O ano era 2015. A renda do casal Francielle Faria e Rafael Macedo, residentes de Brasília, estava apertada. Além do nascimento da filha, Macedo havia perdido o emprego de vendedor. Para completar o orçamento, eles decidiram ressuscitar uma ideia que não havia dado certo três anos antes: fazer cookies. Oito anos depois tornou-se a American Cookies, uma rede de franquias com mais de 50 lojas, avaliada em R$ 37 milhões.
O sucesso, porém, mascara as dificuldades anteriores. Em 2012, o casal havia comido o primeiro biscoito de origem americana e se apaixonado pelo sabor. O encanto foi tanto que eles contraíram um empréstimo bancário de R$ 50 mil, montaram um quiosque em um shopping e partiram para conquistar o mercado, acreditando em um sucesso instantâneo.
Seis meses, sem experiência empreendedora nem um plano de negócios definido, o quiosque havia falido. Restaram apenas as dívidas e a receita dos cookies, esquecida em uma gaveta.
Em 2015, a crise econômica falou mais alto. O casal precisava de um complemento financeiro com urgência e desengavetou a ideia de vender cookies. Com uma diferença importante: em bases bem mais modestas. “Voltamos com calma, vendendo para grupos de WhatsApp e conhecidos”, diz Faria.
Servidora pública na época, Faria preparava os cookies de noite, após chegar do trabalho. No dia seguinte, Macedo oferecia os produtos na frente do metrô, na rua e em lojas parceiras. Com isso, o casal obtinha uma renda extra média de R$ 5 mil por mês. “Seguimos em frente. Continuei com a jornada dupla de cozinhar de noite e o Rafael fazia as entregas como motoboy no outro dia. Lembro desse período como o mais cansativo de todos, para o corpo e a mente”, conta Faria.
Foram dois anos assim. Até que, em 2017, a American Cookies entrou para o mundo dos aplicativos, incipiente em Brasília naquele momento. Ainda assim, a explosão de pedidos surpreendeu o casal. O faturamento dobrou de R$ 6 mil para R$ 12 mil por mês. A linha de produção teve de migrar da cozinha do apartamento para um ambiente profissional.
O casal desembolsou R$ 50 mil para equipar uma cozinha por aluguel e profissionalizar o negócio. Francielle deixou o cargo como funcionária pública para entrar de vez na empreitada de empresária.
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Vamos franquear?
O quiosque que faliu em 2012 ressurgiu como um caso de sucesso em 2018. O faturamento médio mensal subiu para R$ 70 mil, com 80% dos pedidos recebidos via aplicativos. Naquele momento, a American Cookies já era conhecida em Brasília.
Faria conta que esse foi o maior desafio da empreitada. “Não é simples transformar um ‘bico’ em um negócio. Precisei de terapia para assimilar o que estava acontecendo. De ajuda profissional para aprender a lidar com a contabilidade e gestão do negócio. Nem eu, nem o Rafael esperávamos por isso. Foi tudo muito rápido”, diz a empresária.
O público não se interessava apenas pelos cookies recheados de vários sabores. Muitos começaram a perguntar se o negócio era uma franquia e como poderiam investir em um quiosque. Chegou ao ponto de uma consultoria de franchising buscar os fundadores para formalizar o negócio.
“A franqueadora chegou com a proposta e a lista começou: precisa ter mais lojas próprias, precisa ter uma fábrica, um modelo de logística para abastecimento, um padrão de preços e operação e a lista continua”, diz Faria, que afirma ter sido um novo período turbulento da jornada.
Com ajuda da franqueadora e de outras consultorias de gestão de negócios, o plano de expansão aconteceu. Em menos de um ano, no segundo semestre de 2019, a American Cookies já tinha cinco lojas próprias, uma fábrica e inaugurou a sua primeira franquia. Tudo em Brasília.
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Nem mesmo a pandemia freou os negócios. Em 2020, quando a empresa estava a pleno vapor com a inauguração de franquias, o crescimento foi de 400%. De menos de dez operações no início de 2020, o ano seguinte fechou com 36 lojas em cinco estados brasileiros, e um faturamento de R$ 20 milhões.
Ao fim de 2022, a empresa contava com mais de 50 lojas, entre franqueadas e próprias, e um faturamento de R$ 37 milhões. Mais de dez estados já possuem pelo menos uma loja, entre eles São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Santa Catarina e outros.
Força na crise
Até este momento, toda a jornada de Faria e Macedo, atualmente com 38 e 31 anos, foi custeada com recursos próprios e reinvestimento dos lucros. Neste ano, entretanto, o casal está em busca da primeira rodada de investimentos, com financiadores de franquias.
O objetivo é angariar R$ 15 milhões para patrocinar uma expansão mais agressiva na quantidade de quiosques. O ano passado fechou com 50 lojas. Este ano a meta é bater em 100, entre lojas próprias e franquias, e atingir um faturamento de R$ 76 milhões.
A ex-servidora pública conta que não busca apenas um apoio financeiro, mas também um patrocinador que ajude na jornada empreendedora. “Após cinco anos de trabalho, estamos preparados para esse desafio da expansão. Mas ainda assim buscamos esse apoio da experiência que é tão importante quanto o apoio financeiro”, diz Faria.
A fundadora não tem medo do cenário econômico difícil do país. Ela lembra que o negócio nasceu de um contexto difícil também. Segundo ela, hoje eles podem garantir o abastecimento dos produtos. Os cookies saem pré-prontos da fábrica em Brasília e são entregues por um serviço de logística próprio.
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