Falei sobre a irracionalidade do mercado nos stories do meu Instagram e isso acabou rendendo inúmeras mensagens, por isso, achei interessante trazer para cá esta reflexão.
O mercado de ações tem se mostrado muito volátil. As sucessivas quedas da bolsa verificadas nas últimas semanas causam sobressalto na maioria dos investidores. Boa parte da explicação para esse comportamento é a falta de entendimento sobre os ciclos econômicos, a relação entre risco e retorno e, especialmente, o desconhecimento sobre os vieses comportamentais aos quais estamos suscetíveis.
Se você acompanha o mercado e o noticiário econômico, certamente já ouviu algumas vezes que quanto maior o risco maior o retorno, e vice-versa. Contudo, o fato de a maioria dos investidores já ter ouvido isso inúmeras vezes não significa que todos incorporem essa premissa às suas decisões e nem tampouco que compreendam o real significado de volatilidade.
Volatilidade nem sempre significa risco
Volatilidade é a oscilação verificada nos preços de ativos em um determinado intervalo de tempo. Estamos falando de flutuações, cujo grau de risco para sua carteira de investimentos está intimamente relacionado ao nível de diversificação dessa carteira e ao tempo que você tem para esperar.
Vendo por esse prisma, o quanto arriscada é uma carteira diversificada e com bons ativos, cujo horizonte seja de longo prazo – dez anos, por exemplo? Nesse caso o risco é relativamente pequeno. A definição pura de “risco” é a de “perda absoluta do capital investido”.
Com certeza, perder o seu patrimônio financeiro é um risco infinitamente maior do que as flutuações ocorridas em um intervalo de dez anos. Sendo assim, se você investe em empresas com fundamentos sólidos, que seguem tendo lucros crescentes ao longo do tempo, mas o preço de suas ações apresenta quedas em determinados ciclos de mercado, é claro que isso é, em princípio, ilógico, já que o principal impulsionador do aumento do preço das ações é o lucro gerado pelas empresas.
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Nesse contexto, a irracionalidade quanto ao preço do ativo não vai durar para sempre. Na reversão do ciclo econômico, e considerando uma linha de tempo longa, empresas de qualidade sempre terão valorização, pois as leis de mercado sempre corrigem as inconsistências.
O que é a irracionalidade do mercado?
Por que alguns investidores obtêm grandes lucros exatamente no mesmo momento de mercado em que outros estão absorvendo perdas? Se as informações disponíveis sobre os ativos, empresas e os rumos da economia são as mesmas para todos, por que será que o mercado não funciona conforme as previsões e apresenta ineficiências que não possuem uma
explicação matemática e 100% lógica?
A resposta é conhecida: as ineficiências acontecem devido ao comportamento dos agentes econômicos. Ou seja: nós, os humanos. Ao contrário do que gostamos de acreditar, agimos de maneira imprevisível e irracional. Somos movidos por vieses comportamentais que afetam nossas decisões.
A irracionalidade do mercado é justamente o desvio dos fundamentos lógicos, influenciado por comportamento de investidores, informações incompletas ou discrepantes, expectativas que superestimam ou subestimam um determinado cenário, ou pura e simplesmente emoções, como medo, ganância, ansiedade, etc.
Grandes estudiosos e ganhadores de Prêmios Nobel de Economia – como Richard Thaler, Robert Schiller e Daniel Kahneman –, têm estudos comprovando que a influência das emoções torna o comportamento humano altamente imprevisível e inconsistente. Nas finanças, uma consequência direta disso pode ser a significativa elevação ou queda de ativos, levando investidores a violar uma regra básica do mundo dos investimentos: vender na baixa e comprar na alta.
Em momentos de irracionalidade do mercado, a paciência é uma virtude. Enquanto investidores, precisamos ser cautelosos na composição e diversificação de um portfólio de investimentos. É preciso levar em conta, entre outras coisas, que o mercado pode ser irracional no curto prazo. Porém, ele será eficiente ao longo do tempo, e sempre irá corrigir distorções.
A melhor forma de obter êxito é evitar a tendência instintiva de agir com a manada. A estratégia de fazer o que todo mundo está fazendo acaba sendo a mais propensa a gerar volatilidade perigosa. Lembre-se que ao investir em ações, seu foco mais relevante não é o sobe e desce do mercado no curto prazo. Concentre-se em acompanhar e entender os rumos dos negócios/empresas de qualidade em que você investiu.
Como é a gestão?
Quais as oportunidades e riscos existentes no segmento onde a empresa atua?
Qual o nível de endividamento em relação à capacidade de geração de caixa?
A que tipo de dívidas a empresa está exposta?
O endividamento está dentro de níveis controlados e sendo usado para o crescimento do negócio, ou está apenas financiando a ineficiência de gestão?
Qual o patrimônio da empresa e quanto dele possui liquidez?
Como educador financeiro, eu tenho visto muita gente empenhando tempo e esforços para entender os movimentos gráficos das ações, querendo saber o momento exato de comprar ou vender, mas sem se preocupar com os fundamentos dos negócios aos quais estão se associando ao se tornar acionistas. A dica é: concentre-se nas empresas, porque é isso que você está comprando e, sobretudo, não perca de vista que investimento em ações deve ser predominantemente para longo prazo.
O mercado de ações reage em parte racional e em parte irracional às mudanças econômicas. Se você compreender a lógica por trás disso, e se autoconhecer o suficiente, para identificar quais vieses comportamentais têm maior poder de influência sobre seu emocional, poderá usar tudo isso em seu favor e, dessa forma, aproveitar as oportunidades de cada cenário
econômico.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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