As perspectivas para a economia brasileira vêm melhorando significativamente ao longo dos últimos meses. A edição mais recente do Relatório Focus, publicada pelo BC (Banco Central) na segunda-feira (15), mostrou que a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) pelos especialistas do mercado financeiro para este ano era de 1,02%, a maior desde o fim de 2022. No início do ano, o mesmo Focus previa um avanço mais modesto, de 0,80%. No entanto, os números cresceram sistematicamente desde então.
Não são altas expressivas. Porém, considerando-se que o PIB estimado em 2022 foi de R$ 9,9 trilhões, essa diferença de 0,22 ponto percentual representa mais R$ 21,78 bilhões em circulação na economia. E também é uma alta surpreendente, porque os juros seguem no patamar elevado de 13,75% ao ano desde meados de 2022 e não há sinais de que eles venham a cair substancialmente.
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O próprio Focus prevê, há meses, que a Selic vai encerrar este ano em 12,50%, o que está longe de ser uma política monetária frouxa. Como explicar essa melhora das expectativas? E essa dinâmica positiva vai continuar?
“Os dados recentes mostram que os bons resultados do agronegócio ajudaram no crescimento”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, associação das empresas de financiamento. “Teremos um plantio e uma safra recordes neste ano, o que trará uma geração de renda expressiva no setor agrícola, o que irriga os canais da renda e estimula a economia.”
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Segundo Tingas, várias instituições financeiras revisaram as expectativa para cima, e já há bancos projetando um crescimento em média de 1,3% para este ano, acima da expectativa do Focus. “O próprio Ministério da Fazenda anunciou a revisão dos números para este ano, e o novo PIB projetado pelo governo é de 1,6%.”
Agronegócio e serviços
Carlos Pedroso, economista chefe do Banco MUFG Brasil, concorda com a avaliação, mas diz acreditar que esse resultado não será uniforme. “O crescimento de 2023 será muito concentrado no segmento do agronegócio, impactando a agropecuária e a indústria ligada ao agronegócio”, diz ele. “Trabalhamos com crescimento de 7,5% para a agropecuária e de 0,3% para a indústria.”
Pedroso afirma que o agronegócio é muito ligado ao setor exportador, assim o crescimento global e especificamente chinês são fundamentais para o seu desempenho. “Além disso, por serem produtos de primeira necessidade, são mais afetados pela renda disponível do que pelos juros”, diz ele.
Outro ponto é o setor de serviços. Apesar da forte desaceleração de 4,2% em 2022, ele responderá por outra parcela do crescimento. “Há uma demanda reprimida muito forte nesse segmento”, diz o executivo Fernando Lamounier, mestre em administração pela Yale University. Lamounier, executivo da empresa de consórcios Multimarcas, avalia que o aumento da demanda por esse instrumento que facilita o consumo indica um aumento das atividades.
Os números podem melhorar mais ainda no segundo semestre. Segundo Tingas, da Acrefi, as condições podem melhorar devido ao início do processo de redução de juros e de aprovação das novas regras fiscais, além da sazonalidade própria da economia – os negócios são mais dinâmicos na segunda metade do ano. “E as medidas de estímulo à demanda, como o Bolsa Família, começarão a fazer mais efeito no segundo semestre”, diz ele.
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