Lançado no início de janeiro pela Netflix, o documentário Bernie Madoff: o Golpista de Wall Street nos refresca a memória sobre um dos mais bizarros escândalos financeiros dos Estados Unidos, com grande impacto na economia norte-americana e mundial. Considerado um mago financeiro que desafiava as perversas flutuações do mercado, Madoff viu a ruína em 2008, após operar por mais de 17 anos um esquema que lesou milhares de investidores, de aposentados a celebridades, entre eles Steven Spielberg, Kevin Bacon e Elie Wiesel.
O documentário traz testemunhos de investigadores, vítimas e especialistas em mercado financeiro, que explicam em detalhes como Madoff orquestrou uma fraude de mais de US$ 60 bilhões. Paralelamente à sua bem-sucedida empresa de investimentos (registrada e legalizada), ele operava uma gigantesca pirâmide financeira clandestina.
A ganância por lucros maiores e a atração pelo crime são evidentes, porém, incompreensíveis à luz da racionalidade. Madoff, que foi presidente da Nasdaq, ganhava muitíssimo bem com suas atividades legais e gozava de enorme credibilidade.
A literatura jurídica tem alguns casos semelhantes, mas nenhum teve tamanho impacto na vida de tantas pessoas. Não à toa, Madoff ganhou fama de ser “o maior golpista de todos os tempos”, sendo chamado de “serial killer” das finanças.
Os pequenos investidores foram os que mais se ressentiram da fraude. Muitos amargaram até o confisco de suas casas no processo movido pelas autoridades administrativas. A história é trágica até para os familiares de Madoff. Além das desgraças individuais, o que se destaca é a cegueira das autoridades responsáveis, que, apesar de denúncias, não o investigaram seriamente, possibilitando que a fraude ganhasse mais corpo ao longo dos anos.
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A trajetória do operador americano não é ficção. É uma lamentável combinação de descaso, brechas jurídicas, falhas de fiscalização e muita ganância. Vale ressaltar que o próprio Madoff foi achacado por um grande empresário, que entendeu a forma fraudulenta com que ele estava operando. Madoff se confessou culpado em março de 2009. Foi condenado a 150 anos de prisão por fraude, registros falsos, lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
Em tempos de tantas denúncias de pirâmides financeiras e o estrondoso caso das Lojas Americanas no Brasil, o documentário é um alerta de que autoridades, instituições financeiras e investidores estão todos no mesmo barco. Quando ele afunda, as perdas são generalizadas e o imbróglio jurídico chega a todos, em maior ou menor escala, mais cedo ou mais tarde. Também não são necessários novos arcabouços jurídicos para desmascarar outros Bernie Madoff: basta fiscalizar e aplicar as regras já existentes.
Após a morte de Madoff na prisão, em 2021, o Washington Post observou que isso não significava que os seus truques foram enterrados com ele, mas que continuavam vivos por aí. O jornal usou uma frase que o presidente Ronald Regan disse ao negociar com os soviéticos: “Confie, mas verifique”, o que pode servir a todos os investidores.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados.
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Artigo publicado na edição 105, de janeiro de 2023.
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