Desenvolver uma empresa de tecnologia longe do eixo Rio-São Paulo com certeza torna a tarefa mais difícil. Fazer esse trabalho no Amapá, sem acesso à internet e quase sem dinheiro no bolso, faz o processo parecer impossível, mas não é. O empresário Antonio Fascio, de 46 anos, fez isso em 2015.
Fascio perdeu seu pai, engenheiro de formação, com apenas 16 anos. Sua família, que dependia inteiramente do salário dele, sofreu um forte baque financeiro. Na época, o jovem decidiu que precisava sair daquele ambiente e começar a estudar.
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Em pouco tempo, ele estava trabalhando em uma empresa de tecnologia, mesmo que na época não existisse internet por lá. “Todo mundo me achava doido”, diz ele. Parecia improvável que avanços tecnológicos chegassem à região. Foi quando ele decidiu desenvolver seu próprio negócio, o OrçaFascio.
A ideia de criar um software para desenvolver orçamentos de obras nasceu de um desejo de homenagear o pai, unindo a paixão dele por engenharia com o fascínio do empresário por tecnologia. Porém, Fascio precisava de um programador para tirar a ideia do papel. A saída foi encontrar um amigo da faculdade que fizesse o serviço em troca de 50% da futura empresa. Assim, o produto foi desenvolvido em 2011, mas não passava de uma ferramenta, sem estrutura de empresa. “Eu não fazia a menor ideia do que era uma startup e muito menos sabia como desenvolver um plano de negócios”, diz Fascio.
“Na época, todas as ferramentas que tínhamos para aprender eram físicas, já que não existia acesso de qualidade à internet. Então, eu só sabia que nós estávamos fazendo uma empresa, mas não tinha noção do que isso significava”, afirma Fascio.
Para subir a primeira versão do software foi necessário viajar para Belém, no Pará, procurar por uma lan house que contasse com internet um pouco mais rápida. Mesmo assim, o processo levou uma semana para dar certo.
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Foi nesse momento que o projeto realmente saiu do papel. Ao mesmo tempo, ele foi convidado para participar da Campus Party, onde precisou fazer um pitch sobre sua empresa, sem nem saber o que significava a palavra.
“O meu pitch foi horrível. Levei mais de 50 cópias de um plano de negócio que nunca funciona em startups, no meio eu não tinha falado nada sobre o meu negócio, mas eu arrebentei no momento dos feedbacks, o que me deu uma chance”, diz Fascio. Sua empresa foi escolhida a startup destaque do evento.
Ainda em 2014, o empresário conseguiu uma oportunidade com a aceleradora Aceleratech, hoje conhecida como ACE, que o trouxe a visão de negócio para conseguir desenvolver uma empresa de sucesso. Desta forma, em 2015, nasceu efetivamente a empresa. Mas antes, ele precisou mudar o modelo de negócio, que foi a decisão correta para o futuro da OrçaFascio.
A partir de fevereiro de 2016, a empresa começou a colher frutos. No primeiro mês o faturamento atingiu R$ 15 mil, o segundo dobrou para R$ 30 mil. Foi nesse momento que ele percebeu que o negócio poderia dar certo e buscou por mais aceleração, desta vez na Startup Farm.
“Dentro da aceleração, nós éramos a única startup que estava faturando, o que nos trazia alguns benefícios, como nos dar ao luxo de jantar e usar o metrô no mesmo dia”, conta o empresário. “Apesar de ganhar já dinheiro na época, a aceleração foi um divisor de águas para a empresa.”
No segundo semestre de 2016, a empresa contratou o primeiro funcionário e começou a colocar em prática todos os conceitos aprendidos na Startup Farm. Dali pra frente a empresa só cresceu, até que chegou a pandemia.
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Na época, o empresário trouxe a sua família e a do seu sócio para São Paulo, tentando fugir da situação da Covid-19 no Amapá. No período, houve o apagão na região, que impossibilitou o restante da empresa de trabalhar por lá.
Aos poucos, mesmo com pouca comunicação, o empresário começou a comprar passagens e trazer todos para Santo André, município de São Paulo. No período da pandemia, com a aceleração do digital, a empresa registrou um salto de procura e desempenho inesperado.
Desde então, o Grupo OrçaFascio registra uma média de crescimento de 70% anual, sendo que só em 2022, a companhia teve um aumento de 43% na sua base de clientes, pulando de 3,5 mil para o marco de 5,5 mil.
Sem deixar de lado as raízes amapaenses, a companhia espera aumentar o seu faturamento entre 100% a 300% em 2023, com o lançamento de novos produtos como programas de projetos complementares até controle de canteiro, dando o suporte completo para as obras. A projeção de faturamento para 2023 é de R$ 15 milhões.
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