Lewis Hamilton, sua inspiração em Ayrton Senna e uma lembrança de 17 anos

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Foto: Jiri Krenek

Lewis Hamilton durante o último GP da Arábia Saudita

Lewis Hamilton é o piloto com maior número de poles, vitórias e títulos na história da F1. Um ídolo mundial cuja fama transcende o esporte. E tudo começou vendo uma estrela que dominava as pistas quando este jovem e humilde britânico da periferia de Londres sonhava em ser piloto – Ayrton Senna.

Agora, aos 37 anos de idade, Hamilton espera que a história possa se repetir no futuro, desta vez com ele no papel de fonte de inspiração. Foi o que ele me respondeu após uma pergunta que fiz durante uma sessão de entrevista em Barcelona, no GP da Espanha de F1.

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“Minha inspiração sempre foi o Ayrton (Senna) e, com documentário junto com a Apple TV, tenho a esperança de realmente fazer o que o documentário de Senna fez por mim quando criança”, diz Hamilton, que cita o documentário “Racing is in My Blood”, de 1992, como um marco em sua admiração pelo brasileiro.

“É estranho ter uma câmera seguindo você. É sobre a minha vida. É sobre minha carreira e a minha jornada. É algo novo e espero que ele seja capaz de fazer isso para o próximo garoto que estiver assistindo, voltando da escola e sonhando com algo. Espero que eles possam assistir a isso e se inspirar para fazer algo grandioso”, completou Hamilton.

Curiosamente, nesta entrevista de 2023 em Barcelona, também fiz questão de relembrar ao piloto da Mercedes outro momento da carreira do britânico: o ano de 2006, quando ele fazia sua estreia na GP2 (atual Fórmula 2, divisão de acesso da F1) e sequer imaginava acumular mais de 100 vitórias no topo do automobilismo mundial e sete títulos mundiais.

Naquele final de semana, este repórter também estava em Barcelona para cobrir o GP da Espanha de F1, mas Hamilton era um “mero coadjuvante” – já que não fazia parte do grid da F1 e sim da categoria preliminar. No entanto, fui atrás de uma entrevista com o britânico justamente por ele já ser um talento promissor, acumulando títulos no kart e nas categorias de fórmula. Além disso, ele viria a se tornar o primeiro piloto negro a competir na F1, rompendo uma barreira de décadas, e já tinha um contrato de piloto de testes com a McLaren.

Como piloto da GP2, o acesso a Hamilton era direto – me apresentei diretamente a ele no paddock (na época ele nem tinha assessoria de imprensa pessoal). Achei ele no box, disse que era um jornalista brasileiro e que gostaria de entrevistá-lo. Sua primeira reação foi: “sério, do Brasil? Eu amo o Brasil, sou muito fã de Ayrton Senna, ele é a razão de eu estar aqui”. Como é natural para um jornalista, minha reação imediata foi de enorme satisfação, por já imaginar que aquela entrevista renderia um ótimo material para os leitores brasileiros.

Respondi que o público no Brasil iria adorar ouvir esta história e perguntei a ele quando poderíamos marcar a entrevista naquele final de semana em Barcelona. “Você pode falar agora? Vamos conversar aqui mesmo no paddock da GP2”, respondeu o jovem Hamilton, puxando uma cadeira e convidando o jornalista para se sentar na mesa. Pois é, outros tempos… E assim, em 2006, eu fazia a minha primeira entrevista exclusiva com Lewis Hamilton e a primeira em escala nacional a repercutir sua admiração por Ayrton Senna.

De volta a 2023, não é uma missão tão simples ouvir Hamilton novamente. Mas durante a entrevista organizada pela Mercedes para a imprensa internacional no GP da Espanha, aproveito a oportunidade para relembrar desta época de 2006 e se o Hamilton daquela época um dia imaginava o sucesso que ele teria 17 anos depois.

“É realmente meio maluco pensar que há 17 anos eu estava aqui em Barcelona e vocês jornalistas também e todos nós crescemos e ficamos mais velhos (risos). Essa jornada tem sido incrível. Em 2006 será que eu pensaria que teria conquistado tantos títulos? Não. Naquela época eu sequer tinha a certeza de que estaria um dia no grid da F1. Cada segundo de minha vida e cada decisão que tomei na pista em minha mente era um fator decisivo para saber se eu conseguiria um dia uma oportunidade, se alguma porta se abriria para mim. Esse era meu foco total durante todos os dias. Eu só pensava em cruzar a linha de chegada em primeiro. Eu pensava em como convencer o Ron (Dennis, chefe de equipe da McLaren) a me dar uma chance, então é bem louco mesmo”, disse Hamilton.

Com tantas conquistas, o suficiente para creditar o inglês como o melhor piloto de todos os tempos, pelo menos na frieza das estatísticas, é justamente aquele jovem aspirante a F1 de 2006 que faz o Hamilton atual seguir acreditando que pode vencer – após um ano de 2022 sem vitórias, o primeiro em sua carreira desde 2007, quando ele venceu logo no GP do Canadá de F1 em seu ano de estreia.

“Voltando a estar aqui, em 2023, quero mostrar do que realmente sou capaz e eu tenho que continuar a provar meu valor a cada final de semana. E tenho feito isso já há muito tempo. E eu me sinto muito ligado aquele jovem (Hamilton) porque eu tenho muita fome de vitória e disposto a sacrificar praticamente tudo para conquistar o lugar onde mereço estar. E isso não mudou nada em relação aquela época de 2006”, completa Hamilton.

Com tanta motivação em uma única resposta a um jornalista brasileiro, o inglês mostra que aprendeu bem uma das principais lições de seu ídolo, Ayrton Senna: garra e determinação para vencer sempre. Que Hamilton voltará ao topo do pódio parece ser apenas questão de (pouco) tempo.

 

 

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