Quem é a CEO da rede social que quer competir com o Twitter

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Jenna Fernandez/Forbes USA

Lantian “Jay” Graber, CEO da rede social Bluesky, tem apenas 32 anos

A mãe de Lantian “Jay” Graber cresceu na China durante a Revolução Cultural – uma época em que o Partido Comunista restringia fortemente os livros e programas que ela podia assistir. Sua mãe a chamou de Lantian, que significa céu azul em mandarim, “porque ela queria que eu tivesse liberdade ilimitada e as oportunidades que ela não teve”, diz Graber, de 32 anos.

Três décadas depois, seu nome provou ser profético. No final de 2021, enquanto estava de férias no Havaí, seu telefone tocou. Era Parag Agrawal, prestes a se tornar CEO do Twitter, oferecendo um emprego para liderar uma startup chamada Bluesky, criada pelo cofundador do Twitter, Jack Dorsey, para permitir que os usuários tivessem a liberdade de mover suas contas, mensagens e seguidores para redes sociais concorrentes. A ideia era dar aos usuários o controle total de suas identidades online. Dorsey, ex-CEO do Twitter, havia prometido que sua rede social seria compatível com o Bluesky quando estivesse pronta.

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Graber já estava trabalhando no projeto paralelo do Twitter por dois anos como parte de uma equipe de elite de desenvolvedores recrutados por Dorsey e Agrawal. Ela aceitou o papel principal com uma condição: a Bluesky seria legalmente independente do Twitter. “Você não pode construir um protocolo descentralizado se estiver dentro de um dos players existentes”, diz Graber.

Sua insistência na independência da rede estava correta. Em outubro de 2022, Elon Musk, que na época tinha mais de 100 milhões de seguidores no Twitter, comprou o Twitter por US$ 44 bilhões (R$ 220 bilhões). Embora a empresa de Dorsey já tivesse pago à Bluesky, com sede em Seattle, US$ 13 milhões (R$ 65 milhões) como parte de um contrato de serviço de cinco anos, Musk prontamente encerrou o acordo, incluindo apoio financeiro futuro e a promessa de usar a nova tecnologia.

A mão pesada do novo dono teve outras repercussões. Ele demitiu mais de 6 mil pessoas, incluindo a equipe dedicada a abrir a rede para desenvolvedores externos.

Começou, então, um êxodo em massa de usuários do Twitter insatisfeitos com as mudanças de Musk e dezenas de personalidades, incluindo o músico Elton John e o ator Chris Messina, anunciando suas saídas da rede.  

O Twitter relatou 238 milhões de usuários ativos diários monetizáveis ​​em seu último relatório trimestral público, para o segundo trimestre de 2022, e embora não seja possível calcular quantos pararam de usar o serviço, o analista Jasmine Enberg, da Insider Intelligence, estimou que mais de 30 milhões de usuários vão sair da rede social até 2024. 

Até agora, 20 milhões se inscreveram para a nova geração de rede social que a Bluesky está ajudando a construir, que permite aos usuários passar de concorrente para concorrente. Os rivais incluem o Mastodon, que iniciou suas operações em 2016 e viu seu número de membros subir de 300 mil para 6,5 milhões depois que Musk assumiu o Twitter. E um participante mais novo, Nostr, com o apoio de Dorsey e a capacidade de transferir bitcoin entre usuários, agora tem 12 milhões de adeptos. Dorsey não respondeu aos repetidos pedidos de comentários sobre o assunto.

Apesar do interesse inicial de Musk em sistemas que descentralizam as redes sociais, ele basicamente apostou que os usuários com audiências gigantes permaneceriam leais ao Twitter em vez de correr o risco de perder seus valiosos seguidores. Isso não será verdade para os novatos nas mídias sociais com zero seguidores, procurando opções que lhes deem mais liberdade. 

Até agora, a Bluesky é a empresa mais bem financiada nesse novo setor, e Graber vê o novo status de “outsider” como um ativo. O vencedor da competição cada vez mais acirrada para estabelecer um padrão para o movimento descentralizado de código aberto determinará o campo de jogo em que vai competir a próxima geração de empresas de mídia social.

“Os sistemas que podem garantir essas liberdades de longo prazo são os que provavelmente vencerão a longo prazo”, diz Graber. “Os usuários terão a capacidade de escolher, os criadores, de manter contato com seu público e os desenvolvedores, de construir.”

A trajetória de Graber

Graber nasceu em Tulsa em 1991, filha de um pai professor de matemática e uma mãe acupunturista. Ela entrou na faculdade em 2009 e se formou em ciência, tecnologia e sociedade na Universidade da Pensilvânia.

Durante seu segundo ano de faculdade, ela descobriu um novo tipo de dinheiro chamado bitcoin que permitia que indivíduos enviassem dinheiro uns aos outros sem bancos. E no último ano cofundou o Penn Time Bank, ganhando uma doação de US$ 1 mil para ajudar os alunos a negociar trabalho, trocando blocos de uma hora de trabalho em tarefas combinadas.

