Em Napa Valley – importante região da Califórnia, com o maior número de vinícolas do mundo – a série de simpósios Rise (movimento da indústria do vinho no condado de Napa) sobre clima e vinhos, trouxe como palestrante a britânica Jancis Robinson. Conhecida como uma das maiores escritoras de vinhos e estudiosa de tendências do mundo, Robinson falou sobre o que a indústria global da bebida poderia fazer para mitigar as mudanças climáticas.
O Napa Rise Wine & Climate Symposium aconteceu em abril, pelo segundo ano consecutivo, na vinícola Charles Krug, dos co-fundadores Anna Brittain e Martin Reyes, MW. O simpósio contou com temas como eficiência e economia de energia e água, prevenção de resíduos e cadeia de fornecimento, saúde do solo e biodiversidade, justiça social, diversidade e inclusão e ação climática e agricultura regenerativa.
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Robinson destacou uma série de tendências-chave do vinho que começam a surgir agora e que devem impactar as mudanças climáticas e o gosto do consumidor:
Tendência #1 – Garrafas de vinho mais leves
Com a garrafa de vidro respondendo por 50% a 68% da pegada de carbono do vinho, Robinson previu que mais vinícolas reduzirão o peso de suas garrafas de vinho. A alta pegada de carbono é atribuída à produção e transporte de taças de vinho. Garrafas de vidro pesadas também prejudicam os funcionários que trabalham em vinícolas e lojas de vinhos, que carregam caixas pesadas, todos os dias. “O objetivo do SAQ (Société des alcools du Quebec), no Canadá, é reduzir o peso das garrafas de vidro para 420 gramas”, afirmou Robinson. Hoje, muitas vinícolas usam garrafas de vinho que variam de 700 a 900 gramas.
Já existe um grupo de vinícolas que estão adotando a tendência de “peso leve” e economizando milhões de dólares. Craggy Range, na Nova Zelândia; Spottswoode e Grgich Hills, em Napa Valley; Kendall-Jackson, em Sonoma; Native Flora; no Oregon, e Albert-Bichot, na Borgonha, representam menos de 1% das vinícolas que já adotaram essa tendência.
“Ao reduzir o peso da garrafa, a Tablas Creek conseguiu US$ 2,2 milhões (cerca de R$ 11 milhões) em economia em 14 anos”, anunciou Robinson.
Tendência #2 – O uso crescente de recipientes alternativos para vinho
Robinson afirmou que não é contra as garrafas de vidro, porque são a melhor maneira de envelhecer e guardar um bom vinho, mas como mais de “80% do vinho é consumido poucos dias após a compra”, serão adotados recipientes alternativos para o vinho, por mais vinícolas.
Seu comentário é apoiado pelo crescimento de receita e volume de vinho vendido em latas, caixas e Tetra pak. De acordo com a NielsenIQ, as embalagens Tetra cresceram 5,1% em vendas e 3,7% em volume nos EUA, em 2022. A Straights Research prevê que as latas atingirão um CAGR de 13% de 2022 a 2030, e o vinho embalado global deverá crescer em CAGR de 5,1% de 2022 a 2032, de acordo com o Future Market Insights.
“A grande questão, porém, é a reciclagem”, afirmou Robinson. Nos Estados Unidos, os consumidores reciclam apenas 50% das latas de alumínio para bebidas e 30% do vidro, de acordo com a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA). “Na Europa, a taxa de reciclagem de vidro é de cerca de 52%”, disse Robinson, “mas em certas áreas, como Escandinávia, Suíça, Alemanha, as taxas são muito mais altas”. (No Brasil, o índice de reciclagem de latas de alumínio chega a 99% e o país se destaca como recordista mundial).
Tendência #3 – Vinhos mais leves, frescos e ácidos
“Vinho de cor escura, com alto teor alcoólico e carvalho pesado, estão fora de moda, e ácido e frescor estão na moda”, afirmou Robinson. Cada vez mais consumidores procuram vinhos frescos e leves, com cores mais claras e naturais, continuou ela. Estes incluem sauvignon blancs vigorosos e outros vinhos brancos refrescantes, bem como tintos de cores mais claras como pinot noir, juntamente com rosé e espumantes.
Essa tendência também é apoiada por dados recentes de varredura da NielsenIQ, nos EUA, mostrando que o sauvignon blanc foi a única variedade de vinho com maior volume e valor de vendas em 2022.
Tendência #4 – Aumentar o interesse do consumidor em variedades de uva únicas e novas regiões vinícolas
“Variedades de uvas indígenas e alternativas terão seu momento”, previu Robinson. Ele diz que muitos consumidores, sobretudo os mais jovens, têm interesse em experimentar castas autóctones que crescem naturalmente há centenas de anos em países como Portugal, Itália, Grécia, Geórgia, entre outros.
Da mesma forma, há um aumento na atração por novas regiões vinícolas, especificamente denominações menores (sub AVAs nos EUA) e vinhedos especiais. Robinson chama isso de “especificidade geográfica”, que alude ao desejo de entender o clima e a cultura em vinhedos especiais em todo o mundo.
Tendência #5 – Um aumento nas variedades de uvas resistentes a doenças
Por causa das mudanças climáticas, Robinson destaca que mais regiões vinícolas buscarão variedades de uvas resistentes a doenças para plantar em seus vinhedos. Isso pode incluir variedades que resistem melhor a secas e inundações, bem como novas uvas híbridas que podem se adaptar melhor às mudanças climáticas.
Regiões, como Bordeaux, na França, já aprovaram castas mais vigorosas para combater as alterações climáticas: Arinarnoa, Castets, Marselan, Touriga Nacional, Alvarinho e Liliorila. Robinson também mencionou que a Cloudy Bay Winery, na Nova Zelândia, está considerando usar uma cepa diferente de sauvignon blanc no futuro para ajudar a mitigar as mudanças climáticas.
Relacionado a isso está a maior adoção de porta-enxertos de vinhedos resistentes à seca e a doenças pelas vinícolas no futuro.
Tendência #6 – O vinho tinto não é mais rei e frutas podem ser adicionadas à bebida
Robinson concluiu sua apresentação mencionando que, após anos dominando as vendas de vinhos, “o vinho tinto não é mais rei”. Há um ressurgimento do consumo de vinho branco, especialmente na Europa, e agora há escassez de chardonnay nas regiões vinícolas do Oregon à Nova Zelândia.
A adição de frutas e outros sabores ao vinho também está começando a entrar na moda, remontando aos velhos tempos dos coquetéis de vinho – muitos dos quais foram inventados na Europa. Esta tendência também é apoiada por dados recentes da NielsenIQ mostrando que os coquetéis de vinho, especialmente em recipientes prontos para beber (RTD), aumentaram suas participações nas vendas.
* Liz Thach é colunista da Forbes EUA, consultora e professora na Wine MBA na Sonoma State University e na Stanford Continuing Education. É autora de nove livros, entre eles Call of the Vine, Best Practices in Global Wine Tourism e Luxury Wine Marketing. (tradução:V.Ondei)
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