O novo palco de Bruno Gagliasso: 1 milhão de hectares de floresta

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Thiago Bruno/Pachamama

Bruno Gagliasso, ator e empresário, tem se dedicado a causas ambientais

O ator e empresário Bruno Gagliasso, 41 anos, está plantando 50 mil árvores em uma pequena propriedade que mantém no município de Paraíba do Sul, na região serrana do Rio de Janeiro, onde construiu um hotel fazenda de luxo. Do total, Gagliasso já plantou 25 mil, mas seu foco atual é outro: ele quer construir uma relação muito maior com o meio ambiente, em um projeto que hoje já possui como base 1 milhão de hectares de florestas nativas na jogada.

Na semana passada, ele deixou a lida do plantio de árvores para uma conversa exclusiva com a Forbes. “A floresta em pé é valiosa, a floresta em pé remunera”, diz ele. “O que vai mudar o mundo é a economia verde e precisamos cuidar do mundo.” Junto com o empresário João Marcello Gomes Pinto, e seu sócio na empreitada, Gagliasso contou em detalhes  à Forbes do que se trata a Pachamama Investimentos, com sede em São Paulo (SP), um projeto que envolve cerca de 80 pessoas, entre agrônomos, biólogos, economistas, técnicos, comunicadores, para comercializar as denominadas UCS (Unidade de Crédito de Sustentabilidade) a partir desta quarta-feira (31).

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A Pachamama Investimentos, que começa a operar nesta semana, é uma trading ambiental que tem cinco áreas de florestas nativas espalhadas no bioma Amazônia, principalmente, e que compõem o seu portfólio de 1 milhão de hectares para o comércio de UCS. A maior parte dessa área está dentro de propriedades rurais, principalmente, como Reservas Legais e APP (Áreas de Preservação Permanente). O Brasil possui 227 milhões de hectares de vegetação nativa preservada dentro das propriedades rurais, o equivalente a 26,7% do território do país, segundo a Embrapa Territorial, unidade localizada em Campinas (SP), com base no censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Cada UCS equivale a 1 hectare, hoje cotada em R$ 160 na Pachamama. As UCS são lastreadas em CPR Verde registrada na bolsa de valores B3 e tokenizadas em blockchain. A CPR Verde é um título de crédito destinado aos produtores rurais para que comercializem serviços ecossistêmicos, como as atividades de conservação ou recuperação de florestas nativas e de seus biomas.  A estimativa é comercializar 1 milhão de UCS no próximo ano.

Thiago BrunoPachamama

João Marcello Gomes, sócio de Gagliasso, está há 15 anos no mercado de projetos verdes

Para entrar nesse mercado, a empresa de Gagliasso e Gomes Pinto criou uma metodologia juntamente com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) patenteada e transferida. “Criamos uma metodologia sustentável e totalmente auditável”, afirma Gomes Pinto, engenheiro civil pós-graduado em gestão de riscos ambientais na KIT (Karlsruher Institut für Technologie) e fundador da Sustentech em 2007, empresa especializada em edifícios verdes e soluções ESG (Ambiental, Social e Governança). “E vamos além do comércio do crédito de carbono.”

O crédito de carbono é um dos ítens que compõem o pacote ambiental, mas ele não está sozinho. A metodologia que define uma UCS leva em conta, por exemplo, quantos metros cúbicos de água há em uma determinada área, quanto de fauna e flora, entre outros indicativos. Para se tornar uma UCS, a área é inventariada e monitorada.

Casamento de conveniência na floresta

Mas a Pachamama Investimentos não nasceu do zero. Ela é uma joint venture com a greentech BMV (Brasil Mata Viva) Global, uma empresa  fundada em 2007 e que cria e administra projetos na área ambiental, além de conceder o selo BMV. No início deste ano, um dos empreendimentos de Gagliasso, a Pousada Maria Flor, na ilha de Fernando de Noronha, conquistou o selo BMV de sustentabilidade. A pousada foi a primeira a neutralizar a emissão de carbono, como integrante do Programa Noronha Carbono Zero, que tem como meta neutralizar 100% das emissões até 2050.

“BMV Global e a Pachamama se uniram em um modelo de negócio para atuar no mercado de ativos baseados na natureza, um mercado com potencial de movimentar cifras de mais de US$ 1 trilhão, de acordo com publicação do banco mundial.”, afirma Maria Tereza Umbelino, CEO do BMV Global. “O mercado de créditos de biodiversidade gera valor para aqueles que se engajam na conservação da biodiversidade. De um lado, comunidades que vivem da e na floresta ganham e, de outro, além da reputação por gerar externalidade positiva, países, empresas e corporações obtêm ganhos econômicos ao incorporar o produto da conservação como componente de sua atividade econômica.” Gagliasso anunciou a parceria com a BVM no início de maio, durante o Web Summit Rio, quando a plataforma de tokenização de ativos ambientais foi apresentada por Umbelino.

Pachamama/Divulgação

Núcleo Arinos, uma das cinco áreas de florestas que podem ter UCS vendidas

Com a criação da Pachamama Investimentos, o papel de Gagliasso, como uma figura pública e de influência, é ser um porta-voz de  como viabilizar esse mercado que passa por áreas conservadas em fazendas.  Explicar para as empresas e pessoas físicas que ao investir em uma UCS, elas estão entrando no mercado futuro da biodiversidade, formado por ativos que podem, por exemplo, por meio da CPR Verde ser uma ferramenta de captação de financiamento verde mais barato. 

“Sou um entusiasta, um apaixonado por deixar um legado para os meus filhos”, diz ele. “Precisamos ‘ecologizar’ a economia. Não adianta só plantar, é preciso conservar a floresta.” Gagliasso, casado com a atriz Giovanna Ewbank, é pai de três crianças. Mas ele afirma que preservar a floresta não pode ser visto como filantropia, porque “esse é um outro bolso”. “A gente foi buscar no mercado uma tecnologia e encontramos a BMV, comprovada cientificamente  e auditável”, diz Gomes Pinto. “A grande vantagem, além da questão científica, é que ela é focada no face line brasileiro, no ambiente tropical.”

A dupla acredita que para manter a floresta a legislação não é suficiente. “Um produtor rural precisa conservar 80% de sua área se tiver na Amazônia Legal, porque a lei o obriga a fazer isso, enquanto pode usar para a lavoura 20% da área. Ele está prestando um serviço ambiental para o mundo e muitas vezes não tem recursos para proteger a árvore em pé”, diz Gomes Pinto. “O Brasil não está sendo remunerado pelo serviço ambiental gigantesco ao mundo. Pelo contrário, ele é cobrado por todos os países e organizações para que faça isso. A gente quer mostrar que é possível rentabilizar quem cuida da floresta”, afirma.

Segundo os sócios, já há empresas interessadas em UCS, entre elas a Starbucks, multinacional norte-americana que é dona da maior cadeia de cafeterias do mundo e que possui no Brasil 150 lojas. Além da peregrinação em eventos nacionais, estão na agenda algumas viagens internacionais de peso apresentar as metas da Pachamama Investimentos. Portugal será o primeiro. Em novembro será a vez da COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes, e em janeiro de 2024 será a vez do The World Economic Forum, em Davos, na Suíça.“As pessoas estão interessadas no Brasil. Quando a pousada de Fernando de Noronha recebeu o selo BMV recebi vários telefonemas da Europa de gente querendo conhecer o lugar”, diz Gagliasso. “Vamos mostrar que há mais no Brasil para preservar.”

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