Em 1831, a vinícola familiar Albert Bichot foi fundada na Borgonha, famosa região central da França, por causa de seus vinhedos, todos eles cultivados organicamente. Isso ocorreu naturalmente até o fim daquele século, pois só após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940, que herbicidas, pesticidas e fertilizantes sintéticos foram adotados pela agricultura em todo o mundo.
Voltando às origens recentemente, a Albert Bichot se tornou uma das primeiras grandes empresas vinícolas da Borgonha a obter certificação orgânica em suas vinhas próprias. A empresa também adotou outras práticas sustentáveis, como a redução do peso de algumas de suas garrafas de vinho e o uso de materiais reciclados na maioria de suas embalagens, como rótulos, vidro e papelão.
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Segundo Matthieu Mangenot, atual diretor técnico adjunto da Albert Bichot, faz sentido a empresa adotar iniciativas progressivas de sustentabilidade. Mangenot possui uma formação única, por ser enólogo e agrônomo, especializando-se em agricultura sustentável e na produção de vinho.
“A família está comprometida em cuidar do meio ambiente”, afirma Mangenot. “E ser orgânico é importante para proteger o meio ambiente, bem como os funcionários. Começamos a buscar a certificação orgânica em 2000 e levamos mais de 10 anos. As vinhas foram certificadas em 2014, e o vinho é reconhecido na Europa como orgânico desde 2018.”
Dado que a Albert Bichot é uma das maiores empresas vinícolas da Borgonha, com seis propriedades e um total de 110 hectares de vinhedos, alcançar a certificação em 100% da área é uma grande conquista. Até o momento, cinco das propriedades receberam a certificação oficial, e a sexta está programada para 2025.
Utilizando uvas orgânicas e sustentáveis na Borgonha
Embora existam outras vinícolas na Borgonha que cultivem no sistema orgânico, poucas obtiveram certificação oficial. Isso ocorre porque a certificação envolve um processo rigoroso de documentação de três anos para provar que estão usando apenas materiais orgânicos na vinha e na vinícola. Todos os processos são validados anualmente por auditores independentes, e a empresa deve pagar uma taxa de auditoria a cada ano.
A Albert Bichot também compra uvas de produtores locais para complementar suas vinhas próprias. Ao fazer isso, priorizam vinhas que foram cultivadas organicamente ou de forma sustentável (frequentemente chamada de “lutte raisonnée” na França). Isso lhes permite produzir uma ampla variedade de bebidas, desde vinhos regionais básicos que são vendidos nos Estados Unidos por cerca de US$ 26 (R$ 130 na cotação atual) por garrafa até sua linha de Grand Cru, como o Domaine du Clos Frantin Richebourg, que tem uma média de US$ 1.115 (R$ 5.500) por garrafa.
“Somos proprietários de 110 hectares e compramos uvas de cerca de 500 hectares, além de vinho a granel”, explicou Mangenot. No total, a empresa produz de 6 a 7 milhões de garrafas de vinho por ano, com receitas anuais aproximadas de 17 milhões de euros (R$ 90,6 milhões). A vinícola possui 180 funcionários e oferece vinhos da maioria das principais regiões da Borgonha, como Chablis, Cote de Nuit, Beaune, Mâconnais, Beaujolais e outras.
Mas, nos EUA, a Albert Bichot não pode usar a certificação orgânica para os seus vinhos, por causa das diferenças de regulamentação entre a UE e os EUA. Na Europa, os vinhos orgânicos são rotulados como ‘Bio’ e devem ser feitos com uvas cultivadas organicamente, mas podem conter até 100 mg/L de sulfitos (um conservante natural) para vinhos tintos. Nos Estados Unidos, nenhum sulfito é permitido em vinhos orgânicos. Por isso, a maioria dos produtores orgânicos nos EUA apenas rotula seus vinhos como sendo feitos com uvas orgânicas e não como sendo vinhos orgânicos.
Vinhos da Albert Bichot agora podem ir em garrafas mais leves
“O próximo passo é analisar nossa pegada de carbono”, afirma Mangenot. Ele citou algumas das ações que a empresa já tomou nesse sentido, incluindo a redução do peso das garrafas. “Usamos cobertura vegetal nas vinhas e cavalos para a lida nas vinhas do Chateau Gris, por causa dos terraços íngremes. Também começamos a reduzir o peso das garrafas há 3 a 4 anos”.
Mangenot salienta que várias companhias aéreas, bem como importadores no Canadá e países escandinavos, estão agora exigindo vinhos produzidos em garrafas mais leves. O peso da garrafa é um dos principais contribuintes para a pegada de carbono do vinho, devido ao alto consumo de energia na produção de vidro e sua distribuição.
“No entanto, não podemos reduzir o peso das garrafas em alguns países, porque em um Grand Cru exigem uma garrafa pesada”, explica Mangenot.
A empresa também utiliza vidro reciclado em 80% a 90%, imprime seus rótulos em papel reciclado e biodegradável e foca na gestão florestal, bem-estar dos funcionários e dos animais. Eles também renovaram recentemente o design de seus rótulos para que fossem mais modernos e também refletissem sua história com o logo do cervo e sua visão eco responsável.
Vinho feito com uvas orgânicas tem um sabor melhor?
Quando perguntado se ele acredita que o cultivo orgânico impacta o sabor e a qualidade do vinho, Mangenot respondeu: “As uvas orgânicas adicionam complexidade, textura, frescor, duração e finalização ao vinho. A qualidade e a consistência são melhores com o cultivo orgânico. Isso influencia o consumidor”.
A desvantagem de cultivar organicamente, segundo Mangenot, é o custo de produção de 20% a 30% mais caro, por causa do aumento da mão de obra e insumos, como algumas máquinas específicas.
No total, a Albert Bichot produz 105 tipos diferentes de vinhos, com foco em chardonnay, pinot noir, aligoté, gamay e vinhos espumantes de diferentes denominações da Borgonha.
“Quando se pensa em Borgonha, todos visualizam os vinhos de alto padrão, mas a Borgonha não é apenas isso”, afirma Mangenot. “Além dos vinhos premier e grand cru de alta qualidade que produzimos, o mercado também demanda vinhos regionais leves e frutados da Borgonha a preços acessíveis. Portanto, 50% de nossa produção são vinhos regionais acessíveis, como nosso Bourgogne Blanc, Rouge, Aligote, Crémant e Chablis.”
A Albert Bichot vende seus vinhos em mais de 100 países. Seu principal mercado é a França, com 35% das vendas, seguido pelo Canadá, Estados Unidos, Hong Kong, Japão e Singapura. No Brasil, eles podem ser comprados em market places como Sonoma, Adega Bartolomeu, Winebrands, Divvino, entre outros.
* Liz Thach é colunista da Forbes EUA, doutora e Master of Wine (MW), professora, escritora e consultora de vinhos, com base em Napa e Sonoma, na Califórnia. Escreveu nove livros, incluindo “Call of the Vine”, “Best Practices in Global Wine Tourism” e “Luxury Wine Marketing”.
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