O mercado global de “superalimentos” vale cerca de US$ 162 bilhões (R$ 818,9 bilhões na cotação a R$ 5,05 por dólar) e deve crescer em média 5,5% até 2028, segundo dados publicados pelo IMARC (International Market Analysis Research and Consulting Group).
Mas, se os superalimentos estão ajudando as pessoas a cuidarem mais de suas mentes, corpos e paladares, elas deveriam também se perguntar se a sua produção está tendo um impacto positivo no meio ambiente, especialmente se os produtos em questão estão sendo cultivados e colhidos em regiões do mundo consideradas importante em termos de biodiversidade e bioeconomia.
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Essa era uma questão em pauta para Albana Rama, fundadora e CEO da The Rainforest Company, com sede em Zurique, na Suíça. Seu empreendimento – que está enviando pacotes polpa de açaí para lojas na Europa – levantou recentemente € 36 milhões (R$ 200 milhões) em financiamento de capital de risco. Na opinião de Rama, o compromisso de proteger a floresta tropical é fundamental para a missão da empresa. Mas como seu negócio funciona na prática?
Um novo concorrente como superalimento
Nos dias atuais, é grande o número de superalimentos apresentados como alternativa de consumo. O açaí é um dos mais recentes concorrentes. Colhido de uma palmeira de mesmo nome na América Central e do Sul, principalmente no Brasil, ele é um fruto repleto de antioxidantes. De acordo com seus defensores, a fruta possui um efeito benéfico na saúde do coração e no sistema imunológico.
Ao longo dos últimos anos, essa polpa da fruta provavelmente chegou a uma conveniência ou supermercado perto de você. Existem vários fornecedores no mercado e um mercado potencial enorme. No contexto das startups alimentares, os 36 milhões de euros angariados pela The Rainforest Company, em dezembro passado, representaram um montante significativo. Não foi apenas uma das maiores rodadas de financiamento no setor europeu de tecnologia de alimentos, foi, também, o maior aumento de recursos a uma empreendedora.
A rodada de arrecadação de fundos – liderada pelo family office Kaltroco – também ocorreu em um momento em que o investimento em foodtech como um todo caiu de US$ 54 bilhões (R$ 273 milhõs) em 2021 para US$ 28 bilhões (R$ 142 milhões) em 2022, de acordo com a Forward Fooding.
As receitas claramente desempenharam um papel importante no mercado em geral. Mas, desde o lançamento em 2016, a The Rainforest Company aumentou consistentemente suas vendas. As embalagens com polpa de açaí são atualmente vendidas em 12.000 pontos de venda em toda a Europa e, com a recente ida da startup também para o mercado do Reino Unido, há potencial maior de crescimento. A empresa gerou receita de 38,5 milhões de francos suíços desde 2018 (cerca de R$ 218 milhões). Entre 2021 e 2022, a startup cresceu 200%. Rama diz que para 2023, a estimativa é de uma receita de 80 milhões de francos suíços (R$ 452,56 milhões).
Mas subjacente a isso está a ambição de ter um impacto positivo. O objetivo declarado da Rainforest Company é buscar uma política ESG que supere qualquer outra no mercado. Mas por que, para a startup, é tão importante ir além?
Negócio inspirado na floresta
Rama nasceu em Kosovo, mas se mudou para a Suíça com seus pais ainda criança. O início de sua vida profissional foi no setor financeiro, onde ela ocupou cargos na GE Capital e na Ekman AG. “Tive uma ótima carreira em finanças, mas comecei a me desiludir. Não me deu a satisfação que esperava”, diz ela.
A virada veio quando Rama visitou a floresta tropical sul-americana. “Fiz um curso de sobrevivência de três semanas para sair da minha zona de conforto.” Apesar da beleza da floresta, era quase impossível não entrar em contato com os desafios, principalmente por Rama ter passado por áreas desmatadas.
Para ela, foi o start para criar a The Rainforest Company, o que seria um meio de manter contato com a população local e com a economia da fruta, sem degradação do meio ambiente. “Vi que podíamos lucrar com as plantas que cresciam na floresta”, diz ela. “E ao oferecer um preço decente aos produtores, poderíamos incentivar os agricultores a trabalhar para nós.”
Escalando a cadeia de suprimentos do açaí
A pergunta que Rama se fazia é: como construir um negócio genuinamente sustentável, evitando acusações de greenwash? Ela diz que a cadeia de suprimentos foi fundamental.
“A configuração foi a parte mais longa do processo”, diz. “Tivemos que falar diretamente com os agricultores. Nós os vemos como parceiros e pretendemos incluir toda a comunidade.” Atualmente, cerca de 200.000 produtores de açaí fornecem a fruta à startup.
Mas não era apenas uma questão de encontrar pessoas para cultivar e colher o açaí. Uma instalação de processamento também era necessária, junto com um porto próximo para dar vazão à produção florestal. O segundo desafio era realmente encontrar um mercado para um produto que não havia ganhado a força que tem hoje.
A empresa realizou um evento de lançamento em um restaurante vegano e convidou jornalistas, além de contar com a ajuda de influenciadores. Lojistas também foram convidados. A empresa começou a colocar seus produtos em lojas na Suíça. Hoje, o mercado do Reino Unido é uma prioridade, com seus produtos disponíveis na rede de supermercados, Waitrose, serviço de entrega Ocado e da rede Whole Foods.
Mas o negócio de açaí é de alguma forma mensurável? Rama aponta para uma política de preços justos de sua startup para garantir que os produtores de açaí não sejam (e não se sintam) explorados. E em termos dos próprios agricultores e dos parceiros locais que fornecem logística e processamento, a empresa realiza diligências para garantir que suas próprias políticas ESG sejam cumpridas. Há um foco particular na biodiversidade e no clima, afirma a executiva.
O relatório de impacto da empresa afirma ter armazenado 6,3 milhões de toneladas métricas de CO2 por meio da preservação da floresta tropical. Avançando, a meta é remover 13,7 milhões de toneladas do gás até 2024.
Mas essa política faz diferença para os clientes? Rama diz que a empresa tem como alvo um público de massa por meio das novas gerações. Dentro dessa mistura, alguns consumidores sem dúvida serão influenciados pela postura ética da empresa, mas outros estarão muito mais focados no sabor e nos benefícios de saúde do açaí. Ou seja, o impacto positivo comprovado faz parte da mistura. Os clientes, diz Rama, estão interessados não apenas na saúde e no sabor da fruta, mas também na sustentabilidade.
E isso faz parte de um quadro maior. Se os venture capitals foram atraídos pelo rápido crescimento das vendas e – como disse o investidor Futury – “internacionalização e expansão do produto” – Rama pretende mostrar que as metas comerciais podem acompanhar a preservação da floresta.
* Trevor Clawson é jornalista colaborador da Forbes EUA, baseado no Reino Unido. Já foi editor no canal de televisão BBC World e nas revistas e.Business e PLC Director. É autor de três livros, incluindo The Unauthorized Guide to Business the Jamie Oliver Way, traduzido para cinco idiomas.
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