida com dinheiro, mas também trabalha com informações, modelagem e decisões e precisa de um especialista de IA, em uma função formal ou não. Do contrário, as empresas correm o risco de cometer erros ou perder oportunidades estratégicas e ser derrotadas por seus concorrentes.

Para ele, o principal dever do cargo hoje é descobrir como o trabalho funciona, liderando desenvolvedores e engenheiros para implementar essa arquitetura de forma estratégica e segura.

3. Novas profissões criadas pela inteligência artificial





4. Substituídos pelas máquinas?

Em um relatório do Goldman Sachs deste ano, o banco disse que a automação cria inovação, que leva a novos tipos de empregos. Para as empresas, haverá economia de custos graças à IA. Eles podem empregar esses recursos para construir e expandir negócios, aumentando o PIB global anual em 7%. 

Mas o banco de investimento também estimou que 300 milhões de empregos podem ser perdidos ou diminuídos pelo rápido crescimento da IA.

E as recentes declarações de empresas e seus executivos têm confirmado essa previsão. O CEO da IBM, Arvind Krishna, disse que a empresa deixará de contratar humanos nos próximos anos para trabalhos que a IA pode realizar. 

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Arvind Krishna, presidente da IBM

Em uma entrevista à Bloomberg, o executivo afirmou que acredita que cerca de 30% dos cerca de 26 mil cargos não voltados para o cliente, como empregos de recursos humanos, poderiam ser substituídos por IA em um período de cinco anos – totalizando cerca de 7.800 empregos perdidos.A empresa de telecomunicações britânica BT também disse que planeja substituir pelo menos 10 mil funcionários – a maioria com funções de atendimento ao cliente e gerenciamento de rede – por ferramentas com tecnologia de IA na próxima década. 

Em redes de fast-food, como a americana Wendy’s, a IA já substitui funcionários, automatizando pedidos de drive-thru. “O resultado assusta. A chance de a máquina ‘esquecer’ de tirar o picles do hambúrguer é menor do que se fosse um humano”, diz Bornelli, da Startse.

Humanos têm sido substituídos por máquinas desde a primeira revolução industrial e com a mecanização do agronegócio, mas a escala é incomparável. “Desta vez, a velocidade da destruição de empregos será muito maior do que a criação de novos empregos”, diz Bornelli, fundador da Startse, acrescentando que levará mais tempo até que as pessoas que perderam seus empregos aprendam uma nova atividade.

Mas os trabalhos criativos não devem ser eliminados. “Não  podemos esperar que haja uma inteligência que substitua completamente esse trabalho, seria um futuro distante e desnecessário”, afirma Guilherme Silveira, CIO da Alura, que defende o uso da IA para reforçar as capacidades humanas de forma positiva. “Desde que estejamos cientes de suas limitações, podemos utilizar a inteligência artificial de maneira poderosa.”

5. Como ficam as artes?

As discussões sobre o impacto da IA chegaram a Hollywood. No YouTube, é possível encontrar trailers de filmes do famoso diretor Wes Anderson, como “Star Wars”, “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis” criados com IA. Tom Cruise e Keanu Reeves são alguns dos atores que já foram alvo de deepfakes, vídeos realistas criados com tecnologia. 

Roteiristas perceberam que softwares de IA podem acabar substituindo profissionais humanos. Mas como um software pode escrever uma história de amor sem nunca ter se apaixonado, por exemplo? 

A cineasta Justine Bateman têm alertado que a IA já começou a substituir os humanos. 

Em um cenário que parece utópico, abordado no episódio “Joan is Awful” da 6ª e última temporada de Black Mirror, os estúdios podem tentar cortar custos e aumentar a receita usando IA generativa. 

Essa tecnologia, na verdade, já está sendo usada em alguns casos. O novo filme de “Indiana Jones” tem cenas em que Harrison Ford, hoje com 80 anos, parece ter 40. Isso porque a Lucasfilm, da Disney, usou imagens de seu rosto que foram filmadas durante os filmes de “Indiana Jones” na década de 1980. Mas o sindicato ainda está em negociações sobre essas questões, que começam a ser mais frequentes nos sets. 

6. Empresas estão buscando pessoas com experiência em ChatGPT

Enquanto muitos se preocupam em perder seus empregos para as máquinas, ferramentas como o ChatGPT podem, na verdade, ajudar a conseguir uma trabalho, de acordo com um estudo recente da ResumeBuilder, uma empresa de software baseada em IA.

Foram ouvidos 1.187 líderes empresariais e 91% estão contratando ou procuram contratar funcionários com experiência no ChatGPT. Dois terços dos que estão buscando contratar esse tipo de profissional acreditam que essa habilidade pode trazer uma vantagem competitiva para suas empresas. Saber usar ferramentas como o ChatGPT pode ajudar a aumentar a produtividade, economizar tempo e recursos, aumentar o suporte criativo e técnico e fortalecer a reputação da empresa. 

