A dinâmica de ocupação da terra do cultivo de cana-de-açúcar no Brasil nos últimos 20 anos retirou aproximadamente 9,8 milhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera, apontou estudo conjunto da Agroicone, Unicamp e Embrapa, indicando que a agricultura também pode contribuir para a redução nas emissões de gases do efeito estufa, dependendo das práticas aplicadas.
As mudanças no uso da terra são fatores considerados nas emissões de carbono da agropecuária, especialmente no Brasil, onde o desmatamento faz do país um dos maiores emissores de gases do efeito estufa.
Mas no caso da cana, segundo o estudo, 25% da área da lavoura atual já era ocupada com o cultivo em 2000. Além disso, o acréscimo de 6,1 milhões de hectares nos canaviais identificado nesse período veio de conversões de áreas que, anteriormente, eram pastagens (60%), culturas anuais (16%) e mosaicos (22%), terras de agricultura e pastagem.
E apenas 1,6% da expansão de cana ocorreu sobre áreas de vegetação natural, destacou em comunicado o Agroicone, organização que atua em estudos para transformar a agropecuária brasileira diante dos desafios globais do desenvolvimento sustentável.
Segundo os dados levantados, o padrão de conversão do uso da terra –associado a mudanças implementadas na colheita, que era manual e demandava a queima dos canaviais no passado, e agora envolve a cana crua, graças à mecanização– contribuiu para que as áreas cultivadas com cana fossem responsáveis pela remoção líquida de quase 10 milhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera.
“Ficou muito claro que o uso de parâmetros mais precisos para o estoque de carbono pode alterar significativamente as conclusões sobre mudança de uso da terra, que têm sido difundidas por diferentes esquemas internacionais…”, comentou o professor Joaquim Seabra, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, um dos autores do estudo.
A quantidade de carbono removida (9,8 milhões de toneladas de CO2/ano) acumulada nos 20 anos representa uma remoção total de 196 milhões de toneladas de CO2, o que seria equivalente a plantar 1,4 bilhões de árvores, ocupando uma área superior a 1 milhão de campos de futebol, comparou o Agroicone.
O instituto de pesquisa lembrou ainda que a produção de bioenergia a partir da cana tem também papel fundamental para a descarbonização da matriz energética e de transportes.
Mas as mudanças de uso da terra comumente associadas ao cultivo da cana são um processo crítico para a sua sustentabilidade, e as estimativas até então realizadas indicavam, predominantemente, emissões de gases do efeito estufa associadas à produção, o que o estudo minimiza.
“A partir de um amplo conjunto de dados e uma série de refinamentos metodológicos, o estudo demonstrou uma contribuição relevante da cultura da cana-de-açúcar para remoções de carbono associadas ao uso da terra no Brasil”, destacou a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Nilza Ramos.
Segundo o condutor do estudo, sócio e pesquisador da Agroicone, Marcelo Moreira, “os resultados confirmam um conceito crescente de que podemos ter estocagem de carbono em sistemas de energia, notadamente quando a bioenergia é aplicada de maneira correta”.
Para realizar o trabalho, os pesquisadores analisaram 90,7% da área cultivada de cana no Brasil, que correspondem a 93% da produção nacional de açúcar e etanol.
Foram analisadas também as propriedades rurais com cultivo de cana na região Norte do país, que apesar de responderem por apenas 0,5% da produção nacional, são objeto constante de atenção internacional, disse o Agroicone.
Segundo Nilza Ramos, da Embrapa, foram utilizadas metodologias e fontes de dados que têm respaldo da comunidade científica internacional, como plataforma MapBiomas, Imaflora e Serviço Florestal Brasileiro.
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