Para CEO da Microsoft Brasil, impedir avanço de IAs como ChatGPT é retrocesso

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Tânia Cosentino: “Em 2022, nós colocamos o ChatGPT3 no Bing, nossa ferramenta de buscas. E isso muda toda a perspectiva”

Nos últimos meses, Bill Gates, fundador da Microsoft, dedicou parte de sua agenda para comentar os avanços recentes da inteligência artificial. Sobretudo, depois que a companhia anunciou um investimento de US$ 10 bilhões na OpenAI, dona da plataforma conversacional ChatGPT. Em entrevista recente à Forbes, Gates destacou que seu interesse por IA remonta de antes da fundação da empresa, em 1975. “Fiquei fascinado com quantas invenções mais precisaríamos antes que IA fosse realmente inteligente, no sentido de passar em testes e ser capaz de escrever fluentemente”, disse.

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Esse fascínio do fundador se resume na prática. A Microsoft tornou-se um player importante no desenvolvimento de ferramentas de IA. Em fevereiro, anunciou uma nova versão do Bing, seu sistema de buscas, com o ChatGPT integrado. Em entrevista à Forbes Brasil, Tânia Cosentino, presidente da Microsoft no país, traz uma perspectiva sobre o impacto da tecnologia nos produtos e serviços da empresa, comenta a carta recente, cujo um dos autores é Elon Musk, que pedia uma pausa nos avanços dos testes e fala sobre o trabalho dos c-levels. “Somos contra parar qualquer avanço em IA. Não adianta parar o desenvolvimento ou impedir a adoção da tecnologia, isso é um retrocesso. O que cada país tem que fazer é entender como incorporar a tecnologia de forma segura e como suas respectivas legislações estão preparadas para receber as ferramentas de IA.”

“Em 2022, nós colocamos o ChatGPT3 no Bing, nossa ferramenta de buscas. E isso muda toda a perspectiva. Quando você busca alguma informação hoje, sem o uso de IA, você vai precisar curar, reunir, filtrar e determinar o que é importante”, destacou Tânia. Nesta segunda-feira, 17, as ações da Alphabet caíram mais de 3% com a notícia de que a Samsung poderia adotar o Bing em seus dispositivos. No ano passado, o negócio de buscas do Google movimento mais de US$ 162 bilhões.

Forbes Brasil – Desde que o ChatGPT foi lançado, em 2022, a Microsoft ganhou os holofotes por ter investido na OpenAI, dona da ferramenta, o que mudou internamente desde então em relação ao tema?
Tânia Cosentino – Em 2022, nós colocamos o ChatGPT3 no Bing, nossa ferramenta de buscas. E isso muda toda a perspectiva. Quando você busca alguma informação hoje, sem o uso de IA, vai precisar curar, reunir, filtrar e determinar o que é importante. No caso do ChatGPT se você quer um currículo meu o terá pronto. A forma como as pessoas se comunica com nossa ferramenta ficou mais acessível e reflete em um conteúdo bastante organizado. Isso não quer dizer preciso, tem inverdades, alucinações, o sistema depende muito do humano para as perguntas. Mas devemos ponderar que o ChatGPT não é novo, desde 2019 trabalhávamos com a OpenAI não só no Bing, mas também em nossas plataformas de colaboração, dentro do próprio Outlook. Isso traz muita produtividade, não só para as empresas, mas para os indivíduos. E aqui explica o motivo da repercussão: a IA chegou ao indivíduo.

“Preocupação com o uso ético da tecnologia sempre esteve presente na Microsoft. Promovemos o uso ético da IA desde 2016. Escrevemos um manifesto, temos comitês de ética dentro da área de desenvolvimento, um grupo que trabalha em construção de políticas públicas presente em mais de 190 países e organizações locais.”

FB – Deixando a euforia de lado, como que o ChatGPT, ou a discussão sobre IA, afeta a dinâmica dos c-levels?
Tânia – A grande pergunta das lideranças passa por: “o que isso tem a ver com minha indústria?”. E como que eu aplico IA além do ChatGPT? Existe uma série de soluções que vão transformar minha relação com o consumidor. Seja uma indústria, um varejista, uma distribuidora de energia, quais são os casos de uso e a utilidade da tecnologia para nossos negócios? A Microsoft vem desenvolvendo casas de uso para diferentes indústrias cujo principal objetivo é ajudar o CEO a entender como que toda essa tecnologia de IA entrar no negócio dele e, principalmente, como ela pode transformar a experiência do cliente e deixar a companhia mais eficiente.

