As demissões em massa continuam nas grandes empresas. Recentemente, Amazon e Meta anunciaram novos cortes que, juntos, afetarão cerca de 20 mil pessoas globalmente, além de startups como iFood, Enjoei e Loft e os unicórnios Nubank, Unico e Frete.com, que fizeram cortes no Brasil entre o final de 2022 e início de 2023.
O número de postagens “#opentowork” no LinkedIn aumentou mais de 20% em novembro último em comparação com o mesmo mês de 2021, segundo a plataforma. Se você faz parte desse grupo e está buscando uma forma de se recolocar, tenha em mente que cerca de 70% das vagas não são anunciadas publicamente, são preenchidas por meio de indicações. E, portanto, se você busca uma nova oportunidade, precisa fortalecer seu networking.
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Quando Monicke Holanda foi desligada do Nubank, onde atuava como especialista de customer experience, não sabia que era via networking – e não candidaturas a vagas abertas publicamente – que a maioria dos desempregados conseguem se recolocar. Ao menos nos Estados Unidos, dados governamentais indicam que 85% das recolocações se dão via rede de contatos.
No Brasil, consultores e especialistas também indicam o networking como a principal forma de encontrar um novo emprego. “Percebemos que 60% a 70% das vagas destinadas aos clientes do Career Group vêm de networking”, diz Fabio Cassettari, sócio-diretor do Career Group e especialista em recolocação.
No caso de Holanda, o networking a levaria a seu próximo emprego em cerca de um mês. Hoje, é supervisora de customer experience na empresa de dermocosméticos Ervik. “O colega que me indicou para essa vaga tinha desenvolvido e desenhado um projeto no Nubank comigo.”
Buscando recolocação, Holanda se candidatou a vagas, mas não foi chamada para entrevistas – apesar de ter no currículo tudo o que era requisitado. “Nesse momento de layoffs, senti que as empresas não estão mais procurando profissionais disponíveis no mercado e sim indicações.”
Importante em qualquer carreira e momento profissional, o networking é ainda mais necessário quando o objetivo não é construir uma rede a longo prazo, e sim buscar logo um novo emprego. “Conseguir emprego via networking não é driblar o processo seletivo ou furar a fila de candidatos, mas saber jogar de acordo com as regras colocadas”, diz Cassettari.
Mas esse é o momento apenas para acionar sua rede, e não construí-la. “O networking precisa ser desenvolvido quando você não precisa dele”, diz Luiz Biagiotti, VP e managing director do Verve Group na América Latina, que usa a ferramenta não apenas em transições profissionais, mas no dia a dia.
Veja as melhores práticas para vencer a timidez, acionar – ou ampliar – sua rede após uma demissão e aumentar a sua chance de se recolocar.
Comece pelos mais próximos
Especialmente se você não esperava ser demitido, pode levar um tempo para esfriar a cabeça e conseguir pensar em fazer networking e se recolocar. Mas se observar que existe essa possibilidade, já comece a acionar sua rede.
Nesse momento pós-demissão, converse com pessoas em quem você confia – família e amigos próximos. Permita-se ficar mal, mas não deixe que esse período se alongue demais. Se não conseguir seguir em frente sozinho, busque ajuda profissional, tanto de um psicólogo quanto de alguém que possa te ajudar com a recolocação.
Reflita sobre o que você quer e precisa
Você tem a possibilidade de refletir sobre os motivos da demissão – motivos financeiros da empresa ou seu desempenho? – e sobre suas necessidades e vontades pessoais e profissionais. É preciso saber exatamente o que você quer nesse momento – seja uma recolocação rápida em uma área específica, fazer um curso, buscar uma especialização ou frequentar eventos para fazer contatos – e dizer isso para as pessoas. “Elas precisam saber que você está disponível e o que exatamente procura, ou com o que exatamente elas podem contribuir. Muitas pessoas não deixam isso claro e, portanto, não são lembradas quando surge uma oportunidade”, diz Marienne Coutinho, fundadora do grupo de networking feminino She e sócia e líder da área de inovação da KPMG.
Desenvolvendo sua rede de contatos
Luiz Biagiotti, hoje executivo da empresa de tecnologia e mídia Verve Group, foi contratado mais de uma vez graças ao networking, inclusive pela atual companhia. “Aprendi no início da carreira a cultivar contatos, conversar com pessoas mesmo que não fossem diretamente ligadas à minha área.”
O networking, segundo ele, é como uma amizade. “Se não cultivar e alimentar essa relação, ela morre”, diz. Por isso, o ideal é colocar isso como parte do trabalho e ir construindo sua rede durante a carreira. “Acionar pessoas que você não vê há anos é complicado, o momento ideal para cultivar sua rede de relacionamentos é quando você está posicionado no mercado.”
Biagiotti tem contatos mais próximos com quem conversa mais frequentemente e outros mais distantes, mas que também por perto. Quando sente que a relação com a empresa já está estagnada ou quer buscar algo novo, já começa a acionar sua rede e as indicações aparecem. “Mas também passei por um layoff e em um processo de outplacement fiz um plano de abordagem para identificar pessoas e o tipo de história para contar para cada uma”, diz ele, que prefere o olho no olho para esse tipo de conversa.
Acesse sua rede profissional
Passada essa etapa, busque pessoas com quem você já trabalhou e com quem teve boas experiências. “Não há momento certo para acionar sua rede de contatos após ser demitido, mas sim quando você considerar que já conseguiu processar a sua demissão e os motivos dela”, diz Cassettari, do Career Group.
