O poema “The Waste Land”, de T. S. Eliot (1888-1965), se inicia dizendo que abril é o mais cruel dos meses. Porém, para os investidores em ações de bancos norte-americanos, isso foi antecipado para março. O valor de mercado do setor encolheu centenas de bilhões de dólares após algumas instituições terem falido e outras balançarem. No entanto, alguns especialistas afirmam que o pior já passou.
Nos últimos 30 dias, as ações dos bancos tiveram de enfrentar as falências do Silicon Valley Bank, do Signature Bank e do Silvergate, além de diversos problemas em outros bancos regionais. O setor financeiro foi de longe o de pior desempenho no S&P 500 em março, caindo 10,6%. De fato, das 12 ações com maiores quedas do S&P 500, 11 foram ações de bancos. A maior queda, 89%, foi das ações do First Republic.
O valor de mercado dos dez maiores bancos norte-americanos caiu de US$ 1,59 trilhão (R$ 8,06 trilhões) em 1º de março para US$ 1,34 trilhão (R$ 6,80 trilhões) em 31 de março, uma queda de US$ 250 bilhões (R$ 1,26 trilhão), ou 15%. O resultado poderia ser ainda pior, pois os dez maiores recuperaram US$ 47 bilhões (R$ 238 bilhões) em valor de mercado nesta semana.
As perdas foram ainda mais graves quando estendidas aos 25 dos maiores bancos dos EUA, já que o valor de mercado desse grupo caiu de US$ 1,96 trilhão (R$ 9,94 trilhões) para US$ 1,63 trilhão (R$ 8,27 trilhões), perdendo cerca de US$ 332 bilhões (R$ 1,68 trilhão) em março. Quando se olha para os índices, o Dow Jones teve alta de 1,1%, o S&P 500 subiu 2,5% e o Nasdaq avançou 5,5%, todos a caminho de fechar o mês com sinais positivos.
Os ganhos dos índices em março se devem aos saltos maciços das ações de tecnologia. Os fabricantes de chips Intel e Advanced Micro Devices tiveram o primeiro e terceiro melhores desempenhos no S&P 500 este mês, respectivamente, enquanto os ganhos de dois dígitos da Salesforce, Meta e Microsoft também ficaram entre os dez primeiros.
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Contexto
As autoridades monetárias fecharam o Silicon Valley Bank e o Signature Bank nos dias 10 e 12 de março, após ambos os bancos falharem em atender às necessidades de liquidez dos clientes, marcando a segunda e a terceira maiores falências de bancos da história dos Estados Unidos.
O FDIC, agência que garante os depósitos bancários americanos, interveio para garantir os pagamentos dessas instituições, mesmo para aqueles com participações acima do limite de US$ 250 mil. No entanto, isso não ajudou a acalmar os investidores nesses bancos, que não queriam ver o valor de suas ações cair a zero.
Os reguladores bancários federais afirmaram que a falha da liderança do Silicon Valley Bank em gerenciar o risco foi a principal causa do colapso, mas a queda das cotações indica preocupações generalizadas sobre como os bancos podem enfrentar um ambiente macroeconômico em que os juros estão no nível mais alto em 17 anos.
Juros altos
O Fed (Federal Reserve), o banco central americano, elevou as taxas novamente em 22 de março pela nona vez consecutiva, indicando que seu foco continua sendo a redução da inflação. “A turbulência no setor bancário parece estar dando passos pequenos, mas constantes, para a normalização”, declararam os analistas do Bank of America em nota aos clientes hoje (31).
Eles indicaram um declínio recente nos empréstimos do Fed e em outras fontes de financiamento de emergência, bem como a força relativa dos ativos mantidos pelas instituições. “A crise de liquidez está diminuindo, a próxima fase será avaliar os danos”, escreveu Cabana.
O analista da Oanda, Craig Erlam, concorda. Para ele, “os investidores estão se sentindo mais tranquilos pela falta de turbulência” nas ações de bancos nesta semana.
Abril revelará o quão dolorosas foram as últimas semanas para os resultados dos bancos, já que a maioria das instituições deve divulgar os resultados do primeiro trimestre. Os dez maiores bancos dos EUA reportarão seus números entre 14 e 20 de abril, enquanto o balanço do First Republic, um dos bancos observados de perto devido ao risco de colapso, será divulgado em 14 de abril.
(Traduzido por Monique Lima)
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