Qual o papel dos profissionais de diversidade no mundo dos games?

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Patrícia Lima: “O nosso papel é garantir que os jogos sejam mais acessíveis para todas as pessoas independentemente de identidade de gênero, orientação sexual, etnia e região”

Dentre as principais organizações de e-sports do Brasil, a Furia anunciou, recentemente, a chegada de Patrícia Lima como especialista em diversidade e inclusão. Patrícia traz consigo anos de experiência em desenvolvimento de pessoas e gestão de equipes na área de D&I, tendo atuado mais recentemente como Líder de Diversidade, Equidade e Inclusão da Plurie BR. Em seu novo papel na Furia, “trabalhará para garantir que a organização seja um ambiente inclusivo e acolhedor para todos, independentemente de sua origem, sexualidade, identidade de gênero, habilidades ou qualquer outra característica pessoal”, diz a organização, em comunicado.

“A Furia acaba abraçando muitos quesitos que eu considero para trabalhar em uma empresa, e acredito que preciso mostrar o que temos hoje para o mundo. Então, para mim. o principal objetivo é colocar a Furia dentro de mais lugares de fala, mais plataformas, e reforçá-la como uma empresa que realmente está ali para a diversidade cultural não só na parte de games, mas em todas as áreas possíveis que conseguirmos alcançar”, destaca Patricia que, em entrevista á Forbes Brasil, fala sobre a importância do tema para o ecossistema gamer.

“Apesar de ser uma área que se certifica de forma generalista para trabalhar em diversos tipos de organizações e empresas, nos games ela tem um papel fundamental em fazer com que esse mundo reflita a diversidade da sociedade em que a gente vive”

Forbes Brasil – Qual o cenário atual, quando olhamos para o mercado como um todo, de profissionais de diversidade e inclusão nos games?
Patrícia Lima – O mercado de games e-sports é um dos que mais cresce no Brasil e, não só aqui, mas no mundo, isso faz com que essa indústria fique cada vez mais consciente de que a diversidade e o cuidado com a inclusão precisam existir não só nos produtos, mas também nos times e em todas as propostas que eles oferecem no universo gamer. Hoje no Brasil, pelo menos 70% das pessoas jogam algum tipo de jogo eletrônico, seja no celular, no computador ou no console. As pessoas têm conexões com games e aquela ideia de que videogame era uma coisa de adolescente, apenas, caiu por terra já faz um bom tempo. Atualmente, o escopo de pessoas que conseguimos atingir com games é muito maior, só que isso também levanta uma grande questão porque ainda há muito trabalho para ser feito para melhorar a representatividade, inclusão e diversidade dentro da indústria.

FB – Qual o papel da área de D&I neste contexto?
Patrícia – Apesar de ser uma área que se certifica de forma generalista para trabalhar em diversos tipos de organizações e empresas, nos games ela tem um papel fundamental em fazer com que esse mundo reflita a diversidade da sociedade em que a gente vive. Hoje, o nosso papel é garantir que os jogos sejam mais acessíveis para todas as pessoas independentemente de identidade de gênero, orientação sexual, etnia e região. Na minha percepção, o profissional de Diversidade e Inclusão não deve ser contratado pelo RH só para fazer um processo de sensibilização interna, falta esse profissional também dentro das estruturas das comissões técnicas dos atletas, por exemplo.

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FB – Qual a importância dessa área e de ter profissionais preparados para tal?
Patrícia – O papel da diversidade hoje dentro da área de games precisa garantir que cada vez mais esse ambiente se torne mais acolhedor. Precisamos entender que o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de jogos eletrônicos do mundo em termos de faturamento, perdendo apenas para Estados Unidos e China. Dos 92 milhões de brasileiros que jogam, sabemos que 60% deles são homens, enquanto 40% são mulheres. O que o movimento de games está fazendo para que esse mercado, que é majoritariamente masculino, seja mais inclusivo e aborde mais temas como mulheres nos jogos, pessoas indígenas nos jogos, pessoas pretas e pardas dentro dos games? Quantas pessoas pretas e pardas temos hoje em posições de atletas principais em equipes de e-sports? Quantas organizações fornecem a mesma estrutura e investimento para os times feminino e masculino? É o trabalho da pessoa de Diversidade e Inclusão olhar de maneira crítica para os dados que existem hoje e criar saídas, projetos e alternativas que façam com que esse mercado seja mais diversificado.

“O papel da diversidade hoje dentro da área de games precisa garantir que cada vez mais esse ambiente se torne mais acolhedor”

FB – Quais os contextos e desafios atuais em relação à diversidade e inclusão no ecossistema?
Patrícia – Hoje, para mim, existem três pontos que precisam ser trabalhados: o primeiro é a falta de representação, o segundo é a falta de diversidade na indústria de criação de jogos, e o terceiro, que é o que mais se vê, é a cultura tóxica que acontece dentro do ambiente gamer. Falando um pouco mais a fundo, quando digo da falta de representação, estou dizendo que o que acontece hoje é uma representação inadequada e também uma falta de representação de certos grupos de diversidade. Essa falta de representatividade vai acabar levando a estereótipos que são prejudiciais de continuarem sendo perpetuados, e a um histórico de exclusão maior do que o que já acontece hoje. E isso acontece com pessoas diferentes em vários aspectos, etnias diferentes, orientações sexuais diferentes, com pessoas com deficiências e até com pessoas neurodiversas. O segundo ponto é simples: abordar diversidade na indústria é dizer que a indústria de jogos eletrônicos ainda é predominantemente branca e masculina. Isso gera uma falta de perspectiva muito grande na criação de games e pode afetar inclusive a forma como os jogos são desenvolvidos.

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FB – No caso da Furia, como será sua atuação como especialista e quais os projetos?
Patrícia – A Furia é um ecossistema vivo que surgiu como um movimento sociocultural. Quando foi fundada, o objetivo era criar impacto dentro de um ecossistema que era padronizado, estereotipado. Existia um engessamento desse ecossistema no qual, para se tornar um pro player, você precisava necessariamente ter um nível social econômico maior do que a maior parte da população brasileira. Foi um trabalho significativo e disruptivo que gerou várias novas posições para a Furia e a colocou nesse ponto de de impacto social com relações de diversidade e inclusão fortes dentro do mercado de e-sports. O meu objetivo para este ano (2023) é justamente alavancar isso cada vez mais. Tenho duas frentes prioritárias dentro de diversidade e inclusão na Furia, a primeira é garantir que todos os colaboradores sejam desenvolvidos e capacitados com letramento em diversidade de inclusão.

Veja abaixo alguns dos perfis e profissionais que compõem a indústria dos games e e-sports no Brasil:

 











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