Dan Aykroyd e Eddie Murphy ficaram ricos no filme “Trading Places”, de 1983, criando um falso relatório de safra do Departamento de Agricultura dos EUA dizendo que a safra de laranja dos EUA seria ruim, enganando os antagonistas do filme para aumentar os contratos futuros de suco de laranja antes de ser revelado que a colheita estava boa.
Mas este ano, a safra de laranja dos EUA está longe de ser boa e está prevista para ser a menor desde 1937. A produção está em declínio desde o pico de 25 anos atrás, com as perdas deste ano na Flórida, antes o maior produtor do país, extremamente acentuadas.
Isso aumentou as importações de laranja e suco de laranja, embora os EUA continuem sendo um exportador líquido da fruta. A perda de produção reduziu notavelmente a classificação dos Estados Unidos no mercado global, embora isso esteja alinhado com a desaceleração da demanda doméstica por suco de laranja, antes um alimento básico no café da manhã.
O USDA estimou na terça-feira (11) a safra de laranja 2022-2023 dos EUA em 62,25 milhões de caixas (2,57 milhões de toneladas), uma mínima de 86 anos e uma queda de 23% no ano. Isso é menos de 20% da produção dos EUA na temporada recorde de 1997-1998.
A Flórida, que anteriormente respondia por mais de 80% da safra anual de laranja dos EUA, está produzindo uma mínima de 87 anos de 16,1 milhões de caixas, uma queda de 61% no ano. Isso aumentará a participação na produção da Califórnia para 72%, para 45,1 milhões de caixas, alta de 15% no ano, mas 5% abaixo da média de cinco anos.
A Flórida luta contra uma doença generalizada conhecida como greening dos citros há mais de uma década, reduzindo a produção do Estado. A queda deste ano na safra de laranja da Flórida se deve em grande parte aos graves danos causados pelos furacões Ian e Nicole no outono passado.
Mercado global
Cerca de dois anos antes do lançamento de “Trading Places” (“Trocando as Bolas”, nome do título dado no Brasil), os brasileiros ultrapassaram definitivamente os Estados Unidos como maior produtor de laranja. Os Estados Unidos são agora o sexto maior produtor, enquanto o Brasil permanece no topo, produzindo duas vezes mais laranjas do que a China, o segundo produtor global.
Os Estados Unidos ainda são um dos cinco maiores exportadores de laranja, embora se espere que representem 6% dos embarques globais nesta temporada, contra um pico de participação de 23% há duas décadas. Os Estados Unidos eram o maior exportador de laranja em 1983.
As importações americanas de laranjas frescas aumentaram nos últimos anos, embora não no grau que as perdas de produção sugeririam, já que a demanda caiu. No entanto, os Estados Unidos importaram um recorde de 230.619 toneladas de laranjas frescas em 2022, com Chile, México e África do Sul fornecendo 86%.
O Brasil não exporta laranjas in natura, embora seja de longe o maior produtor e fornecedor de suco de laranja, e os Estados Unidos sejam o maior consumidor mundial.
Mas o consumo nos Estados Unidos caiu mais de 50% em relação ao pico de um quarto de século atrás, o que pode ser atribuído não apenas ao declínio da produção, mas também à mudança de hábitos. Isso inclui pular o café da manhã onde os sucos são consumidos com mais frequência e um foco maior em bebidas com baixo teor de açúcar, em meio a preocupações com a saúde.
Sucos de laranja futuros
Os vilões irmãos Duke teriam tido mais sorte apostando em um rali de futuros de suco de laranja concentrado congelado (FCOJ) em 2023 contra 1983, quando o relatório da safra falhou em produzir sua narrativa “altista”.
Na terça-feira (11), a ICE negociou contratos futuros do suco de laranja congelado e concentrado (FCOJ) em máxima recorde de 2,875 dólares por libra, alta de quase 40% até agora neste ano civil. No entanto, ajustados pela inflação, os futuros de FCOJ foram negociados em sua maioria acima dos níveis de hoje ao longo da década de 1980.
O insider trading retratado em “Trading Places” não era realmente ilegal até 2010, quando uma cláusula agora conhecida como “Eddie Murphy Rule” foi aprovada, proibindo o uso de dados governamentais não públicos e ilícitos no mercado.
Karen Braun é analista de mercado da Reuters. As opiniões expressas acima são dela.
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