Como é acelerar no condomínio de luxo que tem pista de corrida no quintal

  • Post author:
  • Reading time:6 mins read
Foto: Renato Durães

Pilotamos um BMW M4 GT4 no Thermal Club, na Califórnia (EUA)

Dois milhões de dólares pelo terreno, outros três a quatro para construir a casa, US$ 175 mil pelo título, US$ 2.400 pela mensalidade: pronto, você acaba de entrar para o Thermal Club, o clube-condomínio mais desejado por quem ama carros na Costa Oeste dos EUA.

“Dez anos atrás, Tim me ofereceu um dos primeiros terrenos por US$ 300 mil”, diz o piloto e instrutor Brian Randall, 52, referindo-se ao seu amigo e fundador do Thermal, o empreendedor Tim Rogers, 71. “Eu segurei o riso e recusei educadamente”, continua, antes de soltar um suspiro e lamentar: “Quem está rindo agora?”.

Leia mais: 

Híbrida, conversível e V6, 296 GTS marca nova era da Ferrari
Dirigimos a Scenic mais antiga do Brasil, um protótipo de 25 anos
Museu contará história do Brasil com 500 carros clássicos

O erro de Brian dói mais a cada 15 dias, quando passa ao lado dos terrenos milionários que deixou escapar a caminho de mais um dia de trabalho no BMW Performance Center – instalado dentro do Thermal –, onde ministra cursos de pilotagem.

E foi o convite para um curso anual de alta performance que me trouxe até aqui (preço: US$ 4.995). Por causa dele que estou amarrado no cockpit de um BMW M4 GT4, um puro-sangue de competição completo com pneus slick, interior aliviado, câmbio sequencial, tração traseira e quase 500 cv no motor 3.0 seis cilindros biturbo.

À minha frente, em uma novíssima M3 Competition de rua, calçada com pneus semi-slick, Brian manda instruções pelo rádio. Àquela altura, eu já havia ganhado a confiança do ótimo piloto e péssimo investidor imobiliário nos módulos anteriores do curso de dois dias, com carros de rua.

“Já vi que você sabe o que está fazendo, mas os advogados nunca me deixariam liberar você totalmente sozinho na pista”, explica. “Então, assim que eu sair do box, ande em primeira marcha por uns 30 segundos para eu abrir uma boa distância. Assim você vai ter umas duas voltas acelerando com pista limpa até me alcançar”, orienta o instrutor.

Eis a vibe californiana do Thermal Club: relaxada, flexível e divertida. Ao contrário dos circuitos brasileiros a que estamos acostumados, fiéis à escola europeia onde o traçado segue organicamente a topografia do terreno, o Thermal foi projetado conscientemente para gerar sequências de curvas que maximizam a diversão dos seus sócios. O resultado é adrenalizante, ainda que puristas como eu detectem uma pitada de artificialidade.

Em 2012, o BMW Performance Center foi o primeiro cliente corporativo do complexo – dando legitimidade para o empreendimento, que seguiu atraindo endinheirados de toda a Costa Oeste. Hoje, 135 dos 225 lotes já foram vendidos, com 75 casas já construídas. Detalhe: apenas duas das belas villas do Thermal são habitadas em tempo integral. Para 99% dos seus sócios, uma propriedade no Thermal é um mimo para ser desfrutado aos finais de semana. O curso é a única oportunidade de não moradores voarem baixo neste autódromo.

Evento beneficente de US$ 250 mil

O curso termina, mas permaneço no deserto de Palm Springs. Dois dias depois de sair do cockpit da M4, cubro a estreia da pré-temporada da Fórmula Indy – é a primeira vez que o Thermal abre suas exclusivíssimas portas a uma categoria de ponta do automobilismo profissional. Não por mera cortesia: a visita das estrelas da Indy com seus monopostos de 750 cv é uma espécie de evento-teste para mais uma extravagância de Tim.

Para 2024, a ideia é que os sócios do clube possam participar de um evento beneficente em que cada um pagaria US$ 250 mil pelo privilégio de ser parceiro de uma estrela da F-Indy em uma disputa em duplas.

A bem da verdade, o conceito do Thermal não é inédito ou original – fundado em 2008 no estado de Nova York, o Monticello Motor Club oferece um formato semelhante para os abonados da Costa Leste dos EUA, e até no Brasil o condomínio Casa de Pista, adjacente ao Circuito dos Cristais, em Curvelo (MG), apresenta uma proposta semelhante (ainda que a distância para grandes centros como Belo Horizonte e São Paulo tenha amornado o projeto nacional).

Na sala de imprensa da Indy, marco uma entrevista com Tim. O assessor me informa que o papo será em movimento: a bordo da Lamborghini Urus vermelho-terracota do empreendedor, que está saindo dos boxes para visitar a mais nova casa concluída do clube – e, para meu gosto, a mais bela de todo o complexo. A primeira pergunta é óbvia: como surgiu a ideia do Thermal?

“Nem todo mundo quer jogar golfe”, sorri o fundador, que fez fortuna com uma rede de postos de gasolina e lojas de conveniência pela Califórnia, mas conta com outros sócios-investidores no projeto, que tem investimento total projetado de US$ 275 milhões. Nenhum dos 210 sócios (é possível comprar uma casa ou lote em sociedade, por isso há mais membros do que casas) é brasileiro. “Mas meu filho namorou Camila Alves muitos anos atrás”, revela, referindo-se à atual esposa do astro Matthew McCounaghey.

Visitamos a casa de Greg Goldfinch, 58, empresário da construção civil no estado do Oregon. O tour da villa de três andares começa, é claro, pela garagem para nove carros. Três deles preparados para a pista, os brinquedos de finais de semana de Greg são um Chevrolet Corvette Z06, um Porsche 911 GT3 e um BMW M2 Competition.

O portão da garagem abre diretamente para uma saída para a pista. Subimos dois andares de escadas – o elevador seria instalado no dia seguinte – até adentrar o terceiro e épico andar, onde o aroma de churrasco desperta minha fome e todo o (numeroso) clã Goldfinch parece estar tendo “the time of their lives”. Todo envidraçado, o ambiente é voltado para a enorme varanda, que na prática se torna um camarote VIP do ponto mais interessante do traçado do Thermal, um complexo de curvas de alta que os F-Indy negociam a velocidades insanas.

Talvez já turbinado por duas ou três IPAs e eufórico com a adrenalina de ter os carros de corrida mais velozes do mundo zunindo no seu quintal, Greg nos recebe com uma hospitalidade generosa que só posso chamar de… brasileira. “Fala a verdade: é ou não é a coisa mais sensacional do mundo?”, provoca meu anfitrião, explodindo de orgulho da sua nova casa de lazer enquanto mordisca mais um pedaço de ribs assado ali mesmo, no defumador da sacada.

Tomando mais um gole da Hazy IPA de Greg enquanto o Indy de Romain Grosjean ruge a 270 km/h a poucos metros dos nossos pés, só posso concordar.

Veja fotos do Thermal Club:











O post Como é acelerar no condomínio de luxo que tem pista de corrida no quintal apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Deixe um comentário