Entenda como a alta de 68% do bitcoin em 2023 reconfigura o mercado cripto

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Dado Ruvic/Reuters

Representações de Bitcoin, Ethereum, DogeCoin, Ripple, Litecoin: movimento de institucionalização das criptomoedas Foto: Getty Images

As cotações do bitcoin (BTC), mais negociada das criptomoedas, mudaram de patamar. Nesta terça-feira (20), as cotações estão em US$ 28 mil, perto da máxima deste ano, e com uma alta de 68% acumulada desde o fim de 2022. Após passar várias semanas retraídos, temerosos dos avanços na regulamentação nos Estados Unidos e no Brasil, e também do processo da SEC (Securities and Exchange Commission) contra a Binance, os investidores voltaram à ativa. Segundo especialistas, os grandes compradores internacionais em criptoativos, conhecidos como “baleias” (“whales”) acumularam US$ 3,5 bilhões em bitcoins desde o início do mês.

Há dois motivos para a animação do mercado: um conjuntural e outro estrutural. Na conjuntura, a perspectiva de encerramento da política de aperto monetário pelo Fed (Federal Reserve), o banco central americano. O outro, estrutural, são os sinais cada vez mais fortes de que participantes da economia “tradicional” estão se vinculando aos criptoativos.

Demanda reforçada

O exemplo mais importante é o fato de a gestora de recursos americana BlackRock ter anunciado que está lançando um ETF (Exchange Traded Fund) de bitcoins no mercado americano. A BlackRock é grande. Possui US$ 8,7 trilhões em ativos. Para comparar, toda a indústria brasileira de fundos de investimento encerrou maio com US$ 1,6 trilhão em patrimônio gerido.

O ETF da BlackRock não é o primeiro. Porém, sua entrada é um divisor de águas nesse mercado. “A entrada de um player como a Blackrock consolida a institucionalização desse ativo”, diz Luísa Pires, especialista em criptoativos da empresa de análise independente Levante Ideias de Investimentos. “Isso é ainda mais relevante pelo fato de o ETF estar lastreado no mercado a vista, e não em contratos futuros.”

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A diferença é que um ETF lastreado no mercado a vista permite aos investidores comprar efetivamente uma moeda que será custodiada por terceiros, ao passo que um ETF de contratos futuros não adquire diretamente os derivativos. “Isso permite que mais investidores comprem ativos diretamente, o que eleva a demanda”, diz Pires.

Segurança para o investidor

Além das notícias internacionais, o mercado avança no Brasil também. O governo autorizou o BC (Banco Central) a regular a prestação de serviços envolvendo ativos virtuais. Pelas novas regras, o BC terá a autoridade para regular e fiscalizar as exchanges. Porém, o controle será dividido: os tokens que tiverem relação com o mercado de capitais seguem sob a supervisão da  CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A medida já era esperada, mas alguns pontos relevantes ainda ficaram de fora. O BC ainda vai definir sobre a segregação patrimonial entre clientes das exchanges e essas empresas.

Essa alteração é importante, porque aumenta a segurança institucional para os investidores. Criptoativos são, por definição, voláteis. Porém, uma coisa é risco de mercado, outra é risco de execução (ou de fraude). Apesar de o risco de mercado não estar sendo mitigado com essa mudança, o ambiente operacional poderá ficar mais seguro. Qualquer profissional do mercado financeiro sabe que a fiscalização do BC não é perfeita, mas funciona bastante bem.

Como isso vai afetar os preços? O mais provável é que a formalização atraia mais participantes da economia “tradicional”, elevando a demanda por esses ativos. Essa alteração, e a migração de gigantes como a BlackRock para esse mercado, garantem uma demanda estrutural mais robusta para as criptomoedas.

E há mais um ponto. Historicamente, o interesse dos investidores por bitcoins aumenta quando as cotações se aproximam de US$ 30 mil. Não há um motivo específico ou técnico para isso, é apenas uma comprovação empírica do comportamento do mercado. Assim, não é improvável que o bitcoin possa iniciar um movimento sustentável de valorização.

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