O impacto da recuperação judicial da Petrópolis nas ações da Ambev

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Paulo Whitaker/Reuters

Engradados de bebida da Ambev em Fortaleza (CE)

Dona das marcas Itaipava, Crystal e Petra, a Petrópolis é a terceira maior produtora de cerveja do Brasil, atrás da Ambev e da Heineken. Segundo o Itaú BBA, sua participação de mercado é de 13%, com destaque para a penetração no Nordeste.

A empresa pediu recuperação judicial ontem (28), após não conseguir honrar uma parcela de R$ 105 milhões de uma operação financeira. Com o risco de vencimento antecipado de toda a dívida, a Petrópolis pediu proteção contra os credores. As dívidas da companhia somam R$ 4,2 bilhões.

Segundo a Petrópolis, o aumento dos juros no país encareceu o montante devido, em um momento em que as vendas caíram. O volume de vendas caiu 22,6% em dois anos, recuando de 31 milhões de hectolitros em 2020 para 24 milhões de hectolitros em 2022.

Gustavo Troyano, analista do setor de alimentos e bebidas do Itaú BBA, afirma que a notícia pode ser interpretada como um sinal de que o nível de lucratividade da indústria cervejeira brasileira está abaixo do ideal.

“Observamos que a Ambev vem entregando contrações de margem bruta em Cerveja Brasil desde 2012, levando a uma queda também na lucratividade de todo o setor”, diz em relatório. “Com margens comprimidas, players com números de participação de mercado mais baixos, portanto com menor diluição de custos e eficiência de escala, tendem a lutar ainda mais.”

Ambev e Heineken somam 80% de participação no mercado cervejeiro brasileiro. Segundo os dados de produção de bebidas alcoólicas do IBGE, o setor ficou estagnado entre os anos 2020 e 2022. Entretanto, ambas as companhias registraram aumento de volume no período.

Para Troyano, isso indica que Petrópolis impulsionou os ganhos de Ambev e Heineken nos últimos três anos, “enquanto a empresa enfrentava restrições financeiras, que foram aceleradas por interrupções na distribuição devido à dinâmica da pandemia do COVID-19”.

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Ambev e Heineken crescem?

Os próximos passos da Petrópolis são incertos, visto que ainda não há um plano de recuperação judicial. Entretanto, é certo que os investimentos em mais capacidade, marcas e marketing serão suspensos.

Neste contexto, os analistas Isabela Simonato e Guilherme Palhares, do Bank of America (BofA), afirmam que veem espaço para a participação de mercado da Heineken e da Ambev crescerem.

Um dos potenciais ganhos da Ambev está no Nordeste, onde a Petropólis tem maior penetração devido à popularidade da cerveja Itaipava. Uma pesquisa do BofA apontou a Itaipava como a preferida para 39% dos consumidores baianos – a marca só fica atrás da Devassa, da Heineken. Entre as marcas da Ambev, Skol é a que tem o melhor desempenho no Nordeste, com chances de ampliar o alcance frente a outras marcas locais de players menores.

A análise do BofA também levanta a possibilidade da receita média por hectolitro do setor aumentar. Isso porque, o preço da Itaipava é cerca de 5% a 10% menor do que outras marcas do mesmo segmento. Segundo os analistas, “se [a marca] perder participação e a disponibilidade cair, os preços médios do segmento podem subir à medida que os consumidores trocam por marcas um pouco mais caras”.

Para Simonato e Palhares, se a Ambev capturar 75% dos volumes da Petrópolis, isso sugeriria um aumento potencial de 19% para seus próprios volumes no Brasil e 7% para o lucro operacional (Ebitda) consolidado.

Aumento da competição

Outra possibilidade para o mercado cervejeiro brasileiro é a entrada de um novo player (ou aumento de um existente) por meio da aquisição da Petrópolis. Para este cenário, Troyano cogita três possibilidades: a chegada de uma cervejeira estrangeira, aquisição pela Coca-Cola ou aquisição pela Heineken.

Cervejeira estrangeira: “pode ser o cenário ideal para a entrada de uma cervejeira estrangeira no mercado brasileiro”, diz o analista do BBA. A capacidade atual de produção da Petrópolis é de 52,3 milhões de hectolitros (8 plantas), um volume visto como um ponto de partida sólido para uma empresa estrangeira ter uma participação de mercado rentável, segundo Troyano.

Coca-cola: em 2021, a Coca-cola adquiriu a cervejeira Therezópolis e desde então não deu sinais de que busca mais ativos de produção de cerveja no Brasil. No entanto, “após o término dos contratos de distribuição entre Coca-Cola e Heineken, a Petrópolis pode ser uma alternativa para preencher a capacidade ociosa de distribuição que já existe”, afirma Troyano. Além disso, o analista destaca que os recentes anúncios de expansão de capacidade da Therezópolis podem ser um indicador de que a empresa está disposta a ampliar sua exposição ao segmento.

Heineken: devido às potenciais restrições antitruste determinadas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o analista do BBA não vê a possibilidade da empresa adquirir todos os ativos da Petrópolis. No entanto, ele afirmou acreditar que “a Heineken poderia buscar aquisição de algumas plantas específicas para impulsionar seus planos de expansão de capacidade no Brasil”.

Ações da Ambev

Para o Itaú BBA, a notícia é positiva para as ações da Ambev (ABEV3) no curto prazo, mas o analista pondera que é muito cedo para ser otimista com o longo prazo. A recomendação é neutra, com preço-alvo de R$ 18,00 – equivalente a 30% de valorização frente ao fechamento da véspera, em R$ 13,93.

O BofA também manteve a sua recomendação neutra enquanto aguarda novas informações sobre a recuperação judicial da Petrópolis. O preço-alvo para as ações ABEV3, segundo o banco americano, é R$ 16,50 – um potencial de valorização de 18,4%.

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