Renata Mendonça, coach, mentora e fundadora da RPM Consultoria, explica na prática como fazer isso. “Faça um levantamento, com uma planilha, de todos os seus contatos que podem te levar ao seu objetivo profissional, mesmo aqueles que não tenham sido formados em contextos de trabalho.”
A ideia é fazer isso o mais rápido possível e o objetivo é que as pessoas se lembrem de você caso surja alguma oportunidade ou façam a ponte com outras pessoas que podem agregar para a sua carreira. “Quando uma pessoa abre essa agenda para você, vale agradecer, seja pagando o almoço ou café ou mandando um email ou uma outra lembrança posteriormente”, diz Coutinho.
Mas antes de sair ligando e mandando mensagens, atualize seu currículo, LinkedIn e um parágrafo de apresentação. E também se prepare antes de encontros profissionais – especialmente em um momento que pode envolver frustração emocional e autoestima abalada. “Não se deve fazer do encontro uma terapia, falar mal da antiga empregadora ou de colegas de trabalho. O foco deve ser nas experiências positivas e em como suas habilidades e vivências podem ser úteis nessa próxima fase.”
Como usar o LinkedIn para se recolocar
Carolina Rodrigues, Top Voice do LinkedIn e associada de recrutamento da consultoria americana de gestão Bain & Company, sugere usar a plataforma para aumentar a chance de recolocação. O LinkedIn permite que usuários em busca de emprego utilizem o selo #opentowork, que fica visível na foto de perfil, mas Rodrigues diz que além do selo, é importante fazer uma postagem na plataforma para alertar suas conexões a respeito da sua disponibilidade. “Permita-se organizar as ideias e na sequência se posicione. Faça uma retrospectiva da sua passagem naquela organização já conectando com a sua expectativa de recolocação.”
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Esse post deve ser breve e evitar clichês, como “fechando um ciclo” e “encarando um novo desafio”. Nele, você deve ser sucinto e assertivo e usar palavras-chave da sua área ou da área em que esteja buscando recolocação. Você pode listar os principais projetos que participou, as atividades que executava e mencionar suas principais conquistas, incluindo imagens de eventos e palestras.
Você também tem a possibilidade de reforçar seu networking nesse momento, reforçando como pares, líderes e colegas te apoiaram durante a sua trajetória. E não se esqueça de deixar seus contatos e se manter aberto para novas oportunidades.
Para além do post, aproveite o período de transição para atualizar e modernizar seu perfil. “Vale renovar a foto e o conteúdo, revisar conexões, publicar conteúdos relevantes e alinhados com seus objetivos profissionais e ficar atento a vagas”, diz Marienne Coutinho.
Como abordar recrutadores
Você não precisa ficar restrito à rede de contatos que construiu até aqui. Por meio do LinkedIn, é possível buscar profissionais de RH ou outros funcionários de empresas em que você gostaria de trabalhar e que podem te encaminhar para as áreas corretas. “Muitas vezes as pessoas esperam ser convidadas para uma entrevista de emprego, mas também acho interessante quando o profissional vai atrás de oportunidades”, diz Coutinho.
Contatar diretamente headhunters e empregadores sem que haja vínculo prévio é um risco que você deve ter em vista para não frustrar as expectativas caso não haja resposta. “Pense que o recrutador recebe milhares de abordagens diariamente. Por que ele lembraria ou priorizaria o seu currículo?”, questiona Rodrigues. Além disso, as mensagens precisam ser customizadas, é importante dedicar seu tempo e buscar conexões verdadeiras com as pessoas.
Tenha um elevator pitch na ponta da língua
Em eventos e outros ambientes movimentados, você pode ter apenas alguns minutos da atenção de alguém importante. Por isso, tenha na ponta da língua seu elevator pitch – uma apresentação clara, que te descreve em menos de 30 segundos, ou o tempo de uma viagem de elevador. Seu discurso deve explicar quem você é, o que está procurando e o que pode oferecer.
Por que e como ajudar alguém nessa situação
Networking é uma troca, e portanto pode ser difícil manter ou ampliar sua rede de contatos logo após uma demissão. “Muita gente só se aproxima de quem está bem colocado, mas quando a pessoa está em transição é quando ela mais precisa de apoio e atenção”, diz Coutinho.
Se você não está vivendo esse momento, mas conhece alguém que está, há formas simples de ajudar: convide para um café, almoço ou evento, compartilhe o conhecimento ou as habilidades desse profissional ou divulgue uma vaga de emprego que possa lhe interessar. “O que você fizer por ele nesse momento não será esquecido e terá muito valor para você mesmo.”
Agradeça quem te ajudou no processo
O networking é uma poderosa ferramenta para se manter visto no mercado e conseguir uma nova oportunidade. Mas depois de se recolocar, não se esqueça de agradecer todos que te ajudaram no processo. “Retribua à comunidade de um modo geral, ajudando outras pessoas e investindo no networking, mesmo que ache que não precise mais dele”, diz Marienne Coutinho.
Tudo pode ser networking
Não pense que é interessante fazer networking apenas com pessoas em cargos ou empresas em que você gostaria de estar. Transitar em diversos espaços, ter uma boa relação e comunicação com todo o tipo de pessoa também pode te abrir portas. De repente, uma conversa despretensiosa com a mãe do melhor amigo do seu filho pode te render uma indicação. “Muitas pessoas só se lembram do networking quando precisam e isso é um grande erro. Devemos investir tempo e esforço para desenvolver relacionamentos diariamente”, diz Coutinho.
O post Foi demitido? Saiba como usar o networking para se recolocar apareceu primeiro em Forbes Brasil.