O produtor Ricardo Tavares, que cultiva mogno africano na fazenda Atlântica Agro, no município de Pirapora (MG), precisou dar um salto nos negócios que realiza com esse cultivo. Dono de 515 hectares de árvores plantadas, o produtor decidiu criar a empresa R3 Mogno para prosseguir com o beneficiamento da madeira. O projeto inicial é desbastar 210 árvores por hectare.
“O mogno jovem tem que ser beneficiado para ser vendido, ou seja, tem que ser serrado e seco com qualidade”, diz Tavares. “O nosso volume de madeira é grande, por isso, estou montando um centro de beneficiamento para colocarmos o mogno africano no mercado nacional e internacional até o final do ano.”
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Tavares é exemplo de cultivo de árvores plantadas com potencial crescente de mercado. O mogno africano começou a ser plantado no Brasil há pouco mais de 20 anos, com as primeiras florestas no estado do Pará. Na fazenda de Tavares, a madeira das florestas plantadas com sementes oriundas das árvores pioneiras está em fase de primeiros cortes e começa a ser beneficiada. Atualmente, existem mais de 60 mil hectares plantados, com florestas presentes em 12 estados brasileiros e em quase 50 municípios.
Produtores já comercializam a madeira nobre do mogno jovem e outros estão em processo de preparação para o beneficiamento. É o caso de Tavares, que, além de produtor, é presidente da ABPMA (Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano), entidade criada há 12 anos. “A ABPMA é um grupo, que trabalha em conjunto, para tornar o Brasil o maior produtor de floresta plantada de mogno africano do mundo. Com uma ótima adaptação no solo do Brasil e pelo grande interesse na plantação criaremos um ciclo de corte versus plantio inesgotável”, diz ele. A entidade marcou para o período de 2 a 4 de agosto, em Belém (PA), um encontro nacional de produtores.
Tavares acredita que o país pode se tornar um produtor de relevância dessa madeira e não é somente ele que vê futuro na empreitada. E de negócios, o empresário Tavares entende. Na década de 1980, foi fruto ele que projetou a marca Café Três Corações como um produto nacional, até que em 2000 a empresa foi vendida por US$ 41 milhões à atual proprietária, a israelense Strauss-Elite. Tavares também criou a marca Suco Mais, de bebidas naturais, que em 2005 ele vendeu para a Coca-Cola, na época por R$ 110 milhões. Tavares, que é o controlador do Grupo Montesanto Tavares, hoje é um grande produtor e exportador de cafés premium.
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Em março, o ITTO (International Tropical Timber Organization), órgão mundialmente conhecido por suas publicações sobre o mercado de madeiras nobres, divulgou uma nota sobre o mogno africano em que ressalta sua importância no mercado brasileiro: “O mogno africano cultivado em plantações no Brasil está prestes a mudar o mercado de madeira. O mogno africano representa um alto potencial de investimento para os produtores brasileiros e é uma alternativa ao mogno brasileiro, que está listado como espécie ameaçada de extinção. (…) Estabelecer plantações de mogno não apresenta problemas intransponíveis e as árvores estarão prontas para colheita após 20 anos.”
O interesse no mogno africano cresceu no Brasil porque essa madeira pode substituir a espécie brasileira, que está em extinção. A madeira africana preserva as florestas nativas do Brasil e tem se tornado uma alternativa para evitar o corte de outras madeiras nobres que também correm o risco de extinção. A atividade florestal proporcionada pelo plantio do mogno africano atenua a pressão sobre matas nativas, recupera solos degradados e promove a conservação do solo. Os projetos viabilizam atividades locais, criam oportunidades de renda adicional e auxiliam na fixação do homem no campo.
Além disso, segundo a entidade, o mogno africano possui retorno rápido: a partir dos 12 a 15 anos de plantio, os produtores começam os primeiros desbastes das florestas, e essa madeira, mesmo jovem e com valor inferior ao da madeira adulta, já pode ser beneficiada e encontrar seu mercado. Para a madeira adulta ser aceita amplamente no mercado de madeiras nobres, as florestas levam de 18 a 20 anos. Outras espécies, como os ipês, precisam de 40 anos para chegar ao ponto de corte.
Além do cultivo, a ABPMA tem feito um trabalho de peso para colocar a árvore como solução ao consumidor. “Estamos mostrando aos arquitetos, designers e construtores a potencialidade dessa madeira, que é sustentável, ecologicamente correta, bonita, de uma forma diferente como madeira exótica, e plantada aqui dentro, no Brasil, não sofrendo restrição de corte”, afirma Patrícia Fonseca, diretora-executiva da ABPMA.
O trabalho vem dando frutos. O mogno africano tem ocupado espaços em mostras de arquitetura, design e decoração em todo o país nos últimos anos e a presença em grandes premiações. A instalação Siré (Xirê), do designer mineiro Gustavo Greco, acaba de receber um dos maiores prêmios internacionais do segmento, o iF Design Award. A peça exposta na Casacor Minas em 2021 era composta por 515 cobogós de mogno africano, representando elementos da religiosidade africana, ligados à origem da madeira.
“O mogno africano nos pareceu a melhor escolha para dar materialidade à nossa ideia. Foi a primeira vez que trabalhamos com essa matéria-prima e ficamos impressionados com sua resistência e durabilidade”, diz Greco. “A madeira é conhecida por sua beleza e qualidade, e entre as suas vantagens estão a alta densidade e resistência à umidade, além da sua cor uniforme e atraente, que pode variar do marrom-avermelhado ao marrom-claro.”
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