Influenciadores de finanças nas redes sociais são um fenômeno que veio para ficar. Essa é a conclusão da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) após a quarta edição do levantamento semestral “Finfluence – quem fala de investimentos nas redes sociais”, divulgado em 27 de março deste ano.
Ao fim de 2022, o Brasil tinha 515 influenciadores de finanças falando para 165,7 milhões de seguidores nas mídias sociais Facebook, Instagram, Twitter e YouTube, segundo o levantamento da Anbima. Este número de influenciadores é mais que o dobro do observado no primeiro semestre do ano passado (255). O número de seguidores aumentou 76% no mesmo período.
Amanda Brum, gerente-executiva de comunicação, marketing e relacionamento da Anbima afirma que os membros da Associação tinham dúvidas em relação a esse mercado quando iniciaram o monitoramento, em janeiro de 2021.
“O aumento de influenciadores nas redes sociais coincidiu com o período de queda dos juros para 2%. Naquele momento, entendemos que os investidores ‘orfãos do CDI’ foram buscar informações sobre diversificação de carteira”, diz Brum. A expectativa era que esse mercado esfriaria quando os juros subissem novamente, mas isso não ocorreu.
Um levantamento feito pela B3, ainda em 2020, mostrou que 73% das pessoas físicas que negociavam em bolsa se informavam por canais no YouTube e por redes sociais de influenciadores. No momento desta pesquisa, o número de investidores da bolsa brasileira era 3,17 milhões, após um salto de 1,7 milhão verificado um ano antes. Atualmente, a B3 conta com 5,8 milhões de investidores.
“Hoje, os influenciadores de finanças possuem um alcance que a mídia tradicional não tem. Eles se consolidaram como meios de distribuição de conteúdo muito relevantes para um público gigantesco”, diz Brum. “É incontestável o papel estratégico dessas pessoas.”
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Regulação dos influenciadores
No levantamento mais recente, a Anbima verificou que não houve mudanças significativas entre os influencers grandes de finanças, mas, sim, um boom de pequenos e médios players. Considerando o total de 515 influenciadores mapeados, eles somaram 276,8 mil publicações em seis meses, 47,2% a mais do que no levantamento anterior, do primeiro semestre de 2022.
Os influenciadores de finanças se dividem entre produtores de conteúdo, traders, analistas, investidores independentes e representantes de casas de análise e assessorias. Os tópicos mais abordados são mercado de ações, criptomoedas e economia brasileira – no caso dos dois primeiros, conteúdo sobre melhores ativos para investimento é o mais comum.
A qualidade e transparência deste conteúdo produzido entrou no radar da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A autarquia está estudando regulamentar a atividade desses profissionais para assegurar a decisão consciente dos seguidores.
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“Parte importante desse grupo [de influenciadores] tem relação contratual com participantes regulados pela CVM e o investidor muitas vezes não sabe isso. É preciso ficar claro que o influenciador está sendo remunerado para dar aquela opinião”, afirma Bruno Luna, chefe da Assessoria de Análise Econômica e Gestão de Riscos da CVM.
No último dia 19, a autarquia divulgou o estudo que analisa essa regulamentação. O objetivo não é regular a atuação dos influenciadores, mas estender a eles as obrigações exigidas às empresas reguladas da CVM. A iniciativa tem como base a atuação internacional de comissões de valores mobiliários em países como Reino Unido, Austrália e Holanda.
A gerente-executiva da Anbima defende que a regulamentação e a autorregulação são importantes para fortalecer esse mercado. Entretanto, ela destaca que o diálogo é fundamental para esse desenvolvimento, para não serem criadas dificuldades, mas um “ambiente saudável para todas as partes”.
Competição saudável
Brum defende que a liberdade do ambiente das redes sociais já assegura alguns aspectos importantes de competitividade ao exigir qualidade desses influenciadores.
“A medida que o investidor se aprofunda no tema de investimentos ele percebe que esse ou aquele influenciador não atende suas expectativas e precisa de algo melhor”, diz a gerente da Anbima. “Isso faz com que a própria concorrência estabeleça um padrão alto dos conteúdos.”
Outro fator que Brum afirma equalizar a qualidade das informações são os contratos com as empresas de capitais. Segundo ela, esses influenciadores precisam monetizar o trabalho e fazem isso por meio do lançamento de cursos ou de parceria com as empresas.
“Os cursos só vão vender e as parcerias só vão acontecer se o influenciador tiver uma boa audiência e um bom conteúdo. Quem não consegue monetizar, desiste da atividade com o tempo”, diz Brum. “A chance de quem não tem conteúdo de qualidade se manter é mínima. A qualidade é uma exigência.”
Boa influência
Ainda assim, a gerente da Anbima afirma que os seguidores sempre devem buscar conhecer quem é a pessoa que está acompanhando as dicas na rede. Para isso, ela dá três dicas:
• “‘Se a esmola é grande, o santo desconfia’. É um ditado popular que se aplica muito bem neste cenário. Se a promessa é de ganhos enormes de forma ‘fácil’, não acredite”, diz Brum.
• Verifique a certificação ou o empregador. “Se o influenciador está dando dicas de investimentos, confira qual a certificação que ele tem ou quem é a empresa que paga pelo conteúdo”, indica a gerente. As certificações podem ser consultadas no próprio site da Anbima com o nome do influencer, já a empresa deve ser sinalizada nas postagens.
• Aprenda mais sobre o assunto. “Não confie somente no que o influenciador fala. Se você se interessou pelo assunto, busque aprender mais sobre aquele ativo ou sobre aquela empresa”, diz Brum. A própria Anbima oferece cursos online gratuitos para diferentes níveis de conhecimento, de iniciantes a profissionais.
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