Empatia é a palavra da vez quando o tema é liderar pessoas. E, sim, pessoas importam – inclusive para o resultado das empresas. Porém, a empatia virou, em muitos casos, papel de embrulho para a insegurança. E isso pode ter um efeito catastrófico para as companhias.
A agenda do inseguro é ser gostado. De forma consciente ou não, a prioridade de uma pessoa insegura é evitar situações que despertem o medo de ser rejeitado ou criticado. As consequências indesejadas desse tipo de postura são muitas, e qualquer pessoa com esse traço vai sofrer com o temor constante de não agradar. Contudo, os desdobramentos ruins da insegurança são exponencializados quando quem a carrega tem nas mãos a complexa missão de liderar outras pessoas.
Ocorre que a palavra da moda acabou virando uma forma de embrulhar a insegurança fazendo com que ela seja justificada como empatia. Será? Será que a empatia não tem sido usada para dar um nome mais bonito ao medo de não agradar?
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No livro “Empatia Assertiva”, de Kim Scott, ela descreve suas próprias experiências frustradas de quando, movida pelo medo de desagradar, deixava de pontuar aos seus liderados o que de fato podia e precisava melhorar. Ela conclui que existe um tipo de empatia que não ajuda nem quem pratica nem quem recebe, e nem os resultados da empresa. Vale a leitura.
Mas vale, antes da leitura, um exercício simples: uma autoinvestigação honesta. Afinal, ninguém gosta de carregar o rótulo de inseguro, mas todos vestem com orgulho a fantasia da pessoa empática. Então, em nome da tal empatia, mentem para não desagradar e, assim, deixam de ajudar.
É claro que é agradável receber um feedback positivo. Mas ninguém vai revisar o próprio trabalho ou conduta enquanto receber aplausos. Por isso deixar de dizer com clareza onde o outro está errando, e onde os resultados dele ainda deixam a desejar é privar a pessoa do gatilho que despertaria nela o movimento de se lapidar. É deixar de oferecer a ela uma visão de fora, ou um diagnóstico assertivo de como ela pode melhorar. Será mesmo que isso é ajudar?
O inseguro parece gentil, mas ele não está realmente preocupado com os outros. O discurso parece ser pelo outro, mas a prioridade dele é se preservar, para não ser “desgostado”. Ele é movido por medo e prefere colocar panos quentes do que despejar um balde de água fria. Ele é a pessoa que está sempre pronta para oferecer colo, para ser bem visto, mas que não consegue trazer uma verdade incômoda e mostrar o caminho da cura.
Mas liderar é justamente sobre mostrar o caminho, sobre pegar na mão e apontar as lacunas que precisam de correção. Com empatia, claro. Mas sem medo de trazer a verdade com assertividade.
Muito ajuda quem não atrapalha. E a empatia distorcida certamente atrapalha porque cria um ciclo onde o objetivo é apenas o acolhimento, sem posterior convite ao movimento. E quem crescerá num ambiente que faz ode à zona de conforto?
O líder inseguro tem tanto medo de errar e ser rejeitado que ele sempre justifica suas falhas. Ele está sempre pronto para se defender ou jogar a batata quente no colo de alguém, como uma criança com medo que diz “não fui eu!” para evitar o castigo. Só que, sendo adulto, o faz de forma mais sofisticada, costurando fatos de forma intencional para construir uma narrativa que o isente da responsabilidade pelas próprias falhas. Para os não-atentos, até cola. Cola, mas custa caro para a cultura da empresa.
Se o líder teme a própria imperfeição e é movido por medo de rejeição, que tipo de exemplo fica para o resto do time? Ainda que velada, a mensagem deixada por lideranças inseguras é: “protejam-se!”. O ambiente parece empático e colaborativo, mas, diante do primeiro problema, as pessoas começam a conflitar porque têm medo de assumir responsabilidades pelos próprios erros. A colaboração é sempre fantasiosa quando não existe transparência, autorresponsabilidade e maturidade.
Um bom líder deve trazer sem medo os pontos de melhorias – seus e dos demais – e deve ser exemplo de coragem. Coragem, inclusive, de mostrar o que não vai bem para propor novas soluções. Já cansei de ver líderes em cargos de extrema importância que maquiavam a realidade por medo de receber críticas e afundavam silenciosamente a companhia. Afinal, o que não é enfrentado, não pode ser curado.
Deve ser objetivo principal da liderança ajudar as pessoas a se desenvolverem, e não colecionar afetos frágeis, baseados na cultura do “pisar em ovos”. Deve ser compromisso de um líder apontar, de forma respeitosa e assertiva, o que ele percebe como errado, falho ou pouco eficiente. Gentileza e firmeza podem andar de mãos dadas. E, quando isso acontece, o resultado é uma cultura que ajuda as pessoas a serem fortes, responsáveis e maduras o suficiente para ouvir tanto os aplausos, quando esses forem merecidos, quanto as críticas, quando essas se fizerem necessárias.
*Carol Rache é empresária, fundadora do grupo Namah Wellness de inteligência emocional e o bem-estar. Há 10 anos ela se dedica ao estudo do comportamento humano usando neurociência, metafísica, meditação, yoga e coaching.
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