Muitas coisas contribuem para que leve meses – em alguns casos, anos – para se ter um diagnóstico de transtorno mental. Começo com a mais comum delas: o estigma que cerca problemas de saúde mental.
Apesar de se falar mais sobre o tema, o preconceito ainda permanece. A pessoa que convive com alguma questão não tem orgulho nem vontade de se abrir com seus familiares, colegas de trabalho e, principalmente, com seu médico. O receio de que ela vá ouvir que o sofrimento dela se deve a um transtorno mental a impede de conversar com um profissional da saúde.
Outra questão importante no país é a falta de disponibilidade de profissionais de saúde mental em muitas cidades brasileiras. Assim, a busca por um especialista torna-se complicada, se não cara. Nem todo mundo dispõe de recursos financeiros para viajar para um grande centro para se consultar.
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Demora para o agendamento para consultas no serviço público de saúde é outro fator. Em algumas regiões brasileiras, a espera para a uma consulta pode levar três meses. Se a necessidade é de uma internação, a lentidão pode ser maior. Acontece que aquela pessoa espera por uma resposta imediata ao seu sofrimento. Resultado: muitos desistem no meio do caminho.
Por fim, séries, filmes e redes sociais por vezes contribuem para a desinformação e a romantização dos transtornos mentais. Há uma multiplicidade de transtornos mentais. Alguns deles são muito mais desafiadores do que outros e exigem estratégias mais complexas. Assistir a um filme e achar, por exemplo, que o amor salva pode passar a imagem de que as questões de saúde mental são facilmente resolvíveis.
O amor e o apoio, claro, são essenciais qualquer que seja o problema de saúde mental. Mas as doenças reais devem ser tratadas com acompanhamento profissional e, às vezes, com medicação.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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