Em todo o mundo há 2.640 bilionários, dos quais 337, ou quase 13%, são mulheres. A taxa é ainda menor, de 12%, quando se trata das únicas 6 mulheres entre os 51 bilionários brasileiros na lista da Forbes deste ano.
Quase três quartos de todas as bilionárias do mundo são herdeiras – assim como a mulher mais rica do planeta, Françoise Bettencourt Meyers, que tem um patrimônio estimado em US$ 80,5 bilhões e controla cerca de 33% da L’Oréal junto de sua família.
No Brasil, apenas uma, Lucia Maggi, cofundadora da Amaggi, uma das maiores empresas do agro brasileiro, é considerada “self-made”. Enquanto isso, os patrimônios dos homens mais ricos do país, como Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles, cofundadores da AB Inbev, maior fabricante de cervejas do mundo, e Eduardo Saverin, cofundador da Meta, vêm de suas próprias empresas. “Hoje discutimos isso, mas na época dos nossos bisavós as mulheres não tinham direitos nem a herdar as terras ou os negócios quando ficavam viúvas”, diz Silvia Martins, diretora de programas de desenvolvimento de famílias da Fundação Dom Cabral.
A configuração da lista de bilionários, e especialmente a participação das mulheres brasileiras nela, muda pouco ou quase nada a cada ano.
Este ano, a pessoa mais rica do país é Vicky Safra, que nem figurava entre as oito brasileiras na lista do ano passado. A herdeira do Banco Safra, fundado por seu falecido marido, Joseph Safra, e seus filhos tiveram sua fortuna unificada e estimada em US$ 16,6 bilhões por uma mudança de metodologia do levantamento.
Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, que em 2022 aparecia em 5º lugar entre as mulheres mais ricas do país, saiu da lista da Forbes deste ano. Trajano já havia saído do ranking de bilionários em junho do ano passado, após as ações da varejista perderem mais de 90% de seu valor em 11 meses por questões econômicas enfrentadas pelo país. Mas havia voltado a ocupar a lista em fevereiro, com uma alta de mais de 65% nas ações da empresa, impulsionada pela crise contábil da Americanas, sua concorrente.
Entre os 62 brasileiros presentes no ranking do ano passado, havia oito mulheres.
Este ano são seis. Além da saída de Luiza Trajano e entrada de Vicky Safra, outras duas perderam seus lugares na lista das mulheres mais ricas: Maria Helena Scripilliti, herdeira do Grupo Votorantim, e Dulce Pugliese, cofundadora da Amil.
Com algumas poucas exceções, o padrão das mulheres mais ricas continua o mesmo: herdeiras e brancas. Entre as 10 mais ricas do mundo, há apenas uma bilionária self-made, a novata Rafaela Aponte-Diamant, cofundadora da MSC, uma das maiores companhias marítimas do mundo, com um patrimônio de US$ 31,2 bilhões.
No caso do Brasil, um país cuja maioria da população é negra, a lista é um retrato do quadro social do país. “Ainda temos um caminho muito longo do ponto de vista de gênero e diversidade como um todo para romper esse teto de vidro”, diz Martins, da Fundação Dom Cabral.
O papel da mulher
O relatório Global Entrepreneurship Monitor mostra que as mulheres têm mais resiliência nos negócios e aderem à inovação mais rapidamente e com mais facilidade, o que foi comprovado na pandemia. Uma pesquisa da organização Leadership Circle com 1,5 milhão de pessoas mostra que as lideranças femininas são mais eficazes em todos os níveis de gerenciamento e faixas etárias.
Ainda assim, as mulheres são afetadas pelo preconceito dentro e fora do mundo corporativo, o que dificulta a sua chegada à liderança. “Há um desafio muito grande sobre o papel da mulher na sociedade. Não só na sociedade brasileira, mas nas empresas familiares.”
Mudar essa realidade é algo complexo e que passa por alterar a forma como enxergamos os papéis de parentalidade hoje. Segundo Martins, esse é um dos principais pontos de evolução, além de trabalhar a diversidade como um todo, para além do gênero. “A gente tem dois caminhos: trabalhar cultura e viés de gênero e preparar e formar as mulheres para elas se sentirem mais confortáveis em se arriscar mais como os homens fazem.”
Sucessão feminina no Brasil
Especialista em sucessão, Martins observa hoje que há um caminho mais aberto para as mulheres atuarem nas organizações, mas cada empresa tem sua situação específica. Ela atende empresas com mulheres sucessoras e companhias formadas somente por mulheres. “Elas encontraram esse caminho aberto na construção da relação com os pais e se provando. Porque dependendo da família, não adianta apenas querer ou ter competência, é preciso se provar mais.”
A maioria das mulheres mais ricas do Brasil tem hoje mais de 60 anos e não assume funções nas empresas. Entre as mais jovens, Ana Lucia de Mattos Barretto Villela, herdeira do Itaú, é membro do conselho de administração do grupo desde 2018, além de fundadora da Ong de impacto ambiental Instituto Alana, e Anne Werninghaus, herdeira da WEG, não atua na empresa. “Por mais que a pessoa não tenha aptidão ou competência para atuar na gestão ou na governança desse negócio, ela precisa conhecer as suas responsabilidades para ser sócia.”
A diferença entre herdar e suceder, segundo Martins, é grande. E os futuros acionistas precisam ter uma preparação não só para herdar um patrimônio, mas para suceder um legado. “O grande desafio é a preparação das novas gerações para assumirem não somente a fortuna, mas o legado.”