7. ChatGPT também ajuda a procurar emprego

Candidatos a emprego com visão de futuro também estão aproveitando a inteligência artificial em suas buscas. De acordo com uma pesquisa de fevereiro do software para currículos ResumeBuilder.com, de 1.000 pessoas procurando emprego, quase metade (46%) dos candidatos está usando o chatbot para elaborar seus currículos ou cartas de apresentação.

70% dos entrevistados viram uma taxa de resposta mais alta das empresas ao usar o ChatGPT. 78% dos candidatos que usaram o chatbot conseguiram entrevistas, enquanto quase seis em cada 10 foram contratados após o uso da ferramenta de IA durante o processo seletivo. No entanto, 11% dos candidatos foram rejeitados quando a empresa descobriu que eles estavam usando o ChatGPT.

8. Com ChatGPT Pro, empresa ganha em produtividade

Akash Nigam, fundador da Genies – empresa de ferramentas de avatar de US$ 1 bilhão usada por celebridades como Justin Bieber e Cardi B – assinou o ChatGPT Plus para seus funcionários a fim de automatizar tarefas repetitivas e observou um aumento na produtividade.

O empresário está gastando US$ 2.400 por mês em assinaturas para todos os seus 120 funcionários, segundo reportagem do Business Insider.

Segundo a OpenAI, a assinatura permite acesso geral ao ChatGPT, mesmo nos horários de pico, respostas mais rápidas e acesso prioritário a novos recursos e melhorias.

Nigam planeja tornar o uso do ChatGPT parte das avaliações de desempenho no próximo ano. Os funcionários que estão “usando a IA de forma eficaz” serão promovidos e receberão aumento, enquanto os outros ficarão para trás.

Segundo a organização de pesquisa National Bureau of Economic Research, o acesso à IA generativa no trabalho aumentou a produtividade dos funcionários em uma média de 14%.

E isso ainda pode representar um avanço para a economia global. O aumento da produtividade de programadores usando a inteligência artificial impulsionará o PIB global em US$ 1,5 trilhão até 2030, segundo uma previsão feita pelo professor da Harvard Business School Marco Iansiti e pelo CEO do desenvolvedor de software GitHub, Thomas Dohmke.

9. Empresas incorporam ChatGPT e outras ferramentas nas suas rotinas

Aproveitando o potencial da IA nos negócios, grandes empresas têm incorporado ferramentas como o ChatGPT nas suas rotinas. O Goldman Sachs, por exemplo, divulgou que está usando ferramentas de IA generativas para ajudar seus desenvolvedores de software a escrever e testar códigos. 

A empresa de consultoria de gestão Bain & Company anunciou no início deste ano que estava integrando as ferramentas generativas da OpenAI, dona do ChatGPT, em seus sistemas de gestão. 

10. … enquanto outras proíbem ferramentas de IA no trabalho

Mas ao mesmo tempo em que as ferramentas estão cada vez mais presentes nas rotinas profissionais, muitas empresas têm limitado e proibido o seu uso por parte dos funcionários. O próprio Goldman Sachs, que integrou a IA no trabalho dos seus desenvolvedores, é um dos bancos que limitaram o uso do ChatGPT pelos funcionários.

Em maio, a Apple também proibiu as ferramentas de IA, assim como outras grandes empresas, como a Samsung, depois de descobrir um vazamento acidental por um engenheiro que fez upload de um código confidencial no ChatGPT.

Em janeiro, a Amazon também impediu os funcionários de compartilhar qualquer código ou informação confidencial com o chatbot da OpenAI depois de alegar que descobriu exemplos de respostas do ChatGPT que se assemelhavam a dados internos da Amazon.

Em fevereiro, o JPMorgan Chase restringiu severamente o uso interno do ChatGPT para evitar possíveis armadilhas regulatórias sobre o compartilhamento de informações financeiras confidenciais com uma plataforma de terceiros.

Desde então, outros bancos como Bank of America, Citigroup, Deutsche Bank e Wells Fargo seguiram o exemplo.

A maioria das empresas que proíbe o uso dessas ferramentas está preocupada com a forma como serviços como o ChatGPT e o Bard do Google armazenam dados compartilhados em servidores. 

A outra complicação decorre do fato de que a maioria dos chatbots e serviços de IA dependem de entradas do usuário para treinar seus modelos e podem acidentalmente fornecer dados de uma empresa a outros usuários sem nem mesmo estar ciente disso. “São coisas que teremos que conviver e encontrar regulamentações. Contudo, a não adoção da IA por parte de algumas empresas pode ser desastrosa”, diz Júnior Bornelli, fundador da StartSe. “A competitividade, do ponto de vista de performance e eficiência, entre uma empresa que adota IA e outra que não adota, pode ser discrepante, quase injusta, tamanha a diferença de custos, por exemplo.” 

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