As diferenças de acesso a prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer são uma realidade mundial. Este é um tema para o qual temos um olhar especial aqui no Brasil, buscando apoiar o pleito de pacientes para a promoção de uma política de atenção oncológica mais eficiente. No entanto, esta não é uma demanda exclusiva para os países em desenvolvimento, onde os recursos para a Saúde são mais escassos.
Um estudo publicado no Journal of Clinical Oncology, periódico da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, mostrou que existe uma inequidade de acesso a opioides em pacientes com câncer em fases avançadas.
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A pesquisa avaliou mais de 318 mil pacientes brancos, pretos e hispânicos, tratados no sistema Medcare americano entre 2007 e 2019 com 65 anos ou mais, e verificou que existem desigualdades raciais e étnicas substanciais e persistentes no acesso a medicamentos entre pacientes oncológicos idosos.
Os resultados revelam uma inequidade não só em relação aos tratamentos de última geração, mas em questões básicas para o bem-estar, como a analgesia. Os opioides ainda são as drogas mais utilizadas em pacientes com dores por conta do câncer avançado.
Os pesquisadores comprovaram que os pretos e os hispânicos tiveram menos acesso ao uso de opioides comparado com os pacientes brancos, uma diferenciação que não está apenas ligada a variáveis socioeconômicas, mas também à cor da pele.
No ano passado, um grupo da International Agency for Research on Cancer, órgão da Organização Mundial da Saúde, divulgou um artigo em que defendia a imediata redução nas desigualdades socioeconômicas na Oncologia.
Neste último caso, os dados mostraram que no continente europeu as pessoas com baixa escolaridade têm taxas de mortalidade mais altas para quase todos os tipos de câncer em relação aos indivíduos com alta escolaridade.
Então, precisamos também nós, aqui em nosso país, com todas nossas desigualdades socioeconômicas, raciais e de gênero, avaliar como podemos avançar na garantia de acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer, garantindo o direito universal à Saúde a todo cidadão brasileiro.
Ainda temos um longo caminho a percorrer para diminuir a incidência da doença e baixar a previsão de mais de 700 mil casos anuais de câncer no Brasil. Devemos estimular a prevenção, sermos mais eficientes no diagnóstico e utilizar os recursos com boa gestão, para que mais pacientes tenham acesso aos melhores tratamentos e possam ter bem-estar e amparo durante a jornada contra o câncer.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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