Veja quem são as mulheres mais ricas do Brasil
(A Forbes usou os preços das ações em 10 de março de 2023 para calcular os patrimônios líquidos. A conversão de dólares para reais considerou a cotação de R$ 5,08.)
1. Vicky Safra, 70 anos, e família
Posição no ranking global: 100 (subiu)
Patrimônio líquido: US$ 16,6 bilhões (R$ 84,3 bilhões)
Vicky Safra e seus quatro filhos herdaram a fortuna do falecido bancário brasileiro Joseph Safra. Naturalizada brasileira, a viúva do banqueiro nasceu na Grécia e se mudou para o Brasil com sua família ainda criança. Depois de anos em terras brasileiras, hoje ela vive em Crans-Montana, na Suíça. Jacob Safra, 46, é responsável pelo banco suíço J. Safra Sarasin, pelo Safra National Bank de Nova York e pelos imóveis da família nos Estados Unidos. David Safra, 37 anos, administra o Banco Safra no Brasil e as participações imobiliárias brasileiras do Grupo J. Safra. Alberto Safra, 42, deixou a diretoria do Banco Safra em 2019 e mora em São Paulo. No último ano, a Forbes juntou a fortuna dos irmãos com o patrimônio de sua mãe, o que os tornou as pessoas mais ricas do país.
2. Ana Lucia de Mattos Barretto Villela, 49 anos
Posição no ranking global: 1905 (caiu)
Patrimônio líquido: US$ 1,5 bilhão (R$ 7,62 bilhões)
Ana Lucia pertence a uma das famílias bancárias mais antigas do Brasil e é a bilionária mais jovem do Brasil. Seu bisavô fundou o banco Itaú, que se fundiu com o Unibanco em 2008 para formar o Itaú Unibanco, o maior banco privado da América Latina. Ela é uma das maiores acionistas individuais do Itaúsa, holding do banco, com cerca de 12% das ações ordinárias e 3% das ações preferenciais, e membro do conselho de administração do grupo desde 2018. Seu avô fundou a Duratex, fabricante brasileira de painéis de madeira e louças sanitárias de capital aberto; ela é acionista. Ela se tornou acionista do banco quando tinha 8 anos, quando seus pais morreram em um acidente de avião em 1982. Formou-se em pedagogia e hoje é presidente do Instituto Alana, Ong de impacto socioambiental com foco em crianças fundada por ela e seu irmão Alfredo.
3. Lucia Maggi, 90 anos, e família
Posição no ranking global: 2020 (caiu)
Patrimônio líquido: US$ 1,4 bilhão (R$ 7,1 bilhões)
Lucia Borges Maggi é a única bilionária brasileira que não herdou sua fortuna. Ela é cofundadora do Grupo André Maggi, a Amaggi, um dos maiores produtores do agro brasileiro. A empresa atua na originação de grãos, produção de soja, milho e algodão, operações portuárias, rodoviárias e fluviais, e geração e comercialização de energia elétrica. A Amaggi nasceu em 1977. Há cerca de 10 anos, a matriarca se afastou de seu papel no conselho de administração da companhia e hoje figura como acionista.
>> Veja também: Quem são as mulheres mais ricas do mundo em 2023
4. Anne Werninghaus, 37 anos
Posição no ranking global: 2020 (subiu)
Patrimônio líquido: US$ 1,4 bilhão (R$ 7,1 bilhões)
Anne Marie Werninghaus é a maior acionista individual da WEG, maior fabricante de motores elétricos da América Latina, e fundadora da VestesBr, uma empresa de moda B2B lançada em 2011. A WEG foi cofundada por seu avô Geraldo Werninghaus junto com os bilionários Eggon João da Silva e Werner Ricardo Voigt. Multinacional de capital aberto com fábricas em cinco países, a WEG faturou US$ 3,05 bilhões em 2020. Anne não trabalha na empresa da família nem ocupa um cargo no conselho.
5. Neide Helena de Moraes, 68 anos
Posição no ranking global: 2259 (caiu)
Patrimônio líquido: US$ 1,2 bilhão (R$ 6,09 bilhões)
Neide Helena de Moraes é herdeira de uma participação no conglomerado industrial brasileiro Grupo Votorantim. Ela é neta de José Ermírio de Moraes, que fundou o Grupo Votorantim em 1918, e já apareceu na lista da Forbes em 2014. Neide Helena herdou uma participação de 8% na empresa familiar após a morte de seu pai, José Ermírio de Moraes Filho, em 2001. Seus dois irmãos, José Ermírio de Moraes Neto e José Roberto Ermírio de Moraes, também herdaram participações.
6. Vera Rechulski Santo Domingo, 74 anos
Posição no ranking global: 2540 (subiu)
Patrimônio líquido: US$ 1 bilhão (R$ 5,08 bilhões)
Vera Rechulski Santo Domingo é viúva de Julio Mario Santo Domingo Jr., filho do empresário da cerveja colombiano Julio Mario Santo Domingo, que morreu em 2009. Ela controla cerca de 11% da holding da família Santo Domingo sediada em Luxemburgo, por meio da qual detém ações da Anheuser-Busch InBev. Seus dois filhos, Tatiana Casiraghi e Julio Mario Santo Domingo III, possuem participações menores de cerca de 5% cada. A família também tem participação na Château Pétrus, uma vinícola francesa perto de Bordeaux que produz alguns dos vinhos mais caros do mundo. Além de participações na Keurig Dr. Pepper, Kraft Heinz e JDE Peet’s, proprietária da Peet’s Coffee.
>> Leia também: As 10 mulheres self-made mais ricas do mundo em 2022
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