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FB – Considerando que IA é uma tecnologia em evolução, qual será o impacto que ela causará nos negócios?
Tânia – Inteligência artificial não é algo novo. As primeiras conversas relacionadas datam de 1956. Lá atrás já se falava em programar a máquina, dar comando e as máquinas responderem. Na medida em que evoluímos, a máquina incorporou dados matemáticos e estatísticos utilizando metodologia de redes neurais e com o aprendizado do algoritmo. No caso da Microsoft, também não é algo recente. Começamos a investir em mecanismos de linguagem natural há anos e, em 2019, já tínhamos feito um aporte financeiro na OpenAI. Principalmente porque entendemos que a ferramenta de linguagem natural que eles estavam desenvolvendo era muito poderosa. Uma linguagem natural baseada em um volume gigantesco de dados e parâmetros. O ChatGPT, em 2019, já tinha 175 bilhões de parâmetros, o que equivalia a 100 vezes mais sua versão anterior.

FB- Há algumas semanas, tivemos uma carta assinada por Elon Musk e milhares de outros cientistas, técnicos e até historiadores pedindo uma pausa nos avanços de IA, como você considera as discussões sobre o uso ético da tecnologia?
Tânia – Preocupação com o uso ético da tecnologia sempre esteve presente na Microsoft. Promovemos o uso ético da IA desde 2016. Escrevemos um manifesto, temos comitês de ética dentro da área de desenvolvimento, um grupo que trabalha em construção de políticas públicas presente em mais de 190 países e organizações locais. Também nos sentamos junto com o governo para discutir questões de regulação. Somos contra parar qualquer avanço em IA. Não adianta parar o desenvolvimento ou impedir a adoção da tecnologia, isso é um retrocesso. O que cada país tem que fazer é entender como incorporar a tecnologia de forma segura e como suas respectivas legislações estão preparadas para receber as ferramentas de IA.

“Somos contra parar qualquer avanço em IA. Não adianta parar o desenvolvimento ou impedir a adoção da tecnologia, isso é um retrocesso. O que cada país tem que fazer é entender como incorporar a tecnologia de forma segura e como suas respectivas legislações estão preparadas para receber as ferramentas de IA.”

FB – O que tem sido feito, ou será feito no Brasil, a esse respeito?
Tânia – Já tínhamos construído e trabalhando com o governo. Porque o uso ético e a regulação são preocupações de diferentes órgãos. Câmara dos Deputados, Ministério da Ciência e Tecnologia e diferentes órgãos que precisam de um arcabouço legal para incorporar tecnologias. Além disso, é importante um ecossistema que fomente o desenvolvimento e uso de tecnologia no Brasil. Desde 2020, a Microsoft mantém por aqui uma série de programas para acelerar e capacitar digitalmente vários perfis: desde o leigo, onde trabalhamos com letramento digital, até os desenvolvedores e passando por conceitos de IA. Isso facilita também em outro desafio que temos como indústria que é a formação de pessoas preparadas para tecnologia.

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FB – E do ponto de vista de cibersegurança, quais as discussões e projetos neste sentido quando somamos às conversas sobre IA?
Tânia – Um dos nossos esforços e aproximação com o governo brasileiro é exatamente relacionado a cibersegurança. O Brasil está entre os 5 países mais atacados do mundo em cibercrimes. É importantíssimo saber se defender. Que cada empresa e órgão trabalhe sua resiliência cibernética e saiba reagir caso ocorra um ciberataque. É importante que estejamos unidos para que empresas e governos possam reagir caso ocorra um ataque e como se prevenir.

FB – Como todo esse contexto impacta na dinâmica das empresas e nos negócios?
Tânia – Qualquer empresa que queira atender bem seu cliente, seja B2B ou B2C, tem que conhecê-lo em detalhes, o que chamamos de hiperpersonalização. O grande desafio, hoje, segue sendo a formação e o perfil dos profissionais. Eu preciso sim de profissionais de tecnologia, mas que já tenha experiência em um determinado segmento e que entenda de indústrias. Tecnologia, hoje, não é só atributo de profissionais especializados. Um médico, um operador de mercado financeiro, ou qualquer outro profissional precisam entender o que a tecnologia pode fazer por seu segmento.

 

 





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