Depois de se formar, seus interesses a levaram a um emprego em dezembro de 2015 como engenheira de software na empresa de supply chain SkuChain. Depois, conseguiu um emprego em uma pequena cidade no leste de Washington chamada Moses Lake, soldando equipamentos de mineração de bitcoin em uma fábrica de munição reaproveitada. 

Em 2016, o executivo americano Zooko Wilcox a contratou como desenvolvedora júnior para ajudar a construir sua criptomoeda zcash, que seria lançada em breve. Sua porta de entrada para as redes sociais foi em março de 2019, quando ela fundou a Happening Inc. para conectar usuários que se conheceram em eventos e permitir que eles postassem e comentassem as reações de outras pessoas. “Decidi criar um site de eventos para tentar tirar as pessoas do Facebook e, eventualmente, voltaria e construiria uma rede descentralizada em torno dele” – o que nunca aconteceu.

Antes do fim de 2019, Dorsey anunciou que planejava criar uma equipe para desenvolver o que ele chamou de “um padrão aberto e descentralizado para as redes sociais”. Se bem-sucedida, a Bluesky poderá reduzir a desinformação em plataformas centralizadas, dando a várias mídias diferentes a capacidade de competir em todos os tipos de coisas – incluindo padrões e técnicas de moderação. Também poderia minimizar o papel da mídia social como um recomendador de conteúdo controverso, dando aos usuários controle sobre os algoritmos que decidem o que eles veem. 

Por trás do desenvolvimento da Bluesky

Nos bastidores esse tempo todo, Graber esteve entre a dúzia de desenvolvedores que Dorsey e Agrawal convidaram para um grupo privado trabalhando no conceito Bluesky. Em fevereiro de 2020, esse grupo incluía o ex-chefe de Dorsey Evan Henshaw-Plath; a ex-engenheira de riscos da Uber, Golda Velez; e Jeremie Miller, inventor do software de mensagens usado pelo Google e pela Apple. Graber emergiu como líder antes mesmo de ser nomeada CEO.

Na pandemia, a Bluesky ficou em um limbo e Graber começou a duvidar se a ideia tomaria forma em algum momento. Determinada a ver a evolução do Twitter, ela assumiu o cargo de líder de cripto da rede social. Semanas depois, recebeu a proposta do novo cargo na Bluesky, e aceitou.

A Bluesky foi incorporada como uma corporação de utilidade pública em 2021, funcionando como uma organização com fins lucrativos, mas sem a exigência legal de colocar os interesses financeiros dos acionistas acima de todas as outras preocupações. Embora se espere que a empresa opere como qualquer outra rede social, sua atenção inicial foi dividida entre a criação de seu próprio serviço e a criação de um protocolo que transfere os recursos de rede social comumente usados ​​para um software compartilhado que os rivais podem acessar, permitindo que os usuários movam suas identidades de uma rede social para outra.

Chamado de Authenticated Transfer Protocol, o software funciona de forma muito semelhante aos padrões de email que permitem que usuários de diferentes provedores enviem mensagens uns aos outros. Em vez de apenas enviar emails, contas online inteiras podem ser enviadas.

“Isso permite que você interaja com mais sistemas como um consumidor muito mais autônomo com sua identidade, carteira e compras, que viajam com você enquanto vai de loja em loja no ecossistema digital.”

Graber na liderança da rede social

Ansiosa para começar o trabalho, Graber contratou seu primeiro engenheiro com suas próprias economias e chamou advogados para ajudá-la a estabelecer o controle fora do Twitter com a promessa de que seriam pagos quando ela tivesse o dinheiro. No mês de abril seguinte, Dorsey investiu US$ 13 milhões do Twitter para garantir que a Bluesky tivesse “liberdade e independência” e Graber se juntou a Dorsey e Miller no conselho da Bluesky. Embora ela diga que todos os funcionários neste momento têm ações, ela se recusou a revelar quanto.

Até agora, 1,2 mil desenvolvedores e 20 equipes internacionais estão usando o protocolo de código aberto, construindo uma ampla gama de redes com nomes como Redsky, Skylight e Seiun. Quanto ao próprio Bluesky, que está sendo construído para se parecer com o Twitter e mostrar como a rede social de Musk pode ser facilmente integrada, 35 mil dos 1,2 milhão de usuários na lista de espera estão usando o aplicativo. “Você precisa fazer algo que um grande público possa usar se tiver a missão de tentar mudar a forma como a tecnologia funciona com as pessoas”, diz Paul Frazee, engenheiro da Bluesky.

O que está em jogo é muito mais do que apenas poder se conectar com amigos com menos interferência das big techs, de acordo com Graber. “Existem forças nos puxando em direções extremas como sociedade”, diz ela. Segundo a líder da Bluesky, há movimentos dos dois lados, para aumentar a centralização e também rumo à descentralização. E ambos estão acontecendo ao mesmo tempo. “E acho que qualquer um desses, levado ao extremo, pode ser ineficaz ou prejudicial. Portanto, teremos que equilibrar a boa governança com a soberania individual”.

* Michael del Castillo é editor-sênior da Forbes USA. Ele escreve sobre blockchain, criptoativos e outros assuntos de tecnologia.

(Traduzido por Fernanda de Almeida)

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